Realojamento de famílias ciganas gera contestação

Paredes. Uma comunidade cigana com mais de cem pessoas vive em condição degradante. A câmara aposta no realojamento, mas a população da freguesia da Madalena contesta o projecto e recusa ter como vizinhos pessoas que "têm armas" e "dão tiros para o ar". Os ciganos garantem que são pacíficos e não percebem as queixas

Projecto prevê 20 moradias com largo comum

Há cerca de 20 anos que o conce- lho de Paredes tem uma comunidade cigana com mais de cem elementos a viver em barracas junto ao centro da cidade. Agora, o actual executivo municipal quer deslocalizá-los para a freguesia vizinha e instalá-los em 20 moradias projectadas de acordo com os seus costumes e tradições. Porém, a população da Madalena, localidade para onde a comunidade será transferida, mostra-se totalmente contra a chegada dos ciganos, alegando que a autarquia irá criar um gueto marcado pela presença de armas.

Os ciganos asseguram que são uma comunidade pacífica e temem que as casas novas sejam apenas mais uma promessa por cumprir.

A solução urbanística foi apresentada recentemente. Trata-se de um projecto que prevê a construção de 20 moradias num terreno com mais de quinze mil metros. "Serão habitações com uma tipologia adequada à família em causa. Ou seja, as casas serão de acordo com o número de filhos de cada casal até ao máximo de um T5", refere a vereadora da Acção Social, Raquel Moreira da Silva.

As moradias terão também um alpendre e estarão dispostas em forma de U, criando um espaço amplo e comum a todas as casas. "A comunidade cigana tem o hábito de realizar muitas festas. Por isso, o projecto contempla um largo que pode servir toda a comunidade", avança. O empreendimento camarário terá, igualmente, zonas ajardinadas, um parque infantil e um lavadouro público.

Algumas destas soluções foram propostas pelo Alto-Comissariado para as Minorias Étnicas, organismo que considerou o projecto de Paredes um exemplo de boas práticas a nível nacional. Mas se o Alto-Comissariado contribuiu para a definição do plano de realojamento, a própria comunidade cigana pouco ou nada participou. Pelo menos nas palavras de Manuel Santos, o primeiro cigano a instalar-se em Paredes. "Nunca ninguém nos perguntou como é que queríamos a casa", afirma.

Mesmo sem conhecer o que a câmara projectou, Manuel Santos fica satisfeito. "Só me preocupa que nos prometam uma casa nova e depois não a façam", declara o feirante de 43 anos e com 13 filhos e seis bisnetos.

Mais preocupados estão os habitantes da Madalena. Francisco Silva defende que a autarquia irá criar um gueto numa zona residencial. "Se os ciganos são uma comunidade óptima por que é que festejam a passagem de ano com tiros? De onde vêm essas armas?", questionou. Também Norberto Soares Ribeiro não está receptivo a ter os ciganos como vizinhos. "Não sou racista, mas várias pessoas investiram o dinheiro na Madalena e agora vão ficar prejudicadas", advoga.

O presidente da junta de freguesia apoia os moradores e só espera uma reunião com o presidente da Câmara para uma tomada de posição final.

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