Mais de cinco meses depois do início da guerra na Faixa de Gaza, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou na segunda-feira, pela primeira vez, uma resolução a defender um “cessar-fogo imediato” no enclave palestiniano - graças à abstenção dos EUA e apesar da ameaça de Israel. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, tinha ameaçado cancelar a visita de uma delegação a Washington para discutir a operação terrestre em Rafah caso os aliados não usassem o poder de veto e não estava a fazer bluff.
“Este é um claro retrocesso da posição consistente dos EUA no Conselho de Segurança desde o início da guerra”, indicou o Gabinete de Netanyahu num comunicado. O voto na ONU “prejudica tanto o esforço da guerra, como o esforço para a libertação dos reféns”, porque “dá ao Hamas esperança de que a pressão internacional vai permitir-lhes aceitar um cessar-fogo sem a libertação dos reféns”, lia-se ainda no texto onde se anunciava o cancelamento da viagem de dois dos principais conselheiros do primeiro-ministro aos EUA.
O objetivo da viagem do ministro dos Assuntos Estratégicos israelita, Ron Dermer, e do líder do Conselho de Segurança Nacional, Tzachi Hanegbi, era discutir os planos para uma operação terrestre em Rafah. Essa deslocação foi cancelada, mas o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, estava já em Washington e tinha previsto manter os encontros com o homólogo dos EUA, Lloyd Austin, e com o secretário de Estado, Antony Blinken.
Rafah, na fronteira com o Egito, serve de refúgio a 1,5 milhões de palestinianos e é uma das poucas portas de entrada para a ajuda humanitária no enclave - onde desde o início da guerra já terão morrido mais de 33 mil pessoas. Os planos israelitas para uma operação terrestre nesta cidade estão na origem do distanciamento cada vez maior entre os EUA e Israel, tendo o presidente norte-americano, Joe Biden, conseguido convencer Netanyahu num telefonema a não avançar sem discutir alternativas.
A Casa Branca disse estar “muito desapontada” com o cancelamento da viagem, negando que tenha havido uma mudança da política dos EUA na ONU. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, indicou que por o texto final da resolução não incluir a linguagem que Washington considera essencial - nomeadamente uma condenação do Hamas - não a puderam apoiar, daí a abstenção.