Guerra
28 março 2024 às 23h29
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Putin diz que não ataca países da NATO, mas bases com F-16 de Kiev serão um alvo

Além de pilotos treinados para voar os caças de fabrico norte-americano que foram prometidos pelos aliados, a Ucrânia precisa de pistas com capacidade para os receber.

A data para a entrega dos primeiros caças F-16 à Ucrânia ainda não é certa - especula-se que poderá ser em junho ou julho - mas o presidente russo, Vladimir Putin, está confiante de que isso não irá mudar nada no campo de batalha. E, apesar de rejeitar a ideia de que a Rússia poderá atacar qualquer país da NATO, avisa que as bases aéreas que forem usadas pelos F-16 ucranianos para atacar as forças russas serão um “alvo legítimo” para Moscovo.

“Se eles entregarem os F-16, e estão a falar disso e alegadamente a treinar os pilotos, penso que saberão melhor do que outros que isto não irá mudar a situação no campo de batalha”, disse Putin na quarta-feira, numa visita à base aérea de Tver, onde os pilotos de combate russos recebem formação. “E vamos destruir esses aviões tal como destruímos os tanques, os veículos blindados e outros equipamentos, incluindo sistemas de lançamento múltiplo de rockets”, referiu.

Mas o presidente russo não se ficou por aí. “Claro, se eles forem usados a partir de bases aéreas em terceiros países, tornam-se num alvo legítimo para nós, onde quer que estejam localizados”, avisou. “Os F-16 são capazes de transportar armas nucleares e também teremos de ter isso em consideração quando organizarmos as nossas operações de combate”, acrescentou.

Putin admite a possibilidade de atacar bases fora da Ucrânia onde estejam os caças fornecidos pelo Ocidente a Kiev, se estas forem usadas para o lançamento de ataques contra as forças russas. Isto apesar de rejeitar qualquer intenção de atacar os países da NATO. “Não temos qualquer intenção de agressão”, afirmou Putin. “A ideia de que atacaremos outro país, a Polónia, os Estados do Báltico ou os checos também estão a ser assustados, é um completo disparate. É uma palhaçada”, acrescentou.

Os EUA e os aliados têm avisado que a Rússia poderá virar-se para outros países se não for travada na Ucrânia. O próprio presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem usado esse argumento para pedir mais ajuda ao Ocidente, reiterando-o numa entrevista à estação norte-americana CBS divulgada ontem. “Neste momento, somos nós, depois o Cazaquistão, depois os Estados do Báltico, depois a Polónia, depois a Alemanha. Pelo menos metade da Alemanha”, disse, querendo pressionar o Congresso a libertar o apoio bloqueado a Kiev. “Esta agressão, e o exército de Putin, pode chegar à Europa e depois os cidadãos dos EUA, os soldados dos EUA, terão que proteger a Europa porque são membros da NATO”, acrescentou.

Há dois anos à espera

Desde a invasão russa, em fevereiro de 2022, que Kiev pede o envio dos caças F-16, de fabrico norte-americano. Mas os aliados mostraram-se reticentes, temendo que isso pudesse levar ao escalar do conflito - como também temeram em relação aos tanques ou mísseis de longo alcance, que acabaram entretanto por fornecer à Ucrânia.

Os F-16 já não serão agora tão relevantes como no início da guerra, uma vez que Moscovo já teve oportunidade de reforçar a sua capacidade de defesa, mas ainda podem ajudar. Só em agosto do ano passado é que os EUA (que precisam de autorizar qualquer reexportação destes aparelhos) deram luz verde para Dinamarca e Países Baixos entregarem os seus F-16 à Ucrânia. Outros países mostraram a mesma disponibilidade, tendo sido prometidos pelo menos 42.

Mas, até agora, nenhum foi entregue, sendo necessário ainda acabar a formação dos pilotos - os ucranianos voavam, até agora, em velhos MiG-29, Su-24 e Su-25, de fabrico soviético. E há outro problema para Kiev, que Putin tem bem ciente. Os F-16 necessitam de boas pistas de aterragem, além de hangares protegidos de eventuais ataques russos, não sendo certo se há alguma que cumpra os requisitos na Ucrânia. E, se houver, vão tornar-se rapidamente num alvo para os bombardeamentos das forças de Moscovo.

Esta quinta-feira, um caça Su-35 russo despenhou-se no mar ao largo da cidade de Sebastopol, na Crimeia. O piloto conseguiu ejetar-se e foi resgatado pelos socorristas a cerca de 200 metros da costa, não sendo ainda claro o que aconteceu. A informação foi avançada no Telegram pelo governador da região ilegalmente ocupada pela Rússia desde 2014, Mikhail Razvozhayev.

susana.f.salvador@dn.pt