Eleições legislativas
28 fevereiro 2024 às 12h04
Atualizado em 28 fevereiro 2024 às 13h01
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Ativistas do clima atingem Montenegro com tinta verde. "Era mais fácil termos conversado"

Ativista que atirou tinta verde ao líder da AD foi detido. "Pontaria não faltou ao jovem que me abordou", disse Montenegro, que lamentou a situação. Pedro Nuno Santos e Mariana Mortágua condenaram a ação reivindicada pelo movimento Fim ao Fóssil.

Durante uma ação de campanha, em Lisboa, o líder da Aliança Democrática (AD), Luís Montenegro, foi atingido esta quarta-feira com tinta verde, atirada por um ativista pelo clima. Os ativistas do movimento Fim ao Fóssil reivindicaram a ação. 

O ativista que atirou tinta verde ao líder da AD "foi de imediato intercetado e detido pela PSP", tendo sido "apreendida a lata de tinta utilizada para cometer o ilícito criminal", informou a Polícia de Segurança Pública, em comunicado.

No total, a polícia "intercetou cinco indivíduos pertencentes a uma organização ambientalista".

Tudo aconteceu na altura em que a comitiva de Montenegro chegava à Bolsa de Turismo de Lisboa, na FIL, no Parque das Nações. "Pontaria não faltou ao jovem que me abordou. Queria lamentar este episódio", disse o presidente do PSD, que ficou coberto de tinta no rosto.

O jovem ativista foi imediatamente afastado por um agente da PSP e Luis Montenegro reagiu com humor, logo após ter sido abordado, dizendo: "Estou preparado para tudo".

"Tenho todo o respeito pelas pessoas que se manifestam e que defendem as suas causas, mas se a ideia era transmitir-me a preocupação que todos devemos ter com as alterações climáticas era mais fácil termos conversado, dialogado", disse Montenegro, aos jornalistas, minutos depois de ser alvo do protesto dos ativistas pelo clima. 

ANDRE KOSTERS/LUSA

Com tinta verde no cabelo, no rosto e na roupa, Montenegro disse que o programa eleitoral da AD "contempla várias medidas" para enfrentar as alterações climáticas. "O nosso objetivo é ter, obviamente, as garantias de uma economia forte, conseguir ter qualidade de vida e, ao mesmo tempo, deixar a quem virá a seguir a nós um planeta cuidado e uma sociedade com sustenbtabilidade". referiu. 

"Tenho um compromisso muito grande com as preocupações com o clima e com o ambiente", assegurou Montenegro, que ainda acrescentou: "Há uma coisa que também posso dizer: por mais tinta que me atirem, eu continuarei a ser o mesmo, no mesmo caminho não vou desviar-me daquilo que é o meu caminho".

ANDRE KOSTERS/LUSA

Antes, o presidente do CDS-PP, Nuno Melo, parceiro de coligação do PSD nas listas da AD, que acompanhava Luís Montenegro na visita, considerou tratar-se de um "ato cobarde e infantil". 

Luís Montenegro foi auxiliado por membros da comitiva que estavam presentes à entrada da FIL, nomeadamente jovens que gritaram "Montenegro, Montenegro" e "Assim se vê a força da AD" e ainda "Luís, amigo, os jovens estão contigo".

O presidente do PSD ainda entrou no edifício da FIL, onde decorre o evento, e dirigiu-se de seguida à casa de banho para retirar a tinta, que lhe atingiu não só a roupa mas a cara e o cabelo, mas sem sucesso, tendo-se retirado do local.

"Até já, bom trabalho a todos", disse Montenegro antes de entrar no carro. 

Minutos após a saída do presidente do PSD, a sua assessoria de imprensa informou jornalistas no local de que Montenegro já não voltaria à BTL, ficando a visita a cargo de Nuno Melo, que foi apenas atingido numa parte da sua roupa. 

Em comunicado, a PSP referiu que "tinha um policiamento discreto e de visibilidade nas imediações" da FIL.

"Durante esse policiamento foi possível detetar um grupo de indivíduos com comportamento suspeito, tendo-se vindo a apurar que pertenciam a uma organização ambientalista. Desse grupo, 4 indivíduos foram abordados de imediato, os quais tinham sua posse 1 lata de tinta que foi apreendida. Todavia, um dos indivíduos desse grupo não foi monitorizado em tempo, motivo pelo qual conseguiu atingir o líder da Aliança Democrática com tinta verde, bem como outros membros da comitiva", lê-se na nota da PSP

"Nenhum partido tem um plano adequado à realidade climática", dizem ativistas

Os ativistas do movimento Fim ao Fóssil reivindicaram a ação em comunicado, argumentando que "nenhum partido tem um plano adequado à realidade climática".

O movimento estudantil reivindica o fim aos combustíveis fósseis até 2030 e exige que se pare de usar gás para produzir eletricidade até o próximo ano, utilizando antes 100% eletricidade renovável e gratuita.

"Nenhum programa político prevê como vamos fazer a transição justa nos prazos da ciência. (...) Nenhum partido tem legitimidade para criar governo se continuar a ignorar a maior crise que a humanidade já enfrentou", diz Vicente Magalhães, estudante e porta voz da ação, citado no comunicado.

Sobre o PSD, os estudantes acusam-no de defender "o sistema fóssil que coloca o lucro à frente da vida".

O grupo lembra que as eleições de 10 de março dão mandato até 2028, pelo que o próximo Governo será o último que pode garantir o fim aos fósseis até 2030.

ANDRE KOSTERS/LUSA

Pedro Nuno Santos condena protesto com tinta contra Luís Montenegro

O secretário-geral do PS condenou, entretanto, o protesto dos ativistas pelo clima, apelando a que não se repita e a que se respeite quem está a defender as suas posições.

"Condeno qualquer protesto em contexto de campanha democrática. Nós temos de saber respeitar, isto é um momento muito importante da nossa democracia. Os partidos estão a fazer legitimamente as suas campanhas, a apresentarem os seus projetos, e nós temos de respeitar, e depois o povo português expressa a sua intenção de voto nas urnas no dia 10 de março", declarou Pedro Nuno Santos.

O secretário-geral do PS falava aos jornalistas após uma visita à Startup Leiria, reagindo ao facto de Luís Montenegro ter sido hoje atingido com tinta verde por um jovem à entrada da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), onde se deslocou em campanha eleitoral.

Afirmando não ter conhecimento do protesto, Pedro Nuno Santos disse lamentá-lo profundamente e pediu que não se repita, salientando que a democracia foi a "maior conquista dos últimos 50 anos" e é preciso protegê-la.

"Nós devemos defender o nosso ponto de vista sem atropelar o direito aos outros de defender as suas posições, e neste caso da Aliança Democrática (AD). Todo o respeito a quem, na AD, defende as suas propostas, mas, naquilo que nos diferencia, com a nossa crítica e o nosso combate", afirmou.

"O ataque ao PSD é um ataque à liberdade na campanha eleitoral e portanto à democracia", diz Mariana Mortágua

A coordenadora do BE também condenou o "ataque à liberdade na campanha" eleitoral e à democracia que representou o facto do líder do PSD ter sido hoje atingido com tinta, considerando que os autores são "os piores defensores" da causa climática.

"O ataque de hoje ao PSD é um ataque à liberdade na campanha eleitoral e portanto à democracia", condenou Mariana Mortágua através de uma mensagem nas redes sociais.

Na opinião da líder bloquista, "se os autores desta ação alegam uma causa justa, então são os piores defensores dessa causa".

Ventura diz que Montenegro foi alvo de "ato desprezível e de cobardia"

O presidente do Chega, André Ventura, considerou que o líder do PSD, Luís Montenegro, foi alvo de "um ato desprezível e de cobardia" ao ser atingido com tinta verde à entrada da Bolsa de Turismo de Lisboa.

"O que aconteceu em Lisboa, em que o candidato da AD foi atacado com tinta, é um ato desprezível e de cobardia", escreveu Ventura na rede social X (antigo Twitter).

O presidente do Chega considerou que este ato "não ajuda causa nenhuma, não representa de todo os jovens portugueses e merece condenação inequívoca".

André Ventura manifestou ainda solidariedade com Luís Montenegro.

Livre defende adequação entre meios e fins após incidente com Montenegro

O porta-voz do Livre lamentou o incidente e defendeu uma adequação entre os fins e os meios no combate pelas causas.

"Em primeiro lugar lamento e desejo que não volte a acontecer, que não aconteça a outros candidatos", afirmou Rui Tavares, que falava em Vila Real.

O dirigente do Livre desejou que a "campanha seja feita sem incidentes, sem nenhum tipo de problemas físicos de nenhum candidato de qualquer partido que seja" e sem "qualquer violação do seu espaço físico ou pessoal".

"Achamos que toda a gente que é ativista de uma causa, que ama a causa pela qual luta tem também a responsabilidade de pensar sempre sobre a adequação entre os fins e os meios, porque quanto mais ama essa causa mais quer que todos os seus concidadãos sejam atraídos para lutar também por ela", afirmou à margem de uma ação de campanha na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Com Lusa