Sondagem
19 abril 2024 às 12h18
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65% elegem o 25 de abril como a data mais importante da História de Portugal

No estudo "Os Portugueses e o 25 de Abril", foram as mulheres os inquiridos com mais de 44 anos e os que vivem com maiores dificuldades que revelaram maior propensão para escolher esta data como a mais importante.

O 25 de Abril de 1974 é o facto mais importante da História de Portugal para 65% dos inquiridos numa sondagem divulgada esta sexta-feira, que revela um aumento desta opinião face a inquéritos anteriores.

Em 2004 foi também esta a escolha de 52% dos inquiridos e de 59% da amostra no inquérito de 2014, face a outras datas propostas, como a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1985, a implantação da República (1910), a restauração da independência em 1640, a Batalha de Aljubarrota (1385) e a chegada de Vasco da Gama à Índia (1498).

No estudo "Os Portugueses e o 25 de Abril", foram as mulheres os inquiridos com mais de 44 anos e os que vivem com maiores dificuldades que revelaram maior propensão para escolher esta data como a mais importante.

"Os inquiridos que afirmaram simpatizar com o PS tendem a selecionar o 25 de Abril de 1974 mais frequentemente do que os que disseram simpatizar com o PSD ou com o Chega", lê-se no documento que contém os resultados do estudo, desenvolvido por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e do ISCTE -- Instituto Universitário de Lisboa, coordenada por Pedro Magalhães, em parceria com a Comissão Comemorativa dos 50 Anos do 25 de Abril.

As mudanças na sociedade portuguesa são assinaladas pela maioria dos inquiridos, com apenas um por cento a considerar que "nada mudou".

59% defende que responsáveis do antigo regime deviam ter sido julgados

A maioria dos inquiridos (59%) no estudo intitulado "Os Portugueses e o 25 de abril" considera que os responsáveis políticos do antigo regime deveriam ter sido julgados pelos atos de repressão cometidos durante a ditadura, opinião que tem vindo a aumentar ao longo do tempo.

A conclusão é da equipa que realizou uma sondagem hoje divulgada esta sexta-feira pela Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril, na qual se reproduzem questões colocadas em estudos idênticos realizados em 2004 e em 2014.

No caso dos funcionários da PIDE/DGS, a polícia política, o sentimento de que não foi feita justiça também aumentou nos últimos 10 anos. Em 2014, esta opinião foi expressa por 45% dos inquiridos, mas no atual inquérito foi assumida por 64%, um aumento de 19 pontos percentuais.

O trabalho, desenvolvido por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, mostra que apenas um em cada cinco inquiridos considera que o regime político que existia antes do 25 de Abril de 1974 teve "mais coisas positivas do que negativas".

Quanto mais elevado é o nível de instrução, maior a propensão para se considerar que o regime anterior tinha mais de negativo do que de positivo.

Relativamente à questão "como devia passar à história o 25 de Abril?", mais de metade defende consequências mais positivas do que negativas, mas observa-se "um aumento gradual" da proporção de inquiridos que considera que teve consequências tão positivas como negativas, "ideia partilhada atualmente por cerca de um terço dos inquiridos", sublinham os autores do trabalho, coordenado por Pedro Magalhães.

O grupo que tem uma visão predominante negativa das consequências do 25 de Abril mantém-se nos 10% desde 2014.

"As mulheres, os idosos, os menos escolarizados e os que reportam dificuldades em viver com o rendimento do agregado familiar são ligeiramente menos propensos a achar que os portugueses se devem orgulhar do modo como ocorreu a transição para a democracia", lê-se no relatório da sondagem "Os Portugueses e o 25 de Abril".

As figuras públicas mais mencionadas quando se fala em 25 de Abril são António de Oliveira Salazar (16%) e Salgueiro Maia (15%), seguidos por Mário Soares e Otelo Saraiva de Carvalho (9% cada) e de Ramalho Eanes (6%).

António de Spínola e Marcello Caetano recolhem, cada um, 4% das respostas espontâneas, Francisco Sá Carneiro 3% e Álvaro Cunhal e Zeca Afonso 2%.

Quase metade dos inquiridos (48%) não considera que exista um partido político que represente hoje o 25 de Abril mais do que qualquer outro.

O PS e o PCP são os partidos mais mencionados, com taxas de referência de 14%, cada. Os restantes partidos apresentam "níveis residuais" de associação.

A esta questão não responderam 17% dos inquiridos para a sondagem.

Sondagem revela insatisfação com desigualdades e corrupção

As desigualdades sociais e entre regiões levam metade dos inquiridos numa sondagem hoje divulgada a considerar que Portugal está igual ou pior do que antes do 25 de Abril de 1974.

Em termos de corrupção e criminalidade/segurança, dois terços dos inquiridos entendem que a situação é hoje pior do que antes do 25 de Abril, de acordo com o estudo "Os Portugueses e o 25 de Abril".

Em metade das áreas em análise, a maioria dos inquiridos considera que a situação é hoje melhor, caso da assistência médica (74%), do nível de vida em geral (71%), da segurança social (68%), da situação económica (62%), da proteção do ambiente (60%) e da convivência social e civismo (57%).

Porém, as respostas refletem as condições sociais e económicas em que os estudos são produzidos. No presente inquérito, a "exceção mais clara" às melhorias identificadas é a questão da habitação.

"De facto, enquanto 61% detetavam melhorias em 2004 - valor que aumentou para 74% em 2014 -, em 2024 já só 47% consideram que neste âmbito as coisas melhoraram desde o 25 de Abril", notam os autores do trabalho, coordenado por Pedro Magalhães.

A maioria dos inquiridos (56%) considera que Portugal deve celebrar o 25 de Abril, mas também o 25 de Novembro, que marcou o fim do chamado Processo Revolucionário em Curso (PREC).

Cerca de um terço defende apenas a celebração do 25 de Abril.

A maioria dos inquiridos (57%) manifesta-se "muito" ou "razoavelmente satisfeita" com a forma como funciona a democracia em Portugal, o "valor mais elevado" obtido nos três estudos comparativos (2004, 2014 e 2024).

A satisfação é "tendencialmente menor" entre os inquiridos que se posicionam à direita ou ao centro, do que entre os que se declaram de esquerda. Entre o grupo de simpatizantes com o Chega, "a expressão de satisfação é minoritária".

Entre os inquiridos, 44% reportaram que Portugal é uma democracia com "muitos defeitos".

Mas a grande maioria (67%) considera Portugal tão democrático como os restantes países europeus. Os simpatizantes com o Chega expressaram mais a ideia de que em Portugal o regime é "menos democrático do que os outros", face aos simpatizantes do PS e do PSD e aos que não manifestam simpatia partidária.