Lisboa
24 fevereiro 2024 às 21h02
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Manifestantes protestam contra racismo e xenofobia

Cerca de 700 pessoas saíram da Alameda e seguiram até ao Martim Moniz. PSP acompanhou a marcha, mas não se registaram incidentes.

Cerca de 700 pessoas saíram de casa esta tarde para se manifestarem em Lisboa contra o racismo e a xenofobia. A estimativa de participação é da organização do evento, que reuniu cerca de 60 entidades do país. O protesto foi nacional e ocorreu em oito cidades.

Com cartazes, faixas, palavras de ordem e música, os manifestantes saíram da Alameda e desceram a Avenida Almirante Reis até a Praça Martim Moniz, e atraíram participantes ao longo do caminho. “Pelo direito de ser migrante”, “Imigrantes ficam, fascistas vão embora”, “O racismo mata, o negacionismo também”, lia-se em alguns dos cartazes.

Manifestação nacional Voto contra o Racismo. Carlos Pimentel/Global Imagens

As pessoas que mais sofrem com a situação, negros e imigrantes, marcaram presença no desfile. A faixa “Não à Europa Fortaleza”, da associação Solidariedade Imigrante, foi carregada por imigrantes de sete nacionalidades diferentes. As idades também eram diversas, desde adultos, crianças e famílias inteiras, a marchar juntos pela mesma causa.

Uma das famílias presente era a da paquistanesa Najma A., que mora em Lisboa com o marido e três filhos e decidiu apoiar a causa. “Amamos Portugal, aqui temos paz, sentimo-nos muito acolhidos, temos emprego e queremos que o país continue assim”, disse Najma ao DN. Os três filhos já falam português, estão na escola e dizem ser muito felizes desde que chegaram a Portugal, há cerca de dois anos.

Carlos Pimentel/Global Imagens

Outros miúdos presentes na manifestação também foram levados pelos pais e mães, como forma de mostrar desde cedo que todas as pessoas são iguais. Uma menina de seis anos desenhou um cartaz em que compara o racismo aos dejetos humanos. “Ela já tem noção do que é o racismo, nós ensinamos porque cremos numa sociedade justa”, explicou o pai, Hugo Henrique. Partilha do mesmo pensamento Joana Deus, que levou a filha de seis anos ao protesto junto com um amigo de 10 anos. De mãos dadas, diziam “não passarão”. Conforme Joana, as escolas “falham muito em ensinar o tema”. 

O arquiteto Euclides Vilela, de 64 anos, afirmou ao DN estar na manifestação “pelos filhos e futuras gerações”. Nascido na Guiné-Bissau, afirmou que o racismo sempre existiu, mas que agora o fenómeno é mais visível. “É nosso dever acabar com o racismo e a xenofobia”, destacou.

A manifestação também recordou a memória de pessoas assassinadas por motivação racial, como Bruno Candé, ator português vítima de homicídio em 2020, e Alcindo Monteiro, espancado até à morte por um grupo de nacionalistas em 1995. O ato ainda recordou vítimas de outros países, nomeadamente Mariele Franco, vereadora brasileira morta a tiro em 2016. A violência policial foi outro tema do protesto, com cartazes sobre o caso Cláudia Simões, agredida pela polícia na Amadora em 2020. 

José Rui Rosário, do coletivo Kilombo e um dos porta-vozes do evento, avaliou como significativa a participação do público. “Nunca sabemos quantos virão, todos são sempre bem-vindos, se fossem apenas duas pessoas já era uma manifestação pela causa”, referiu ao DN.

Carlos Pimentel/Global Imagens

O protesto, intitulado “Voto contra o Racismo”, não teve manifestações de candidatos às legislativas e foi definido como “apartidário”. Além do tema central, alguns dos participantes também declararam apoio à causa do povo palestiniano, à urgência climática e contra o aumento do custo de vida. Todo o percurso foi acompanhado pela Polícia de Segurança Pública (PSP) e ocorreu sem nenhum incidente. Fonte oficial da PSP disse ao DN não ter condições para definir o número de participantes.