Pesca
14 fevereiro 2024 às 08h17
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Noruega reduz capturas de bacalhau em 2024 e 2025

A território nacional chegaram mais de 161 mil toneladas de bacalhau no ano passado, número que tem vindo a decrescer desde 2022. Disponibilidade da espécie também preocupa, com quebras nas quotas até 25% previstas para este ano.

Nascido e criado nas águas geladas do mar da Noruega, o bacalhau, fresco, congelado ou salgado, viaja em barcos pelo Atlântico até atracar na costa portuguesa, onde muitos o consideram um “fiel amigo”. Em terras lusas, onde o consumo per capita desse peixe é o mais elevado do mundo - cerca de seis mil quilogramas por habitante, que equivalem a 60 mil toneladas por ano -, importaram-se 396 milhões de euros de bacalhau da Noruega em 2023, revelou ao DN/Dinheiro Vivo o Norwegian Seafood Council (NSC), estrutura estatal que gere a comunicação da indústria norueguesa do pescado, à margem do seminário O Futuro do Bacalhau, na última semana, em Lisboa.

Com o propósito de debater os indicadores da indústria, os seus desafios e os próximos passos para garantir a sustentabilidade da espécie, a conferência contou com a presença da ministra norueguesa das Pescas e do Mar, Cecilie Myrseth, que reafirmou ao DN/DV a “grande importância da relação entre os dois países, e de Portugal enquanto consumidor de bacalhau em larga escala”.

A Noruega, o maior exportador de bacalhau do mundo, com distribuição em diversos mercados, arrecadou o ano passado um valor total de exportações desse peixe de 1100 milhões de euros, nos quais Portugal tem um peso expressivo. De facto, em 2023, Portugal importou 36% de bacalhau, o equivalente a 396 milhões de euros, o que se traduziu na receção de 161 777 toneladas do “fiel amigo”. Embora se trate de uma quantidade significativa, chegaram a território nacional menos 28 419 toneladas face a 2022, ano em que tinham sido registadas 190 196 toneladas.

Naturalmente, a crise pandémica não pôde deixar de ser referida como fator crucial para essa redução, no entanto, e apesar das (apenas) 172 089 toneladas recebidas em 2020, o ano de 2021 mostrou sinais de recuperação, contabilizando 198 346 toneladas. Diminuídos os efeitos da pandemia, o que justifica então as quebras dos últimos dois anos? Além da crise gerada pela inflação e consequente aumento do custo de vida, a quantidade de bacalhau disponível começa a ser um problema.

Futuro do bacalhau

Postos os dados em cima da mesa, o que reserva o futuro ao bacalhau? De acordo com a ministra norueguesa responsável pela pasta das Pescas e do Mar, as quotas “têm vindo a baixar” desde o ano passado: “Vamos ter menos quotas este ano. A previsão é de que baixem novamente, entre os 20% e os 25%, e que o mesmo aconteça no próximo ano”, disse ao DN/DV à margem do seminário.

Ainda que a Noruega seja conhecida pelas suas práticas e políticas sustentáveis no que à pesca diz respeito, e além da “renovação de gerações” da espécie, as alterações climáticas têm colocado obstáculos ao natural funcionamento dos ecossistemas. O aumento das temperaturas ao nível global está a impactar a quantidade disponível de peixe, tendo levado as populações de bacalhau a migrar para águas ainda mais frias. A maior frequência de fortes tempestades, devido à instabilidade do clima, acabam também por impedir os pescadores de sair para o mar.

O analista Eivind Brækkan, do NSC, expressou uma perspetiva semelhante à apresentada pela ministra, referindo que a crise provocada pelos elevados níveis de inflação e consequente aumento do custo de vida teve “um impacto especialmente duro” no setor em 2023, particularmente na comercialização do bacalhau congelado, que teve preços mais baixos.

“O crescimento do setor das Pescas é difícil, porque temos sempre uma quota que determina a quantidade que podemos capturar. Haverá menos bacalhau em 2024 e 2025, mas esperamos que nos anos seguintes volte a aumentar”, explicou.

Apesar da expectável diminuição de quantidades, Trond Rismo, representante em Portugal do NSC, mantém-se otimista face ao mercado nacional, embora admita o provável aumento do preço do bacalhau ao longo de 2024. “O consumo per capita vai diminuir um pouco. As pessoas vão comer um pouco menos devido aos preços mais altos, mas acreditamos que Portugal é um mercado forte e que manterá, ainda assim, altos níveis de consumo.”

geral@dinheirovivo.pt

Tópicos: Economia, Dinheiro