Para o universo portista é quase impossível imaginar um FC Porto sem Jorge Nuno Pinto da Costa. Presidente desde que sucedeu a Américo de Sá a 17 de abril 1982, teve apenas três opositores nas urnas em 42 anos: Martins Soares (1988 e 1991), José Fernando Rio e Nuno Lobo (2020). Os troféus ganhos fizeram dele o líder mais titulado do Mundo e sempre foram o seu maior trunfo e uma força de bloqueio a quem sequer pensava ir contra as ideias dele. O cenário financeiro-desportivo menos risonho dos últimos anos elevaram a contestação e André Villas-Boas, outrora discípulo desejado, tornou-se um opositor sério a um 16.º mandato seguido.
Os 68,65% de votos recolhidos há quatro anos - face a José Fernando Rio (26,44%) e Nuno Lobo (4,91%) - determinaram a percentagem mais baixa em 15 atos eleitorais e colocaram-no na mira dos contestatários. Pinto da Costa (lista A) foi inclusivamente obrigado a fazer campanha eleitoral e sacar de (supostos) trunfos - “atos de desespero de quem não quer sair da cadeira do poder” segundo Villas-Boas.
A começar pelos anúncios do fim do pagamento de prémios aos administradores da SAD e da renovação com o treinador Sérgio Conceição, confirmada esta quinta-feira. Na verdade tudo (ou quase) na lista do Todos pelo Porto é sinal de mudança. Com 2586 troféus obtidos em 21 modalidades, 68 dos quais no futebol, Pinto da Costa sempre torceu o nariz às apostas no futsal e no futebol feminino, que desta vez são bandeiras eleitorais.
Contestado em toda a linha - gestão desportiva, financeira e infraestrutural - o atual líder portista revolucionou a equipa diretiva para um novo mandato. Mudou cinco nomes, afastando os polémicos Adelino Caldeira e Fernando Gomes e manteve apenas Vítor Baía, acrescentando António Oliveira, nome consensual no universo portista, e ainda João Rafael Koehler, Marta Massada, Vítor Hugo e Nuno Cerejeira Namora. Lourenço Pinto para a Mesa da Assembleia Geral e Ricardo Valente para o Conselho Fiscal e Disciplinar são as outras apostas de Pinto da Costa, o sócio número 587.
A aposta no empresário João Rafael Koehler para o pelouro financeiro pretendia ser bandeira de transparência e boa governança, sustentabilidade e crescimento financeiro, mas tem sido mais uma pedra no sapato que um trunfo. O anunciado negócio do naming do Estádio do Dragão revelado há dias é uma medida impactante e implica a exploração comercial do recinto a 25 anos pela Ithaka a troco de 65 milhões de euros. O acordo pode ser denunciado até ao dia 1 de julho, mas não deixou de causar polémica e ser reflexo do desenfreado anúncio de medidas por parte do atual líder, que também mostrou o terreno onde irá nascer a Academia da Maia (ainda sem projeto edificado).
O passivo de 522 milhões de euros é difícil de explicar, mas o presidente portista promete um refinanciamento do passivo em 250 milhões e a estabilização financeira em dois anos, graças à já efetivada antecipação de 54,3 milhões em receitas audiovisuais.