Secretário-geral do PS
03 abril 2024 às 16h51
Atualizado em 03 abril 2024 às 17h06
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Pedro Nuno Santos critica Montenegro. "Um Governo da vitimização, da lamentação, do queixume"

Um dia após a tomada de posse do Governo liderado por Luís Montenegro, o secretário-geral do PS criticou o discurso do primeiro-ministro. "Foi mais focado na oposição do que propriamente em Portugal", disse Pedro Nuno Santos, garantindo que o trabalho da oposição socialista "não é suportar ou ser bengala" do PSD.

"Um discurso sem ambição, sem visão, sem nenhum desígnio para Portugal", afirmou, esta quarta-feira, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, sobre a intervenção de Luís Montenegro na tomada de posse como novo primeiro-ministro.

"Foi um discurso mais focado na oposição do que propriamente em Portugal", criticou Pedro Nuno Santos que esteve ausente da cerimónia de tomada de posse. 

Considerou que em vez de se ter "assistido a um Governo de ação, que quer resolver os problemas em Portugal, viu-se um executivo "da vitimização".

Para Pedro Nuno Santos, o discurso de Montenegro mostra aquilo que, "provavelmente, vamos assistir ao longo dos próximos meses: "um Governo da vitimização, da lamentação, do queixume do não deixarem trabalhar, de não deixarem fazer aquilo que pretendem”. 

Pedro Nuno Santos recordou que, nas eleições legislativas, a AD obteve 28,84% dos votos, e o PS 28%, o que, num "universo de seis milhões e 400 mil eleitores", representa uma diferença de "cerca de 50 mil votos, menos dois deputados".

Nesse sentido, prosseguiu, o Governo não pode estar "fixado à espera que o PS venha resolver ou dar a maioria que o povo português entendeu não dar à AD", considerando que foi precisamente o que a coligação fez durante a eleição para a presidência da Assembleia da República.

Pedro Nuno Santos pede, por isso, respeito por todos os partidos. Critica as palavras de Montenegro, considerando que se traduzem numa “chantagem sobre o PS, como se o PS estivesse obrigado a sustentar e a viabilizar um Governo com o qual o PS discorda”. 

"Se o não é não de Luís Montenegro é para levar a sério, aquilo que eu disse na noite eleitoral também é para levar a sério. O PS será uma oposição responsável", disse Pedro Nuno Santos, assegurando que o partido irá votar a favor das medidas com as quais concorda, mas contra aquilo com o qual não concorda.  

Pedro Nuno Santos dá como exemplo a disponibilidade do PS em viabilizar um orçamento retificativo "limitado às questões em que há consenso entre os diferentes partidos".  

O líder do PS referiu-se ainda à parte do discurso de Montenegro em que é referido o excedente orçamental. "Não é o excedente orçamental que coloca pressão sobre a governação", mas sim "o programa económico do PSD, da AD", disse na sede do PS, no Largo do Rato, em Lisboa. 

"A teoria dos cofres cheios resultou de uma campanha eleitoral em que a AD prometeu tudo a todos. Estamos a falar de milhares de milhões de euros de perda de receita fiscal e de aumento da despesa", frisou. 

Para Pedro Nuno Santos, a "teoria dos cofres cheios foi amplamente defendida e apresentada durante toda a campanha eleitoral e está espelhada no cenário macroeconómico do PSD, da AD".

"Assistimos ao início de um discurso e da preparação do terreno político para a não concretização de tudo o que foi sendo prometido", afirmou, referindo-se, por exemplo a atualização das grelhas salariais de diferentes grupos profissionais da Administração Pública.

Pedro Nuno Santos realçou o "compromisso firme do PS para defender o seu programa e o seu ideário".

Acrescentou que, do ponto de vista programático, “há mais semelhanças entre aquela que é a resposta da AD e aquilo que está previsto no programa do Chega do que com o programa do PS”.  “Temos visões diferentes do estado social, da política fiscal, da resposta que é preciso dar ao desenvolvimento económico nacional”,

"É, de facto, difícil compatibilizar a nossa visão do país e a visão da AD”, concluiu Pedro Nuno Santos. 

Questionado sobre a ausência na cerimónia de tomada de posse, Pedro Nuno Santos afirmou: "Não pude estar presente. Fizemo-nos representar. O PS esteve representado por Alexandra Leitão e não dá para tirar mais nenhuma conclusão do que simplesmente isto".

No que se refere ao desafio de Luís Montenegro, durante a tomada de posse, sobre se o PS vai ser uma "oposição democrática" ou um "bloqueio democrático" nesta legistlatura, Pedro Nuno Santos voltou a repetir que o partido será "oposição responsável". "Defenderemos as nossas posições, aprovaremos aquilo que concordamos e votaremos contra aquilo que nós discordamos. Ponto final", defendeu.

O trabalho do PS na oposição "não é suportar ou ser bengala ao PSD". "Isso seria inaceitável, incompreensível"

Pedro Nuno Santos disse esperar que "o Governo não se coloque em becos sem saída, isso sim seria criar condições de bloqueio". 

Assegurou que o PS vai “continuar a combater" o programa da AD, uma vez que considera ser “negativo para o país”. “Não estejam à espera que perante o anúncio da AD de não haver capacidade de dar respostas a muitas reivindicações da população, mas há para reduzir impostos às empresas, que depois têm o apoio do PS. Isso não acontecerá”. 

Pedro Nuno Santos considerou que Montenegro “disponibilizou-se para governar nestas condições”. Lembrou o discurso do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre o facto de o líder do PSD não ter maioria e, por isso, ter a necessidade de procurar "construir soluções que permitam fazer avançar algumas das suas propostas". 

Para o líder dos socialistas, esse é o trabalho que tem de ser feito pela AD, de encontrar soluções para governar em maioria relativa. "Não é pelo PS. O PS perdeu as eleições. O PS está na oposição, com a certeza de que o seu trabalho não é suportar ou ser bengala ao PSD. Isso seria inaceitável, incompreensível", assegurou.

Pedro Nuno Santos diz que teve apenas uma conversa com o primeiro-ministro, aquando da votação do presidente da Assembleia da República. Espera, no entanto, ter “uma oportunidade" para falar sobre o OE retificativo e a disponibilidade do PS para "resolver um conjunto de questões, sobre as quais há um consenso à partida". 

"Também esperamos que o PSD e a AD acompanhem as nossas iniciativas", disse Pedro Nuno Santos, lembrando que o PS teve quase tanto o mesmo número de votos que a Aliança Democrática, decorrente do resultado eleitoral de 10 de março.  

Sobre o Orçamento de Estado para 2025, Pedro Nuno Santos referiu: “É praticamente impossível, porque temos visões muito diferentes".

Entre as medidas de maior discordância, o líder do PS defendeu em particular que as ideias que a AD "tem para a saúde são negativas" e "muito duras para o SNS", e criticou que considere prioritária a redução do IRC "em vez de se dar resposta às prioridades e aos problemas que os portugueses têm".