Cultura
03 janeiro 2024 às 07h28
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Disney perde direitos de autor de Mickey. E não fica por aqui

Steamboat Willie, uma ‘curta’ de 1928, deu a conhecer Mickey e Minnie. Estas imagens estão agora disponíveis para serem usadas à vontade, após expirar o copyright.

A primeira versão do rato mais famoso do mundo, criado por Walt Disney há 95 anos, quando apareceu no filme de animação Steamboat Willie, entrou no domínio público a 1 de janeiro. Nesse mesmo dia, outros “bonecos” bem conhecidos, como a Minnie e o Tigre dos livros de Winnie the Pooh, de A. A. Milne e E. H. Shepard, também perderam os direitos de autor.

Assim sendo,se trabalha como criativo e está a ter dificuldades em encontrar a sua próxima ideia, não tema: algumas obras importantes já entraram ou entrarão em breve em domínio público. Isto significa que essas personagens e histórias poderão ser recriadas – na impresa, no palco ou no ecrã – sem permissão. Finalmente, poderão fazer um musical do Peter Pan em que Peter esteja já na meia-idade e se queixe de dores nas costas no final do primeiro ato.

“É importante para a preservação do nosso registo cultural, para um acesso significativo a obras mais antigas que inspiram a criatividade futura”, considera Jennifer Jenkins, diretora do Centro de Estudos do Domínio Público da Duke Law School. “A nata deste ano da classe de domínio público são o Mickey Mouse e, claro, a Minnie, ou pelo menos as versões a preto e branco dos nossos roedores fofinhos favoritos que apareceram em Steamboat Willie.”

A Walt Disney Co. é conhecida pela sua litigância e este direito de autor abrange apenas as versões originais da personagem. O jornal The New York Times ouviu alguns escritores, produtores e realizadores, para nos dar uma ideia do que pode ser desencadeado com este admirável mundo novo.

O Tigre também foi libertado no passado dia 1 e poderá reunir-se a Winnie-the-Pooh no próximo filme de terror da personagem renascida. Sim, leu bem... Num vislumbre do que poderá esperar de outros ícones com 95 anos, o velho urso tornou-se num monstro de marreta em punho em Winnie-the-Pooh: Blood and Honey (Winnie-the-Pooh: Sangue e Mel). A sequela está prevista para fevereiro.

“O original  All Quiet on the Western Front  era bom, mas o horror da guerra moderna será muito melhor, ilustrado com um remake mais ‘todo-o-terreno’, onde o Mickey e o Tigre enganam o Kaiser e o convencem a enfiar a cabeça num balde de esfregona”, disse Zhubin Parang, coprodutor-executivo do The Daily Show.

Depois, há a versão teatral de J.M. Barrie de Peter Pan, o Rapaz Que Nunca Cresceu, o romance de D.H. Lawrence O Amante de Lady Chatterley, Orlando: Uma Biografia, de Virginia Woolf, e muitos outros. “Estou bastante irritado por ver que  iremos ter mais material do Peter Pan agora”, disse Josh Lieb, escritor e produtor de comédia. Ninguém Gosta do Peter Pan. Na verdade, acho que falo por toda a Humanidade quando digo que odiamos o Peter Pan e odiamos as pessoas que fazem filmes sobre ele.”

No entanto, Bob Greenblatt, produtor do musical da Broadway Smash, pediu uma nova adaptação teatral com Daniel Radcliffe como Peter, Lindsay Mendez como Wendy e Jonathan Groff como Capitão Gancho. O ator Nik Dodani também tem uma ideia para um novo filme sobre Peter Pan. “Quando a Wendy o conhece ele é um jovem carismático e eternamente jovem. Ela é arrastada para uma jornada de pesadelo de obses- são, revelando a verdade sinistra por trás da sua juventude eterna”, reza a sinopse. 

Podemos incluir música, também?
Claro que sim! Composições musicais, como a versão original de Mack the Knife, escrita em alemão para uma ópera de Bertolt Brecht chamada A Ópera dos Três Vinténs, e gravações musicais, incluindo Dippermouth Blues, com Louis Armstrong, foram também libertas de direitos de autor no início de 2024. 

“Costumo fantasiar sobre a era dourada do sampling, onde poderia, em teoria, usar os maiores hits de todos os tempos impunemente”, diz Ryan Miller, membro fundador da banda Guster. Que acrescenta: “1 de janeiro, também conhecido como Dia da Emancipação, é agora um ritual anual para explorar!”

Sopan Deb, The New York Times