Racismo
05 maio 2024 às 00h10
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Todos os suspeitos da agressão a imigrantes no Porto são portugueses

PSP identificou seis suspeitos e deteve outro. São todos de origem portuguesa. Caso transitou para a PJ, que investiga crime de ódio.

Seis homens foram identificados e um foi detido, devido a posse de arma ilegal, pela PSP na sequência de agressões contra imigrantes, no Porto. Ao que o DN apurou junto de fonte policial, todos os alegados atacantes são de origem portuguesa e há suspeitas de que estão ligados a movimentos de extrema-direita.

Recentemente, no início de abril, o grupo 1143, de Mário Machado, organizou uma manifestação anti imigração no Porto, mostrando quem tem uma significativa base de apoio na cidade, ligada a extremismos xenófobos. Uma ligação que, sabe o DN, não será ignorada pela investigação criminal agora a cargo da PJ.

Segundo o porta-voz da PSP Porto Sérgio Soares, aquela força policial foi alertada, na madrugada de sexta-feira, cerca da 1h00, para uma agressão no Campo 24 de Agosto a dois imigrantes por um grupo de cinco homens, que fugiu antes da chegada dos agentes da polícia, enquanto os dois agredidos foram assistidos no Hospital de São João.

Cerca de 10 minutos mais tarde, numa rua próxima, 10 imigrantes (maioritariamente argelinos, mas também um venezuelano) foram atacados, na habitação onde estavam, por um grupo também de 10 homens, munidos com paus e, alegadamente, com um arma de fogo, o que a PSP não conseguiu confirmar, de acordo com Sérgio Soares.

Três dos agredidos na residência foram conduzidos também ao Hospital de São João.

Ainda segundo o responsável da PSP, mais tarde na mesma madrugada, por volta das 3h00, numa outra rua da Baixa portuense (Fernandes Tomás), outro imigrante foi agredido por outros suspeitos, sendo que um deles usava uma arma de fogo. Nesta altura, com o contingente de polícias reforçado, foi, então, possível intercetar um dos suspeitos, na posse de um bastão extensível, relatou  porta-voz da PSP.

Cerca das 5h00 foi intercetada a viatura usada no ataque inicial, no Campo 24 de Agosto, com cinco suspeitos no interior e que foram todos identificados, acrescentou Sérgio Soares. A PSP deu conhecimento da ocorrência ao Ministério Público e, dada a suspeita de existência de crime de ódio, o assunto transitou para a Polícia Judiciária.

“Não podemos voltar aqui”

O caso foi denunciado também ontem pelo grupo SOS Racismo: “Nos últimos dias, um grupo organizado de pessoas constituiu uma milícia para invadir casas e atacar imigrantes na cidade do Porto.

Com recurso a bastões, paus e facas, este grupo espancou vários imigrantes dentro das suas casas. Os ataques foram planeados e devidamente organizados, para espalhar o terror e atacar o maior número de imigrantes.

As habitações foram destruídas e várias pessoas tiveram de receber tratamento hospitalar”, referiu o grupo em comunicado. “Assistimos a práticas milicianas motivadas pelo ódio racial e xenófobo, típicas de grupos assassinos de extrema-direita. Não podemos voltar aqui - nunca mais!”, lê-se no comunicado do SOS Racismo.

Ao final da tarde de sábado, o Presidente da República condenou os “ataques racistas”, afirmando que não têm “lugar na sociedade portuguesa”. Em nota publicada no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa escreveu: “Ao tomar conhecimento dos ataques racistas perpetrados durante a última noite no Porto, o Presidente da República sublinha a veemente condenação da violência racial e da xenofobia, práticas sem lugar na sociedade portuguesa.”

Exprimindo solidariedade com as vítimas, o Presidente agradece “às forças de segurança a rápida intervenção”.

Também o governo, através do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e vários partidos condenaram os ataques a imigrantes no Porto, revelados pela edição de ontem do Jornal de Notícias.

“Condeno veementemente, em meu nome pessoal e do governo português, os ataques racistas desta noite no Porto”, escreveu o chefe de Governo na sua conta oficial na rede social X.

Manifestação contra racismo

Mais de 100 pessoas concentraram-se na noite de sábado em frente à Junta de Freguesia do Bonfim, no Porto, para protestar contra o racismo e a xenofobia, depois dos ataques contra imigrantes residentes na cidade.

"Juntámos aqui um grupo significativo de pessoas, inclusive muitas pessoas imigrantes, o que nem sempre acontece. É um sinal de que se sentem protegidos connosco", disse Joana Cabral, do SOS Racismo.

Segundo a ativista, estavam de forma pacífica no local "entre 100 a 200 pessoas", que chegaram a entoar a canção do 25 de Abril "Grândola Vila Morena".

O local onde decorreu a manifestação foi escolhido por ser a "zona onde ocorreram os atos de violência" contra os imigrantes, explicou.

Segundo Joana Cabral outras associações de defesa dos imigrantes juntaram-se ao SOS Racismo numa ação que pretende "defender os direitos das pessoas imigrantes que, infelizmente, neste momento não têm outra forma de ver os seus direitos defendidos".

A ativista disse ainda não aceitar "que se instrumentalize uma ideia de associação entre a criminalidade e a imigração" e que se use "esse pretexto para legitimar milícias populares".

Referindo-se aos atos de violência cometidos contra os imigrantes, defendeu que "são para investigar pela polícia e pela justiça".

Tópicos: Racismo, Porto