Imobiliário
24 abril 2024 às 07h47
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Estrangeiros pagam 65% mais pelas casas do que os portugueses

Preço mediano da habitação cresceu 8,6% em 2023 para 1611 euros por metro quadrado. Grande Lisboa tem o valor mais alto (2740 euros), o Alentejo o mais baixo (803 euros).

O preço mediano dos alojamentos familiares vendidos em Portugal foi de 1611 euros por metro quadrado em 2023, um aumento de 8,6% face ao ano anterior. A Grande Lisboa, com 2740 euros por metro quadrado liderou, em termos de sub-regiões, enquanto o Alentejo ficou na ponta oposta, com um  valor mediano de 803 euros. Acima da média nacional, além de Lisboa, estão Algarve (2613 euros/m2), Península de Setúbal (1901 euros/m2), Madeira (889 euros/m2) e Área Metropolitana do Porto (1800 euros/m2). Os dados são do Instituto Nacional de Estatística e mostram que, na Grande Lisboa e no Grande Porto, o preço mediano das transações efetuadas por compradores estrangeiros superou em 65% e 69,8%, respetivamente, o preço pago por compradores portugueses.

Especifica o INE que cinco das seis sub-regiões com preços medianos da habitação mais elevados apresentaram também os valores mais altos envolvendo compradores com domicílio fiscal no estrangeiro e em território nacional: Grande Lisboa (4415 euros/m2 e  2675 euros/m2, respetivamente), Algarve (3110 euros/m2 e 2487euros/m2), Área Metropolitana do Porto (2973 euros/m2 e 1751 euros/m2), Região Autónoma da Madeira (2598 euros/m2 e 1821euros/m2) e Península de Setúbal (2318 euros/m2 e 1940/m2).

Números que não surpreendem a Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária (APEMIP), cujo presidente lembra que grande parte dos estrangeiros procura soluções imobiliárias de segmentos de valor mais elevado.

“Estamos a falar de níveis económicos significativamente distintos quando comparamos os rendimentos de um português com o de cidadãos americanos ou outros”, refere Paulo Caiado.

Nega, no entanto, que isso sirva para inflacionar o preço da habitação em Portugal. “Que possa haver uma pressão sobre o preço dos imóveis de valor mais elevado, admitimos que sim, agora que daí resulte um contágio generalizado, não”, considera.

Os dados do INE mostram ainda que, no último trimestre do ano, se assistiu a uma desaceleração nos preços da habitação em 18 dos 24 municípios com mais de 100 mil habitantes.

O Município do Porto registou um decréscimo de 11,9 pontos percentuais e o de Lisboa de 5,7 pontos.

Em sentido oposto, houve um aumento da taxa de variação homóloga em seis municípios, com destaque para a Maia (subiu 7,8 pontos percentuais) e para Vila Nova de Famalicão (mais 6,5 pontos percentuais).

Os municípios de Cascais (4176 euros/m2), Lisboa (4086 euros/m2) e Oeiras (3096 euros/m2) apresentaram os preços mais elevados.

A associação dos promotores imobiliários lembra que os concelhos mais populosos são aqueles onde os preços das casas estão mais altos, considerando “previsível”que começassem a registar “uma maior contenção na subida”.

Do ponto de vista do negócio, Paulo Caiado mostra-se convicto de que 2024  será um bom ano para o setor. “O INE deu já a conhecer os dados do primeiro trimestre no que ao número de transações diz respeito, números que mostram um crescimento de 4,5%, o que é um bom indicador”, refere, acrescentando que a previsível descida das taxas de juro e a redução na inflação são também “boas notícias” e que permitem antecipar “boas perspetivas” para este ano.

Quanto à descida dos preços, a APEMIP considera que só acontecerá quando, do ponto de vista estrutural, houver medidas que “apoiem o incremento da oferta [de habitação] direcionada aos segmentos de valor mais baixo”, a par do prometido apoio do Governo à aquisição de casa própria por parte dos mais jovens.

Já no que se refere à descida do IVA para 6% na construção de habitação, Paulo Caiado assume que a medida é bem vista se essa redução for utilizada para posicionar a oferta em segmentos de valor mais baixo.

“Até vou mais longe: por que não uma total isenção fiscal? O Estado tem de pegar em toda a estrutura fiscal disponível e usá-la na criação de soluções de habitação mais acessível”, sublinha.

Refira-se que os dados do INE mostraram ainda que, no último trimestre do ano, os 24 municípios com mais de 100 mil habitantes registaram preços medianos de alojamentos novos superiores aos dos  existentes. Barcelos registou o menor preço mediano nas casas novas (1221 euros/m2) e a menor diferença entre o preço de alojamentos novos e existentes (104 euros/ m2).

Já Lisboa registou o maior diferencial entre os preços de alojamentos novos (5172 euros/m2) e os existentes (3950 euros/m2), num total de 1222 euros/m2.

ilidia.pinto@dinheirovivo.pt