A 'Fiesta' que Hemingway viveu de perto
De súbito, a multidão entra na rua. Ernest Hemingway começa assim a descrever a corrida de touros em Pamplona, um dos pontos mais emocionantes e arriscados das Festas de São Firmino. "Vinham todos a correr apertados uns contar os outros. Passaram e subiram a rua em direcção à praça de touros. Atrás deles havia um pequeno espaço vago, e logo os touros, a galope, com as cabeças abaixo e acima. Tudo se sumiu ao virar da esquina. Um homem caiu, rebolou para a valeta e deixou-se estar quieto".
A festa abre a 6 e estende-se até ao dia 14 Julho. Todos anos é assim: os touros saem às ruas de Pamplona, Espanha, e há corajosos que os enfrentam ou, pelo menos, arriscam pisar o mesmo chão. Como se adivinha, a convivência entre animais acossados, aturdidos pelos gritos da multidão, e homens não podia ser pacífica. Há feridos, por vezes vítimas mortais. Desde 1922, 15 pessoas morreram, o último caso foi em 2009.
Talvez esteja no risco o fascínio do ritual, que Ernest Hemingway, no romance Fiesta, tornaria conhecido noutras partes do mundo. A corrida dos touros - o "encierro" - pelas ruas, num percurso de 800 metros, termina na Praça de Touros de Pamplona . Aí, a história é outra. Aí, na arena, são toureiros profissionais, trajados a rigor, que cansam, humilham, ferem de morte o animal exausto. Nem sempre: "Não olhes os cavalos depois de o touro os apanhar. Observa o avanço e vê o picador fazer por afastar o touro, mas não tornes a olhar antes de o cavalo estar morto, se o touro lhe marrar", aconselha Hemingway.