Revista 'Periférica' chega ao fim
Com uma grande dose de talento e de periferia, a Periférica prepara-se para fechar portas. Depois de ter surgido há mais de três anos, na periférica aldeia de Vilarelho, Trás- -os-Montes, a revista vai publicar a sua última edição em Janeiro de 2006.
No blogue da revista, os seus responsáveis referem que a revista exigia "talento, tempo, dedicação, atenção e treino - uma redacção em forma e altamente disponível. De todos os requisitos, apenas nos sobra o talento".
Na Primavera de 2002, a Periférica era lançada como uma revista trimestral, com Rui Ângelo Araújo e Fernando Gouveia à cabeça, apresentando um lema que marca o tom irónico e sarcástico das suas 14 edições "Uma aldeia periférica. Uma região periférica. Um país periférico. Uma revista pouco preocupada com isso". Os próprios definem-na quando incluem um link para a famosa New Yorker no seu site e dizem que se trata de "uma espécie de Periférica nova-iorquina, com ritmo semanal". Mas 14 edições depois, a Periférica vai encerrar. Vai, porque o último número é lançado em Janeiro. Na blogosfera, anunciam que vai acabar apenas em Janeiro, para que "a última edição não seja um presente bonacheirão do Pai Natal", preferindo ver o último número como "uma prenda de sábios de reis".
O director da revista, Rui Ângelo Pereira, disse ao DN que avançaram para a decisão de encerrar o projecto, "não por ser uma coisa chata, ou que não nos apetecesse fazer, mas porque exigia muito esforço em termos de tempo e dedicação. Decidimos acabar para a revista não declinar". E o factor económico não foi decisivo, porque "continuava a pagar- -se" e " a entidade que nos apoiava (o Grupo Desportivo e Cultural de Vilarelho), continua a apoiar-nos e está triste pelo fim da revista". Acrescenta ainda outra razão "tínhamos muito medo de um dia destes não estarmos à altura dela".
O professor universitário e escritor Fernando Ve-nâncio, que colaborou com a publicação de Trás-os- -Montes, diz não estranhar que a revista chegue ao fim. Porque "as coisas boas duram pouco" e a "Periférica estava a pedir este desenlace. Sempre avessa a concessões, ao jogo banal da sobrevivência, sempre dançando sobre a lâmina que vinha afiando, a excelente revista do Norte e de Toda a Parte, desafiou o destino e o destino não gostou". Para preparar o fim, Fernando Venâncio entende que a "magnífica plêiade" que escrevia a Periférica pode "despedir-se desprendidamente. Esse desprendimento vinha já desde o primeiro instante e era sério. Nós é que julgávamos que era parte da pilhéria e decidimos que connosco ninguém brincava. Temos hoje o que queríamos. Connosco ninguém mais brincará".