Política
26 março 2024 às 07h21
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Acusações de irrelevância e trocas de insultos marcam Conselho Nacional da IL

Referência a uma “seita de indefetíveis” agitou ânimos entre apoiantes e críticos da liderança de Rui Rocha. E falou-se dos riscos da estagnação.

O mal-estar existente na Iniciativa Liberal (IL) teve um novo episódio no Conselho Nacional que decorreu neste domingo, em Coimbra, com o que participantes contactados pelo DN admitem ter sido uma audível troca de insultos entre dirigentes afetos e críticos da liderança de Rui Rocha.

O auge da tensão na reunião dos liberais, convocada para discutir o cenário decorrente  das legislativas de 10 de março  e as suas consequências para o partido, ocorreu depois da intervenção de um dos conselheiros nacionais conotados com a oposição interna. Rafael Corte Real, que integrou a Comissão Executiva de João Cotrim de Figueiredo e foi um dos principais apoiantes de Carla Castro na disputa interna em que Rui Rocha saiu vencedor, agitou alguns membros da direção ao questionar se “valeu a pena reduzir este partido a uma seita, composta de indefetíveis”.

O recurso à expressão “seita”, ouvindo-se de viva voz aquilo que há muito tempo é comentado em surdina pelos membros da IL desalinhados com a liderança, teve o condão de gerar uma troca de insultos que não teve maiores consequências do que tornar ainda mais patente o afastamento entre alguns dos que coincidiram nos órgãos dirigentes quando, nas legislativas de 2022, Cotrim de Figueiredo elevou a IL de um deputado único para um grupo parlamentar de oito.

Oito foi justamente o número de eleitos a 10 de março - a perda do quarto mandato no Círculo de Lisboa foi compensada pela “estreia” em Aveiro -, enquanto o Chega multiplicava a representação parlamentar, de 12 para 50 deputados. Uma “estagnação” realçada nas palavras de Corte Real, para quem “mais valia” ter ocorrido uma “derrota estrondosa” em vez de um resultado que coloca em causa o propósito do partido.

Apesar de mesmo os mais críticos admitirem que Rui Rocha fez uma boa campanha eleitoral, com prestações positivas nos debates  - “até ficou bonito”, disse Rafael Corte Real, durante o Conselho Nacional, obtendo então gargalhadas dos participantes -, não foi esquecido que a IL perdeu relevância e apoio entre os jovens, não conseguindo atingir o objetivo eleitoral. Já não os 15% que o líder prometeu ao ser eleito, em janeiro de 2023, quando a maioria absoluta do PS fazia pensar que a legislatura só terminaria em 2026, e sim 7,5%, bem acima dos 4,94% finais. Ou os 12 deputados, objetivo que passava por ter mais dois eleitos em Lisboa (apesar da saída de Cotrim de Figueiredo e de Carla Castro), mais um no Porto e o cabeça de lista por Leiria.

Mesmo sem lá ter chegado, e sem garantir maioria absoluta à AD - ou vantagem sobre a soma do PS com partidos da esquerda e PAN -, Rocha mantém que cabe a Luís Montenegro decidir se quer os liberais no Governo.