Quase um quarto dos senhorios está confrontado com o incumprimento do pagamento de rendas dos seus inquilinos, indicam os dados do Barómetro da Associação Lisbonense de Proprietários - ALP. Em causa estão 23,6% dos inquiridos, o que leva a associação a sublinhar que este é um fenómeno que se tem mantido “sustentadamente alto” ao longo das sete edições deste inquérito.
“A maior alteração face às seis últimas edições é o facto de a fatia de senhorios que têm mais de seis meses de incumprimento de rendas liderar globalmente junto daqueles que estão a suportar perdas. São, nesta amostra, 30,3% dos proprietários que têm rendas em atraso”, indica a associação em comunicado, dando conta que “aqueles que acumulam perdas de dois a três meses de rendimento representam 28% das respostas”.
Apesar deste agravar do problema, só 48,7% dos senhorios em causa pondera avançar com o despejo dos inquilinos, sendo que a maior parte considera que tal “será [um processo] demorado e terá mais custos do que o valor que está em dívida pelos inquilinos”.
Para 18% dos proprietários, “a resolução passa sempre pela via extrajudicial”, mas há 15,6% que mostram “compreensão pela situação económica e social que atravessam os arrendatários”. Destaque, ainda, para 17% da amostra que “acredita que a justiça favorece sempre os inquilinos, mesmo em casos de flagrante incumprimento” e para os 4% dos senhorios que dizem “não ter meios para aceder à justiça”.
Nesta sétima edição do Barómetro “Confiança dos Proprietários” da ALP, que auscultou 525 senhorios entre 14 e 22 de março, ficamos a saber que um em cada cinco (21,4% dos inquiridos, para ser mais exato) não procedeu à atualização anual de renda de 2024 pelo coeficiente legal de 6,94%. “Se é verdade que cerca de um terço dos respondentes não o fez porque tem contratualizado por mútuo acordo outro coeficiente anual no contrato de arrendamento, há a destacar os 14% de inquiridos que responderam ter preferido atualizar a renda noutro valor percentual, por entenderem que o coeficiente apurado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) para 2024 poderia colocar os seus inquilinos em incumprimento”, justificam.
Dos senhorios que participaram no inquérito, 10% indicam que mantiveram a renda inalterada “por considerar que qualquer aumento que fosse seria incomportável para os agregados de arrendatários” e há ainda 9% que dizem não terem mexido nas rendas “por terem atualmente um rendimento que lhes permite ter uma vida confortável, sem necessidade de retirar poder de compra aos inquilinos”.
A ALP destaca a “falta de confiança no mercado de arrendamento ao longo do ano passado, muito marcado pela instabilidade provocada pelo pacote “Mais Habitação””, com 9% dos inquiridos a darem conta que venderam imóveis que estavam afetos ao arrendamento tradicional e mais 6% que transferiram imóveis que estavam colocados no arrendamento tradicional para o arrendamento de curta duração.
“Metade dos respondentes acham que o imobiliário e arrendamento é um mercado com margens cada vez menos atrativas. Uma larga fatia de proprietários (43%) considera que o imobiliário e arrendamento são mercados burocráticos e difíceis de entender. Para 29%, é um investimento que exige custos operacionais excessivos, mas ainda assim, para quase um quarto dos respondentes (24%), é um mercado rentável e seguro para investir”, pode ler-se no comunicado da ALP. Só 2% dos senhorios inquiridos celebraram contratos ao abrigo dos programas de arrendamento acessível ou do Programa “Arrendar para Subarrendar”, criado no âmbito do pacote “Mais Habitação”.
E quem é senhorio em Portugal? É uma ‘profissão’ envelhecida, mostra o barómetro, que indica que sensivelmente metade da amostra (48,2%) pertence à terceira idade, com mais de 65 anos, sendo que 33,9% tem mesmo entre 65 e 75 anos. Há apenas 1% de jovens proprietários com idade até aos 34 anos.
Mais de metade dos inquiridos (51,4%) revela ser dono de até cinco imóveis e mais de dois terços da amostra (76,4%) até dez. A maioria (93%) tem os imóveis colocados no mercado de arrendamento tradicional, 11% diz ter as casas em arrendamento de curta duração e 7,6% revela ter os imóveis alocados a arrendamento a estudantes. O barómetro da ALP revela ainda que “mais de metade dos senhorios auferem pelos imóveis que têm colocados no mercado, até três salários mínimos nacionais brutos (2460 euros)”.
“Este valor mantém-se totalmente estável ao longo das sete edições do barómetro. Os senhorios pertencem à classe média baixa. Pelos critérios de transição das rendas anteriores a 1990 para o NRAU teriam carência económica. Muitos dos nossos associados passam grandes dificuldades financeiras pois suportam rendas congeladas muito baixas”, sublinha ao DN/Dinheiro Vivo Diana Ralha, diretora da ALP (ver entrevista ao lado)
Dos inquiridos para o barómetro, 56,4% revelaram ter contratos de arrendamento anteriores a 1990, ou seja, as chamadas rendas congeladas. E mais de metade destes recebem entre 50 e 100 euros de renda.