Mobilidade urbana
30 janeiro 2024 às 07h57
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Cidades reagem a carros cada vez maiores e agravam estacionamento a SUV

Paris vai referendar a triplicação do custo do estacionamento aos SUV para 18 euros/hora, depois de Lyon e Tübingen, na Alemanha, já o terem feito. Também em fevereiro, o Parlamento Europeu votará limites à dimensão dos carros, que aumentam 1cm a cada dois anos.

Os futurólogos que imaginam as cidades de amanhã vaticinam, há muito tempo, mais espaço para pessoas e jardins e menos para os carros, que se tornarão mais raros, mais pequenos e menos poluentes. Mas o que a realidade mostra é algo diferente: os automóveis estão, afinal, a ocupar mais espaço. “A cada dois anos, os novos carros estão a crescer, em média, um centímetro”, sendo que entre 2018 e 2023 foram mais dois centímetros, revela um estudo da ONG Transport & Environment (T&E) publicado recentemente. E a mesma análise, que compara dados desde o ano 2000, prevê a manutenção desta tendência, alinhada com o contínuo aumento das vendas de SUV, com impactos negativos no espaço disponível nas cidades, na pegada carbónica e na fatalidade em caso de acidente.

É neste contexto que algumas cidades europeias como Lyon, em França, ou Tübingen, na Alemanha, já decidiram agravar o custo do estacionamento anual para esta classe de veículos. No primeiro caso, custa mais 15 euros por ano e mais 30 euros do que a um veículo elétrico. Já a cidade alemã cobra mais 50% em parques residenciais, desde 2022. E a própria associação de municípios germânicos defende a política de agravamento do custo do parqueamento com base no tamanho, significando que este deverá tornar-se uma tendência a curto prazo na Alemanha.

Dentro de dias, a 4 de fevereiro, será a vez de o Município de Paris referendar a triplicação do preço de estacionamento para os SUV e pick-ups de forma a fazê-los compensar o espaço extra que ocupam e a desincentivar o seu uso, que também acarreta mais poluição. O que está em cima da mesa é um valor de 18 euros por hora no centro de Paris e de 12 euros nas restantes áreas. A crer nos resultados de um inquérito recente sobre o assunto, em que 60% a 70% dos parisienses se mostram favoráveis àquela solução - se as receitas adicionais forem alocadas a uma mobilidade mais sustentável Paris será, muito provavelmente, a primeira capital europeia a liderar esta nova vaga.

E a capital portuguesa? “A Câmara Municipal de Lisboa não está neste momento a ponderar qualquer alteração nesta matéria”, disse ao DN o gabinete do vice-presidente com o pelouro da Mobilidade. Seja como for, o tema promete continuar na agenda europeia, pressionado por organizações ambientalistas e não só.

Parlamento Europeu quer rever lei

As organizações ambientalistas há muito que contestam o impacto negativo dos SUV, sobretudo pelas emissões de CO2 mais altas face aos veículos ligeiros. Esta posição inspirou, de resto, um movimento mundial de ativistas, os Tyre Extinguishers, que esvaziam os pneus destes veículos em sinal de protesto. Mas agora a guerra trava-se também no plano da área que ocupam, que é contrário ao espírito do novo urbanismo, apostado em recuperar espaço para as pessoas.

O problema destacado pela T&E é que na União Europeia, os veículos estão sujeitos aos mesmos limites máximos de largura de autocarros e carrinhas (2,55m). “Os carros têm aumentado de tamanho há décadas e isso continuará até se imporem restrições. Atualmente, a lei permite que os carros novos sejam tão largos como autocarros e carrinhas e o resultado disso tem sido grandes SUV e pick-ups  a ocupar os nossos passeios e pondo peões e ciclistas em risco”, considera James Nix, o responsável pela Política de Veículos da T&E, citado no site da organização.

Além disso, as estatísticas da sinistralidade indicam que um aumento de 10cm na altura dos para-choques aumenta em 30% o risco de fatalidade em acidentes com peões e ciclistas.

A legislação comunitária sobre o setor automóvel deverá ser revista nos próximos meses e espera-se que o Parlamento Europeu vote, já na segunda semana de fevereiro, uma emenda à diretiva sobre peso e dimensão de veículos, que mandatará a Comissão a fixar novos limites.

Segundo o estudo da T&E “cerca de metade dos novos carros vendidos já são demasiado volumosos para os espaços mínimos reservados ao estacionamento urbano em muitas cidades, como Londres, Paris ou Roma”. A dimensão média dos carros novos passou de 177,8cm, em 2018, para 180,3cm até Julho de 2023, ou seja, mais dois centímetros.

Se os espaços de estacionamento já são apertados para os carros médios (1,80m), os novos SUV de luxo já não cabem, pura e simplesmente, pois medem 2,00m, em média, deixando muito pouco espaço para os ocupantes entrarem e saírem dos espaços típicos de estacionamento, refere a nota que acompanha o estudo.

A tendência confirma-se com alguns exemplos: o Land Rover Defender cresceu 20,6cm e o MercedesX5 alongou 6cm em seis anos, enquanto o Volvo EX90 ficou 4,1cm mais largo.