Dois 'dossiers' ainda dividem Portugal e China 30 anos depois
Diplomacia. Normalização luso-chinesa aconteceu há três décadas
Acordo restabelecendo relações foi assinado em 8 de Fevereiro de 1979
Os laços bilaterais desenvolvidos nas últimas três décadas por Portugal e pela China atingiram um tal patamar de normalidade que apenas dois dossiers resolúveis no quadro da UE a perturbam: a concessão do estatuto de economia de mercado a Pequim e o embargo de armas.
Desde que Lisboa e Pequim assinaram a 8 de Fevereiro de 1979, em Paris e através dos embaixadores António Coimbra Martins e Han Kehua, o acordo que permitiu restabelecer as relações luso-chinesas, ambos os países foram construindo pontes estáveis nos domínios político, diplomático ou cultural, entre outros. Apenas a dimensão económica surge muito desequilibrada, a favor da China.
Portugal tem procurado mostrar-se à China como uma vantajosa porta de entrada nos mercados europeus e de África (em especial o mundo lusófono). As últimas visitas oficiais de líderes políticos portugueses à China caracterizaram-se mesmo pelo elevado número de figuras do meio empresarial presentes nessas comitivas.
Contudo, as potencialidades abertas nesse domínio pelo Fórum Macau, criado em 2003 por iniciativa do Governo chinês (através do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau) para intensificar a cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa, continuam por explorar, admitiram fontes diplomáticas ouvidas pelo DN.
As mesmas fontes observaram que a actual crise financeira e económica global tornará inviável um aumento das trocas comerciais e do investimento chinês em Portugal a curto e médio prazo.
Como assinalou uma dessas fontes, cerca de 20 milhões de chineses a trabalhar nas grandes cidades costeiras regressaram nos últimos meses às suas regiões rurais de origem, seis milhões delas saídas apenas da área de Cantão.
Apesar disso, o Acordo de Parceria Estratégica assinado pelas duas partes em Dezembro de 2005 - abrangendo, além do sector económico, os político, cultural, educativo, da saúde, ciência e tecnologia - deve permitir a Portugal manter-se "no radar da China".
2009 também é o ano em que se comemoram outras duas datas com importância histórica nas seculares relações entre os dois países: os 10 anos da devolução de Macau à China (1999) e os 500 anos do primeiro encontro, em Malaca (1509), que estabeleceu relações marítimas e comerciais entre portugueses e chineses.
Tanto o Presidente da República, Cavaco Silva, como o primeiro-ministro, José Sócrates, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, já enviaram mensagens aos seus homólogos do Império do Meio a propósito dos 30 anos do restabelecimento dos laços bilaterais, data que hoje se assinala.