Uma pequena brincadeira: quando se juntam as palavras “ténis” e “cinema”, que imagem vem à cabeça? A mim ocorre-me Jacques Tati e a sua coreografia peculiar em As Férias do Sr. Hulot (1953). Mas a partir de agora essa memória visual poderá passar a vir acompanhada, por contraste, de qualquer cena em campo de Challengers, um filme enganosamente sobre o desporto em causa, que imerge na tensão competitiva para falar das relações e do “jogo da vida”. Por outras palavras, Luca Guadagnino está de parabéns. Depois de Ossos e Tudo, o conto canibalesco que não passou de um golpe de criatividade insípida, na sua tentativa de evocar um certo romantismo indie, Challengers funciona como um autêntico contraponto enérgico e vital, que mantém o estudo das relações amorosas dentro do registo sedutor de outras obras do realizador italiano, como Mergulho Profundo e Chama-me Pelo Teu Nome.
Dito isto, Challengers vem provar, antes de mais, que Guadagnino é um crente nos atores - basta pensar no que lhe deve o jovem Timothée Chalamet, que nunca mais foi uma criatura tão sensível na tela como naquele verão na Lombardia de Call Me By Your Name (enfim, pode-se sempre assinalar a exceção de Um Dia em Nova Iorque, de Woody Allen). O mesmo tipo de revelação acontece, desta feita, com Zendaya, que sendo uma atriz já bem lançada no panorama, não tinha ainda conseguido deixar a marca indelével de uma interpretação cinematográfica capaz de dominar e extasiar um filme do princípio ao fim.
É o que acontece neste Challengers, que praticamente começa e acaba no rosto dela, com uma câmara dinâmica a querer saber o que esconde o seu olhar vedado pelos óculos de sol. Sentada a assistir a uma partida de ténis, ela é o terceiro vértice de um triângulo formado com os jogadores em campo: o filme vai nascer dessa disposição geométrica, contando uma história a partir dos movimentos e som agressivo da bola a bater na raquete, e assumindo na configuração temporal o próprio vai-e-vem da esfera amarela.