Filme censurado ganha prémio
Cinema. Festival de Luanda terminou com polémica
Pode um governo impedir um filme de ser premiado? Não no Festival Internacional de Cinema de Luanda, que se realizou entre os dias 22 e 29 na capital angolana. A ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, decidiu afastar da competição o documentário Cuba, Uma Odisseia para Esquecer, acusando a sua realizadora, Jihan el Tahri, de tentar provar que a participação cubana foi fulcral na guerra contra a África do Sul. Mas, apesar da ordem do Governo, o júri do festival decidiu dar a este filme o prémio de Melhor Documentário.
O crítico de cinema Rui Pedro Tendinha, que acompanhou o festival, comentava na TSF que esta vitória é "capaz de provocar alguma polémica". A imprensa angolana, porém, não deu relevância ao assunto, limitando-se a anunciar os premiados na primeira edição do festival: Dois Dias para Esquecer, de Jean Becker, foi a Melhor Longa-Metragem; Corrente, do português Rodrigo Areia, a Melhor Curta; o Prémio Cidade de Luanda foi para Kiari, do angolano Mário Bastos; e Kunta, de Ângelo Torres, recebeu uma menção honrosa. O júri presidido pelo artista plástico António Olé contou ainda com a actriz portuguesa Leonor Silveira, Stejan Hundic, jornalista crítico croata, Rachid Ferchiou, cineasta da Tunísia, e o produtor nigeriano Madu Chikwendu.
Durante oito dias, o FIC Luanda exibiu 55 filmes angolanos e estrangeiros em salas emblemáticas da cidade. "Foi uma semana de cinema que Luanda abraçou com todo o seu amor", comentou o director do festival, Miguel Hurst, à Agência Angola Press. "Tivemos salas mais vazias, outras mais cheias, mas um dos grandes desafios era criar correntes de público e parece-me que se andou alguns passos para afrente." O responsável garantiu que o festival vai voltar em 2009 e encorajou todos os realizadores a apresentarem os seus trabalhos, sem medo: "É um festival muito aberto, generalista e para todo o mundo. Tenham coragem. Vamos trabalhar, vamos produzir e vamos aprender."|