VIDA E MORTE E CONSTITUIÇÃO
O caso Eluana, a italiana que está há 17 anos em estado vegetativo, já evoluiu para um caso constitucional, porque o primeiro-ministro Berlusconi se apressou a fazer uma lei que, no fundo, quer reverter uma decisão do tribunal, o que só pode ser inconstitucional. O Presidente da República, Napolitano, já disse que a vai recusar.
"Berlusconi, desafio sobre a Constituição", diz ao alto o Corriere della Sera, porque o Governo quer que o Senado aprove a lei em tempo rápido. Mas Giulio Andretti, no La Stampa, está do lado do PR. O antigo primeiro-ministro e presidente da Democracia Cristã diz que "o Governo não se devia imiscuir num caso eminentemente privado". Como católico, diz que "a Igreja não fixa expressamente uma norma no seu próprio magistério e cada um deve resolver como crê".
"Venham ver a Eluana", é o apelo do pai Englaro ao Presidente e ao primeiro-ministro, como diz o La Repubblica. O caso chegou à capa do El País espanhol, onde o pai de Eluana diz que "manter a minha filha viva é pura violência", acrescentando que "a condenação a viver sem limites é pior do que uma condenação à morte".
Certo é que a decisão dos tribunais não é bem aceite por todos.
Ernesto Galli della Loggia discorda no Corriere porque aqueles se basearam em prova "indiciária apenas", na palavra dos pais e de alguns amigos de que, se lhe acontecesse algo do género, preferia morrer. Mas nunca houve nada escrito - Eluana tinha 18 anos quando teve o acidente - e Della Loggia diz que até 2006 os mesmos tribunais, com as mesmas provas, optaram por decisões ao contrário. Discorda ainda de que o Tribunal Supremo defenda na sentença que "a natureza deve seguir o seu curso". Ora, o que está a ser feito, na clínica La Quete em Udine, é privar Eluana de hidratação e alimentação. Della Loggia entende que isto é alterar o curso da natureza e defendia, isso sim, que lhe fossem sendo retirados os medicamentos, mantendo apenas a diminuição da dor, "inclinando-nos perante o caso e os desígnios imperscrutáveis de que dependem as nossas vidas".