"Tu aqui não mandas nada, se te dizem para despir é para despir – e vais outra vez lá para dentro e a revista vai ser minuciosa.”
Foi, conta Maria Mesquita, 21 anos, nestes termos e “aos berros” que um agente da PSP na esquadra do Calvário, à qual foi conduzida a 14 de dezembro, após ser detida com outros ativistas climáticos durante uma ação de protesto (o “bloqueio” do viaduto Duarte Pacheco, em Lisboa), reagiu ao facto de ela ter questionado a ordem para se despir totalmente.
A recusa de Maria, estudante da Faculdade de Letras de Lisboa associada ao coletivo Climáximo, terá ocorrido quando, após a chegada à esquadra, “começaram a chamar um a um e fui levada para a casa de banho. Disseram que era para despir tudo, perguntei porquê e deixaram-me ficar só de cuecas e soutien”.
Não seria a primeira vez que Maria se via nessa situação: em 22 de maio de 2021, quando participou numa outra ação – o bloqueio da Rotunda do Aeroporto de Lisboa, num protesto contra a aviação a que foi dado o nome “Em chamas” – foi detida e, ao dar entrada na esquadra dos Olivais, ela e as outras 18 raparigas, e só elas num total de 26 detidos, foram obrigadas a despir-se. O facto ocasionou uma queixa ao Ministério Público (cuja investigação está ainda, de acordo com a Procuradoria Geral da República, em curso) e um inquérito da Inspeção Geral da Administração Interna. Esta última determinou ter a revista em causa, que designa de “intimista”, ultrapassado “os critérios de adequação, proporcionalidade e necessidade face ao que se estava à procura no caso concreto e ao objetivo visado, o qual seria plenamente alcançado com a utilização da revista por palpação por cima da roupa”, sendo aplicada em janeiro de 2023, por decisão do ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, uma pena de repreensão à agente que ordenou às ativistas que se despissem.
A narrativa de Maria – que assegura estar, com as restantes ativistas da Climáximo a quem sucedeu o mesmo, a preparar uma queixa contra a PSP –, não é a única a imputar, nos últimos meses de 2023, revistas “intimistas” à PSP. Até a alegada repetição da distinção no tratamento em função do género (que em 2021 determinou o protesto de vários coletivos feministas) é descrita noutra detenção de ativistas climáticos, a 24 de novembro de 2023, tendo como palco igualmente a sede do COMETLIS, em Moscavide.
É Teresa Cintra, ativista de 22 anos da Greve Climática Estudantil, a relatar ao DN o que viveu nesse dia quando, na sequência da ocupação do ministério das Infraestruturas, a PSP a deteve e a outros 18 ativistas.
“Foi numa salinha em que estava só uma agente, com um agente à porta. Ela disse para me despir. Tirei a blusa e ela ficou a olhar e mandou tirar as calças e depois as cuecas. E eu disse ‘é estranho, não percebo porque é que isto está a acontecer’, e ela repetiu a ordem, disse que era procedimento normal. Fiquei atónita, não entendia o que estavam a procurar, já nos tinham revistado antes umas quatro vezes por cima da roupa. E acho que é claro que nas nossas ações não usamos armas, não magoamos ninguém.”
Após ficar nua, continua esta estudante de psicologia, foi-lhe ordenado que pusesse “as mãos na parede, virada de costas”, e depois que se colocasse “de cócoras e inclinada para a frente, e também de frente para a agente.” Não houve, comenta, “qualquer tipo de tentativa por parte da agente para que aquilo fosse uma situação confortável, não era nada simpática”. Não lhe viu, diz, a identificação, e ela também não se terá identificado verbalmente.
Foi, conta Maria Mesquita, 21 anos, nestes termos e “aos berros” que um agente da PSP na esquadra do Calvário, à qual foi conduzida a 14 de dezembro, após ser detida com outros ativistas climáticos durante uma ação de protesto (o “bloqueio” do viaduto Duarte Pacheco, em Lisboa), reagiu ao facto de ela ter questionado a ordem para se despir totalmente.
A recusa de Maria, estudante da Faculdade de Letras de Lisboa associada ao coletivo Climáximo, terá ocorrido quando, após a chegada à esquadra, “começaram a chamar um a um e fui levada para a casa de banho. Disseram que era para despir tudo, perguntei porquê e deixaram-me ficar só de cuecas e soutien”.
Não seria a primeira vez que Maria se via nessa situação: em 22 de maio de 2021, quando participou numa outra ação – o bloqueio da Rotunda do Aeroporto de Lisboa, num protesto contra a aviação a que foi dado o nome “Em chamas” – foi detida e, ao dar entrada na esquadra dos Olivais, ela e as outras 18 raparigas, e só elas num total de 26 detidos, foram obrigadas a despir-se. O facto ocasionou uma queixa ao Ministério Público (cuja investigação está ainda, de acordo com a Procuradoria Geral da República, em curso) e um inquérito da Inspeção Geral da Administração Interna. Esta última determinou ter a revista em causa, que designa de “intimista”, ultrapassado “os critérios de adequação, proporcionalidade e necessidade face ao que se estava à procura no caso concreto e ao objetivo visado, o qual seria plenamente alcançado com a utilização da revista por palpação por cima da roupa”, sendo aplicada em janeiro de 2023, por decisão do ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, uma pena de repreensão à agente que ordenou às ativistas que se despissem.
Dois anos e quase sete meses depois, porém, Maria garante ter-lhe acontecido o mesmo duas vezes no mesmo dia (14 de dezembro de 2023). Primeiro na esquadra do Calvário, onde, após a ordem do agente, terá regressado à casa de banho, despindo desta vez tudo (sendo que, afirma, “quando já estava sem a roupa toda entrou uma agente e disse que afinal não era preciso”). Depois de novo na sede do Comando Metropolitano de Lisboa (COMETLIS), em Moscavide, para onde ela e outros 10 detidos foram, mais de 10 horas após a detenção, levados para passar a noite.
“Éramos seis raparigas e cinco rapazes. À chegada a Moscavide fomos separados por género, nós para um lado, eles para o outro. Das raparigas, fui a primeira a ser chamada. Mandaram-me despir completamente, tive de agachar e as outras a seguir também.” Desta vez, Maria admite já não ter discutido ou questionado. “Era de noite, estávamos muito cansadas”, explica. Só no dia seguinte, depois de serem todos libertados, se deu conta, diz ao DN, que só as raparigas tinham sido obrigadas a despir e a agachar (o agachamento serve para que, no caso de terem objectos escondidos nos orifícios corporais, estes fiquem à vista); aos rapazes só haviam revistado por cima da roupa.
A narrativa de Maria – que assegura estar, com as restantes ativistas da Climáximo a quem sucedeu o mesmo, a preparar uma queixa contra a PSP –, não é a única a imputar, nos últimos meses de 2023, revistas “intimistas” à PSP. Até a alegada repetição da distinção no tratamento em função do género (que em 2021 determinou o protesto de vários coletivos feministas) é descrita noutra detenção de ativistas climáticos, a 24 de novembro de 2023, tendo como palco igualmente a sede do COMETLIS, em Moscavide.
É Teresa Cintra, ativista de 22 anos da Greve Climática Estudantil, a relatar ao DN o que viveu nesse dia quando, na sequência da ocupação do ministério das Infraestruturas, a PSP a deteve e a outros 18 ativistas.
“Mandou tirar as calças e depois as cuecas. Fiquei atónita”
“Quando nos detiveram, levaram-nos primeiro para a esquadra da Penha de França, onde ficámos o dia todo e à noite todas as pessoas que já tinham algum processo a correr, e que eram 10, foram obrigadas a dormir no centro de detenção de Moscavide – eles justificam com “reincidência”, o que não faz sentido porque ninguém pode ser reincidente sem ser condenado. Foi quando lá chegámos que mandaram despir as raparigas”, conta Teresa, que a pedido do jornal pormenoriza a revista a que diz ter sido sujeita.
“Foi numa salinha em que estava só uma agente, com um agente à porta. Ela disse para me despir. Tirei a blusa e ela ficou a olhar e mandou tirar as calças e depois as cuecas. E eu disse ‘é estranho, não percebo porque é que isto está a acontecer’, e ela repetiu a ordem, disse que era procedimento normal. Fiquei atónita, não entendia o que estavam a procurar, já nos tinham revistado antes umas quatro vezes por cima da roupa. E acho que é claro que nas nossas ações não usamos armas, não magoamos ninguém.”
Após ficar nua, continua esta estudante de psicologia, foi-lhe ordenado que pusesse “as mãos na parede, virada de costas”, e depois que se colocasse “de cócoras e inclinada para a frente, e também de frente para a agente.” Não houve, comenta, “qualquer tipo de tentativa por parte da agente para que aquilo fosse uma situação confortável, não era nada simpática”. Não lhe viu, diz, a identificação, e ela também não se terá identificado verbalmente.