Guerra
24 abril 2024 às 00h23
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Tensão sobe em universidades dos EUA devido a protestos pró-Gaza

Columbia tem um acampamento de alunos pró-palestinianos desde a semana passada e na segunda-feira mais de cem estudantes foram detidos na Universidade de Nova Iorque.

As tensões aumentaram entre estudantes pró-palestinianos e administradores escolares em várias universidades dos Estados Unidos na segunda-feira, levando ao cancelamento de aulas presenciais e à detenção de mais de uma centena de manifestantes. Esta vaga de protestos começou na semana passada na Universidade de Columbia, em Nova Iorque - quando um grande grupo de manifestantes estabeleceu o chamado “Acampamento de Solidariedade de Gaza” nas dependências da escola - e rapidamente se espalhou por outros estabelecimentos de ensino superior, incluindo Yale, MIT e outros. Ainda na segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos disse condenar “os protestos antissemitas”, acrescentando que “também condeno aqueles que não entendem o que está a acontecer com os palestinianos”.

Os protestos estão a colocar os estudantes uns contra os outros, com os alunos pró-palestinianos a exigirem que as universidades que frequentam condenem as ações de Israel em Gaza e a desligarem-se de empresas que vendem armas a Telavive, enquanto alguns estudantes judeus relatam episódios de intimidação e antissemitismo durante os protestos. 

As aulas em Columbia passaram de presenciais a online na segunda-feira, com a presidente da universidade, Nemat Shafik, a pedir uma “reinicialização” numa carta aberta à comunidade escolar. “Nos últimos dias, houve muitos exemplos de comportamento intimidador e de assédio em nosso campus”, escreveu. “A linguagem antissemita, como qualquer outra linguagem usada para ferir e assustar as pessoas, é inaceitável e serão tomadas medidas apropriadas. Para diminuir o rancor e dar a todos nós a hipótese de considerar os próximos passos, anuncio que todas as aulas serão ministradas virtualmente na segunda-feira”, acrescentou.

Shafik testemunhou na última quarta-feira no Congresso, tendo sido atacada por vários republicanos que a acusaram de não estar a fazer o suficiente para combater o antissemitismo. Em dezembro, audições semelhantes perante os congressistas levaram à demissão das presidentes das universidades de Harvard e da Pensilvânia. 

Na semana passada, mais de 100 manifestantes foram detidos depois de a direção da universidade ter decidido chamar a polícia ao campus de Columbia na quinta-feira, uma medida que aparentemente aumentou as tensões e provocou uma maior participação no fim de semana. 

Mimi Elias, uma estudante de Ação Social que foi detida, garantia na segunda-feira que iam “ficar até que falem connosco e ouçam as nossas exigências”. “Não queremos antissemitismo ou islamofobia. Estamos aqui pela libertação de todos”, acrescentou. Na opinião de Joseph Howley, professor associado em Columbia, a universidade recorreu à “ferramenta errada” ao envolver a polícia, o que atraiu “elementos mais radicais que não fazem parte dos nossos protestos estudantis”. “Não se pode combater o preconceito e as as divergências comunitárias através do disciplinamento e punição”, acrescentou.

Comportamento perturbador

Imagens publicadas nas redes sociais na noite de segunda-feira pareciam mostrar estudantes judeus pró-palestinianos realizando refeições tradicionais do Seder [jantar que os judeus comem na Páscoa] nas áreas de protesto em várias universidades, inclusive em Columbia.
Também em Nova Iorque, mais concretamente num acampamento na NYU, 133 pessoas foram detidas durante a noite de segunda-feira na sequência de protestos pró-palestinianos no campus, depois de a direção da escola ter chamado as autoridades. 

Um porta-voz da Universidade de Nova Iorque explicou que a decisão de chamar a polícia foi tomada depois de outros manifestantes, muitos dos quais não se pensava serem afiliados à NYU, violarem repentinamente as barreiras erguidas ao redor do acampamento. O que “mudou drasticamente” a situação, prosseguiu a mesma fonte, citando “comportamento desordenado, perturbador e antagonista”, juntamente com “cânticos intimidados e vários incidentes antissemitas”. 

“Dado o que precede e as questões de segurança levantadas pela violação, pedimos ajuda à Polícia de Nova Iorque. A polícia instou os que estavam na praça a saírem pacificamente, mas acabaram por efetuar várias detenções”, prosseguiu o porta-voz da NYU, garantindo que a escola continua a apoiar a liberdade de expressão e a segurança dos alunos.

Há registos também de manifestações no MIT, na Universidade de Michigan e em Yale, onde pelo menos 47 pessoas foram detidas na segunda-feira após recusarem pedidos de dispersão. “A universidade tomou a decisão de prender os indivíduos que não queriam sair da praça tendo em mente a segurança de toda a comunidade de Yale”, afirmou a universidade da Ivy League em comunicado.

Em Harvard, as autoridades universitárias suspenderam na segunda-feira o Comité de Solidariedade Palestina, segundo informou o grupo estudantil, adiantando que foram obrigados a “cessar todas as atividades” pelo resto do mandato, ou correriam o risco de expulsão permanente após realizarem uma manifestação não autorizada na semana passada.

ana.meireles@dn.pt