Bélgica
16 abril 2024 às 23h13
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Bruxelas trava evento com Farage, Zemmour e Orbán

Polícia interrompeu, a pedido do autarca local, trabalhos da “conferência do conservadorismo nacional”. Governo belga criticou.

"A extrema-direita não é bem-vinda.” Foi assim que o autarca de Saint-Josse, uma das Comunas da região de Bruxelas, anunciou no Twitter a decisão de proibir a realização de um evento que prometia reunir, esta terça e quarta-feira, o antigo líder do UKIP e atual dirigente do Reform UK, Nigel Farage, o candidato da extrema-direita francesa às presidenciais de 2022 Éric Zemmour, e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, entre outros.

Emir Kir, que além de autarca é também deputado socialista, alegou que a proibição foi decidida para “garantir a segurança pública”, diante da alegada ameaça de protestos contra a “conferência do conservadorismo nacional” (ou NatCon). Mas os organizadores e oradores denunciaram a “cultura de cancelamento” e a tentativa de “acabar com uma ideologia”.

O primeiro-ministro belga, o liberal Alexander de Croo, considerou “inaceitável” o ocorrido. “A autonomia municipal é uma pedra angular da nossa democracia, mas nunca pode anular a Constituição Belga, que garante a liberdade de expressão e de reunião pacífica desde 1830. Proibir reuniões políticas é inconstitucional. Ponto”, escreveu no X (antigo Twitter).

O evento organizado pela Fundação Edmund Burke e patrocinado pelo think tank  MCC Brussels (financiado por Orbán) reúne um grupo de políticos, figuras públicas e académicos normalmente associados com a direita populista, que defende tanto os valores conservadores, como nacionalistas, conhecidos pelo seu euroceticismo e pela postura anti-imigração. Segundo os organizadores, eram esperadas cerca de 600 pessoas.

Duas horas depois do início do evento, a polícia chegou ao Claridge para proibir a sua realização. O local era a terceira escolha dos organizadores, que tinham visto o espaço inicial, o Concert Noble, cancelar o evento na sexta-feira à noite - alegadamente por pressão política. O segundo local desejado, o Hotel Sofitel, cancelou na segunda-feira, alegadamente por receio de que houvesse problemas - e depois de o autarca de Etterbeek, Vincent de Wolf, alertar para a natureza do evento. Manifestantes antifascistas tinham previsto protestar.

A polícia chegou já depois de o britânico Farage, um dos rostos do Brexit, subir ao palco. O líder do partido Reform UK apelidou de “simplesmente monstruosa” a tentativa das autoridades de Bruxelas de travarem o evento. “É contra isto que estamos a lutar. Estamos a enfrentar uma ideologia maligna. Estamos a enfrentar uma nova forma de comunismo”, acrescentou. Já à saída, disse aos jornalistas: “Este é o velho estilo comunista, onde, se não concordam comigo, têm de ser banidos, tem de ser fechados.”

Em vez de expulsar as pessoas do edifício, a polícia optou por proibir as entradas - Zemmour não conseguiu entrar. Os organizadores indicaram que iam recorrer da decisão do autarca em tribunal, não sendo claro se seria possível prosseguir com a conferência esta quarta-feira. Orbán, que era esperado precisamente neste dia, prometeu não desistir. “A última vez que quiseram silenciar-me com a polícia foi quando os comunistas os lançaram contra mim em 1988. Não desistimos naquela época e também não desistiremos desta vez!”, escreveu no X.

susana.f.salvador@dn.pt