Destruição de emprego jovem dura há quase um ano, pior ciclo desde o tempo da pandemia
O emprego total da economia portuguesa voltou a bater um novo máximo histórico em setembro (valores provisórios), ultrapassando pela primeira vez a marca dos 5,1 milhões de pessoas empregadas, mas os jovens estão a ficar cada vez mais para trás: o emprego total pode ter aumentado 1,6% em setembro face a igual mês do ano passado, mas entre os mais novos (trabalhadores com menos de 25 anos) registou-se uma destruição de emprego de 1,3% no mesmo período, segundo dados oficiais ontem, quarta-feira, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Para os jovens em Portugal, trata-se do pior ciclo de razia no emprego desde os piores tempos da pandemia pois já dura há 11 meses consecutivos, mostra o INE. É preciso recuar aos anos 2020 e 2021 para encontrar um período mais longo de destruição de postos de trabalho no universo de pessoas com menos de 25 anos.
Segundo cálculos do DN, no ano que termina em setembro, Portugal ganhou um total de mais 81 mil postos de trabalho, uma exuberância que contrasta com a redução de quatro mil empregos entre os mais jovens.
Só para se ter uma ideia de grandeza desta drenagem de emprego jovem, antes da grande crise financeira que rebentou no final de 2008, havia mais 110 mil jovens a trabalhar em Portugal.
Desde então, o envelhecimento da população agravou-se ainda mais, nasceram menos pessoas, o que pode ajudar a explicar parte do desaparecimento dos jovens. Sendo verdade ainda que muitos deles podem não constar na estatística do emprego pois podem ter saído do país (emigrado) ou então a estudar ou a prolongar e ampliar as suas qualificações académicas, por exemplo. Os dados mensais do INE não publicam estes indicadores mais finos.
Seja como for, o desaparecimento de jovens do mercado de emprego é motivo de grande preocupação. De tal forma que se tornou num dos maiores cavalos de batalha entre o governo e o PS na negociação da medida do IRS Jovem.
Ontem, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, enalteceu a medida que alivia a carga fiscal dos mais jovens (até aos 35 anos) que ganhem até 28 mil euros brutos por ano, mas destacou ainda outras na “educação, saúde, habitação”, argumentando que “estamos a fazer um esforço grande para que os jovens tenham um futuro em Portugal”. Nós não vamos ficar a assobiar para o lado” como outros “fizeram durante anos, que não conseguiram estancar este que é um dos graves problemas que temos em Portugal".
Portugal resiste, Europa mais ou menos
Segundo dados também do INE e do Eurostat, a economia portuguesa continua a aguentar-se, apesar do ambiente cada vez mais sombrio que paira no resto da Europa.
Segundo a estimativa rápida do INE, o crescimento económico real de Portugal (descontando a inflação) terá acelerado de 1,6% no segundo trimestre para 1,9% no terceiro, mas o perfil desta expansão não é o melhor, tendo em conta que, lá fora, já há países em recessão e outros tantos estagnados.
De acordo com o INE, "o contributo positivo da procura interna para a variação homóloga do PIB [Produto Interno Bruto] aumentou ligeiramente no 3º trimestre, verificando-se uma aceleração do consumo privado e uma diminuição do investimento”. Menos investimento põe em xeque a capacidade produtiva a prazo, bem como a criação de novo emprego.
O instituto repara ainda que “o contributo da procura externa líquida [exportações menos importações] para a variação homóloga do PIB manteve-se negativo”.
O gabinete de estudos do BPI antecipa um crescimento anual de 1,7% em 2024 (em linha com os 1,8% do governo). “Os riscos para a atual previsão revelam-se equilibrados, sendo que os negativos estão essencialmente associados a fatores externos de caráter geopolítico”, observa Vânia Duarte, economista do BPI Research.
Os dados do Eurostat ajudam a explicar, em parte, porque é que Portugal enfrenta uma procura externa mais fraca ou muito incerta. Primeiro, o país continua a ser um importador nato de bens de consumo e de investimento, o que prejudica o PIB. Depois, sendo verdade que o turismo continua a ser maná e motor das exportações, o horizonte parece desfavorável.
Segundo o gabinete europeu, numa altura em que já estão apurados 13 dos 27 países da União Europeia, há três economias em recessão técnica (Suécia, Letónia e Hungria); a maior de todas, a Alemanha, escapou por um triz a uma nova recessão, tendo estagnado no terceiro trimestre, o mesmo acontecendo com Itália, quarto maior mercado europeu.
Segundo o BPI Research, “Espanha destacou-se positivamente, superando mais uma vez as expectativas” com uns “notáveis 0,8%” de crescimento trimestral, França avançou 0,4% “resultado que se deve, praticamente, ao impacto dos Jogos Olímpicos”, Alemanha “surpreendeu positivamente”, mas a queda de 0,1% no segundo trimestre foi afinal pior (-0,3%), o que levanta dúvidas sobre o estado do motor económico da UE. E, como se não bastasse, “Itália desiludiu” com a referida estagnação, indica o gabinete do BPI.
Tudo considerado, o BPI conclui que “a Zona Euro enfrenta perspetivas bastante modestas [de crescimento económico]” e “riscos descendentes, especialmente em 2025, dado o aumento da incerteza global (conflitos geopolíticos, impacto de uma possível vitória de Donald Trump), num contexto em que as economias [da moeda única europeia] devem iniciar processos de consolidação orçamental”.
No aperto orçamental, o caso de França destaca-se pela escala do ajustamento proposto. É a segunda maior economia do euro, a seguir à Alemanha.
“Uma vitória de Trump implicaria um aumento das tarifas que puniria particularmente Alemanha e Itália, as duas grandes economias com laços comerciais mais fortes com os EUA”, alerta a equipa de estudos do BPI.