"Um discurso sem ambição, sem visão, sem nenhum desígnio para Portugal", afirmou, esta quarta-feira, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, sobre a intervenção de Luís Montenegro na tomada de posse como novo primeiro-ministro.
"Foi um discurso mais focado na oposição do que propriamente em Portugal", criticou Pedro Nuno Santos que esteve ausente da cerimónia de tomada de posse.
Considerou que em vez de se ter "assistido a um Governo de ação, que quer resolver os problemas em Portugal, viu-se um executivo "da vitimização".
Para Pedro Nuno Santos, o discurso de Montenegro mostra aquilo que, "provavelmente, vamos assistir ao longo dos próximos meses: "um Governo da vitimização, da lamentação, do queixume do não deixarem trabalhar, de não deixarem fazer aquilo que pretendem”.
Pedro Nuno Santos recordou que, nas eleições legislativas, a AD obteve 28,84% dos votos, e o PS 28%, o que, num "universo de seis milhões e 400 mil eleitores", representa uma diferença de "cerca de 50 mil votos, menos dois deputados".
Nesse sentido, prosseguiu, o Governo não pode estar "fixado à espera que o PS venha resolver ou dar a maioria que o povo português entendeu não dar à AD", considerando que foi precisamente o que a coligação fez durante a eleição para a presidência da Assembleia da República.
Pedro Nuno Santos pede, por isso, respeito por todos os partidos. Critica as palavras de Montenegro, considerando que se traduzem numa “chantagem sobre o PS, como se o PS estivesse obrigado a sustentar e a viabilizar um Governo com o qual o PS discorda”.
"Se o não é não de Luís Montenegro é para levar a sério, aquilo que eu disse na noite eleitoral também é para levar a sério. O PS será uma oposição responsável", disse Pedro Nuno Santos, assegurando que o partido irá votar a favor das medidas com as quais concorda, mas contra aquilo com o qual não concorda.
Pedro Nuno Santos dá como exemplo a disponibilidade do PS em viabilizar um orçamento retificativo "limitado às questões em que há consenso entre os diferentes partidos".
O líder do PS referiu-se ainda à parte do discurso de Montenegro em que é referido o excedente orçamental. "Não é o excedente orçamental que coloca pressão sobre a governação", mas sim "o programa económico do PSD, da AD", disse na sede do PS, no Largo do Rato, em Lisboa.
"A teoria dos cofres cheios resultou de uma campanha eleitoral em que a AD prometeu tudo a todos. Estamos a falar de milhares de milhões de euros de perda de receita fiscal e de aumento da despesa", frisou.
Para Pedro Nuno Santos, a "teoria dos cofres cheios foi amplamente defendida e apresentada durante toda a campanha eleitoral e está espelhada no cenário macroeconómico do PSD, da AD".
"Assistimos ao início de um discurso e da preparação do terreno político para a não concretização de tudo o que foi sendo prometido", afirmou, referindo-se, por exemplo a atualização das grelhas salariais de diferentes grupos profissionais da Administração Pública.
Pedro Nuno Santos realçou o "compromisso firme do PS para defender o seu programa e o seu ideário".
Acrescentou que, do ponto de vista programático, “há mais semelhanças entre aquela que é a resposta da AD e aquilo que está previsto no programa do Chega do que com o programa do PS”. “Temos visões diferentes do estado social, da política fiscal, da resposta que é preciso dar ao desenvolvimento económico nacional”,
"É, de facto, difícil compatibilizar a nossa visão do país e a visão da AD”, concluiu Pedro Nuno Santos.
Questionado sobre a ausência na cerimónia de tomada de posse, Pedro Nuno Santos afirmou: "Não pude estar presente. Fizemo-nos representar. O PS esteve representado por Alexandra Leitão e não dá para tirar mais nenhuma conclusão do que simplesmente isto".
No que se refere ao desafio de Luís Montenegro, durante a tomada de posse, sobre se o PS vai ser uma "oposição democrática" ou um "bloqueio democrático" nesta legistlatura, Pedro Nuno Santos voltou a repetir que o partido será "oposição responsável". "Defenderemos as nossas posições, aprovaremos aquilo que concordamos e votaremos contra aquilo que nós discordamos. Ponto final", defendeu.