Segurança
03 abril 2024 às 10h50
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Autoridades dão luz verde à manifestação xenófoba no Porto

A PSP não contesta a realização do protesto marcado para dia 6, organizado pelo grupo 1143. Uma música com o refrão “fechem de vez as fronteiras” foi criada para a ocasião.

A manifestação "Menos imigração, mais Habitação", marcada para o próximo sábado, 6 de abril, no Porto, vai mesmo avançar. O grupo nacionalista 1143 recebeu o aval da Câmara Municipal do Porto para a realização do protesto. A Polícia de Segurança Pública (PSP) já tinha dado o mesmo parecer positivo. A informação foi celebrada pelo neonazi Mário Machado, principal porta-voz do 1143.

A não-proibição surgiu após a divulgação de uma carta aberta intitulada "Contra o racismo e a xenofobia, não desmobilizamos!", enviada a uma série de autoridades. O objetivo da publicação era impedir a realização da manifestação, com base no artigo 13.º da Constituição da República Portuguesa, que destaca o princípio da igualdade e acionar “os mecanismos processuais para que se aplique o artigo 240.º do Código Penal, relativo à discriminação e incitamento ao ódio e à violência”.

A carta pontua que “além de profundamente racista e xenófoba, esta ação põe em causa a segurança das pessoas imigrantes que vivem e trabalham no Porto”. Algumas entidades também estão a organizar uma manifestação de “reação” na Praça dos Poveiros, às 15.30, intitulada "Contra o fascismo, mais e melhor habitação".

Romain Valentino, um dos porta-vozes do coletivo Habitação Hoje, afirmou ao DN que o ato é uma “resposta para contradizer uma falsa narrativa do grupo de extrema-direita de que existe uma correlação entre a imigração e a crise de habitação”. De acordo com o militante, o problema da habitação “já vem de há bastante tempo” e os “muitos imigrantes são trabalhadores precários e estão lado a lado dos portugueses nesta luta”.

Valentino também demonstra preocupação com a segurança dos imigrantes no sábado. “É necessário um cuidado extra, porque virão manifestantes de extrema-direita de todo o país”, diz. O porta-voz pontua que todos os que quiserem juntar-se ao ato são “bem-vindos” e “estarão seguros”.

O DN solicitou à PSP do Porto informações sobre como será a segurança neste dia, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição. Também questionou a Câmara do Porto sobre a autorização dada à realização do evento e uma posição sobre o pedido divulgado na carta aberta. A autoridade municipal respondeu, por fonte do gabinete do presidente, que a avaliação de risco foi realizada pela PSP, entidade competente na matéria. Quanto à carta dirigida ao autarca Rui Moreira, não foi prestada qualquer declaração.

Supremacismo branco e desinformação

Miguel Morato intitula-se “ministro da Propaganda do grupo 1143” e “Goebbels” da organização, em referência à Joseph Goebbels, ministro da propaganda do governo nazista de Adolf Hitler na Alemanha.
Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

No Porto, a concentração do grupo 1143 será na Praça de D. João I, às 17.00 horas. O DN sabe que já estão reservadas, pelo menos, nove carrinhas com participantes de Lisboa, Algarve, Aveiro, Coimbra e outras zonas do país. Segundo Mário Machado, será a “primeira manifestação nacionalista na cidade do Porto, desde o Golpe de 1974”. Uma música foi criada especialmente para a data: “Dizemos não à imigração, fechem de vez as fronteiras.”

As redes sociais são o principal canal de divulgação do ato, com vídeos que alcançam milhares de pessoas. Miguel Morato é um dos responsáveis pelo marketing  e intitula-se “ministro da Propaganda do grupo 1143” e o “Goebbels” da organização, em referência à Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do Governo nazi de Adolf Hitler, na Alemanha.

Um dos vídeos publicados na conta de Morato no TikTok foi apagado pela plataforma, uma medida classificada por ele como “censura” de uma plataforma “comunista”. Numa outra publicação, Morato convoca os participantes com retórica supremacista e de fake news. “Não tenham medo, nós somos mais e mais fortes do que todos, nós somos portugueses com orgulho da vossa nacionalidade, sangue puro e não com Cartão do Cidadão comprado, que vêm pra cá pró nosso país receber subsídios enquanto nós temos que trabalhar para lhes pagar os luxos que usam”, disse.

Recorde-se que segundo as estatísticas oficiais do Relatório Imigração em Números, os imigrantes contribuíram para a Segurança Social sete vezes mais do que receberam: 1,8 milhões de euros em 2022 e usufruíram de 275 mil euros em subsídios sociais.

O grupo 1143 tem vindo a crescer nos últimos meses em todo o país, com a instalação de grandes faixas de frases racistas e autocolantes pelas ruas e em sinais de trânsito e, em fevereiro, realizou um protesto em Lisboa contra a presença de imigrantes. A proposta inicial era fazer uma marcha no Bairro do Martim Moniz, onde mora um grande número de estrangeiros. No entanto, devido ao alto risco de segurança, não foi concedida a autorização.

Os nacionalistas não desistiram e mudaram o local do protesto, que saiu do Largo de Camões até à Câmara Municipal de Lisboa, com tochas e fogueiras. Saudações nazis, canto do hino nacional e frases racistas marcaram a manifestação.

amanda.lima@globalmediagroup.pt