Buraco negro na Via Láctea
Astronomia. A paciência compensou uma equipa de astrónomos alemães. Após 16 anos a observar o centro da Via Láctea, o grupo descobriu que ali se encontra um buraco negro supermaciço, o primeiro de que há provas directas. Tem massa de 4 milhões de sóis, o diâmetro do Sol e está bem longe da Terra, a 27 mil anos-luz
Objecto foi detectado pelo grande telescópio europeu no Chile
Astrónomos europeus confirmaram a existência de um buraco negro supermaciço no centro da nossa galáxia, a Via Láctea. O objecto tem massa equivalente a 4 milhões de vezes a do Sol e foi detectado pelo telescópio European Southern Observatory (ESO), no Chile.
Um buraco negro é um objecto cuja gravidade é tão intensa que nem a luz consegue escapar do seu interior. Esta nova descoberta tem implicações na compreensão da galáxia e na teoria da relatividade geral de Albert Einstein.
Este estudo conduzido por uma equipa alemã do Instituto Max Planck levou 16 anos a concluir (o tempo de uma das 28 estrelas estudadas completar uma órbita em torno do buraco negro, que não é visível). Mas os cientistas também puderam medir a distância exacta da nossa estrela para o centro da galáxia, calculando um valor de 27 mil anos-luz.
Segundo Reinhard Genzel, chefe da equipa de astrónomos que iniciou o estudo em 1992, "o centro [da Via Láctea] é um laboratório único, onde podemos estudar os processos fundamentais da gravidade, da dinâmica estelar e da formação de estrelas, e com um nível de detalhe que não será possível além da nossa galáxia".
Suspeitava-se da existência de um grande buraco negro no centro da Via Láctea, mas este estudo utilizou tecnologia inovadora para observar através da forte poeira da zona e conseguiu a primeira confirmação de um buraco negro supermaciço. Segundo explicou ao DN o investigador António Silva, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, "é a primeira evidência directa da existência destes objectos no universo". A densidade que corresponde a 4 milhões de vezes a massa do Sol "é uma das maiores que se conhece".
O buraco negro no centro da nossa galáxia deverá ocupar um diâmetro idêntico ao de uma pequena estrela. A gravidade é inimaginável. A Via Láctea tem apenas um buraco negro e a ciência discute se todas as galáxias têm um e qual a sua função. "A tendência é um por galáxia ou nenhum", disse o cosmólogo português.
Para explicar este objecto, António Silva recorreu ao exemplo de um funil muito aberto onde são atirados berlindes. Se estes (as estrelas) rodarem com grande velocidade darão várias voltas antes de caírem no buraco. "É pela velocidade a que rodam [as estrelas] que conseguimos calcular a força que as atrai", esclareceu o investigador português.