Congresso do CDS
20 abril 2024 às 14h49
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Nuno Melo: "CDS foi deteminante para a vitória da AD"

Primeira intervenção do líder centrista no 31.º Congresso serviu para combater a ideia de que o partido foi apenas uma "muleta" do PSD. Entre vários ataques ao Chega, apontou objetivo de crescimento nos próximos dois anos.

O presidente do CDS-PP, Nuno Melo, dedicou a sua primeira intervenção no 31.º Congresso do partido, que está a decorrer neste fim-de-semana em Viseu, na apresentação da moção de estratégia nacional com que se recandidata à liderança, a defender a ideia de que os centristas foram essenciais para o triunfo da Aliança Democrática (AD) nas legislativas de 10 de março e para a mudança de ciclo, após mais de oito anos de governação socialista.

"Os votos do CDS foram determinantes para a vitória da AD. O CDS não foi muleta e o PSD não foi barriga de aluguer", disse o agora ministro da Defesa Nacional, que há dois anos foi eleito presidente. A subida ao poder do eurodeputado ocorreu na ressaca da hecatombe eleitoral nas legislativas de 2022, quando o partido, então liderado por Francisco Rodrigues dos Santos, ficou pela primeira vez sem representação parlamentar.

Apesar de o regresso à Assembleia da República estar reduzido a dois deputados e o regresso ao Governo limitado a um ministro e dois secretários de Estado, Melo defendeu um caminho para fortalecer os centristas ao longo do próximo mandato a que se recandidata, sem enfrentar oposição. "Nunca se sintam parceiros menores desta coligação", incitou aos congressistas reunidos no Pavilhão Cidade de Viseu, apontando a "singularidade do CDS" como um factor de afirmação.

Garantindo que a ideologia democrata-cristã faz com que o CDS-PP esteja "profundamente" empenhado nas diversas vertentes do Estado Social - "estamos cá para o salvar", disse -, Nuno Melo deixou uma farpa à Iniciativa Liberal, referindo que os centristas não pretendem entregar a saúde aos privados.

Mas o principal alvo de uma parte do discurso dedicada a sublinhar que "o CDS nunca foi substituído por ninguém" acabou por ser o Chega. Tal como já tinha feito quando assumiu o mandato de deputado na Assembleia da República - entretanto suspenso após a tomada de posse enquanto ministro -, Melo fez um elogio ao regressado grupo parlamentar centrista, agora composto por Paulo Núncio e João Almeida, afirmando que "são dois, mas acreditem que valerão por 50".

A referência ao número de eleitos do Chega nesta legislatura mereceu uma ovação dos congressistas reunidos em Viseu, mas o líder em busca de reeleição conseguira também empolgá-los ao recordar o episódio em que a sede nacional do CDS-PP, no Largo Adelino Amaro da Costa, que durante o PREC foi assaltada pela extrema-esquerda, esteve na mira daqueles a quem designou por "outros extremistas". Em causa estavam notícias de que o Chega pretendia comprar o edifício ao Patriarcado de Lisboa, num cenário agora descartado por Nuno Melo: "A sede nacional será nossa. É mais do que um símbolo. É pertença e identidade."

Num balanço de "dois anos de superação", o presidente do CDS-PP sublinhou a reestruturação administrativa e financeira do partido, agradecendo aos "militantes e pessoas amigas que, de Norte a Sul, não nos deixaram sozinhos". E, muito particularmente, ao trabalho do secretário-geral, Pedro Morais Soares, e da sua equipa, traduzido na amortização em mais de 900 mil euros da dívida do partido. "Pagámos a todos os bancos e levantámos hipotecas a todas as sedes", realçou.

Quanto à nova declaração de princípios, feita por uma equipa coordenada por António Lobo Xavier e aprovada com apenas oito abstenções, Melo sublinhou que "não revoga a outra", subscrita pelos fundadores do partido em 1974, "mas só a complementa e só a atualiza", vertendo novas áreas de intervenção. Uma preocupação que defendeu nortear o seu próximo mandato, no qual o CDS-PP "agora tem de crescer", modernizando-se e apelando aos eleitores mais jovens.

Portas salienta resistência do partido e pede "competência no serviço"

O ex-presidente centrista Paulo Portas considerou este sábado que o CDS-PP resistiu a várias mortes anunciadas e agora tem a oportunidade de "provar bem, com competência no serviço", que o partido é necessário.

O antigo vice-primeiro-ministro do Governo PSD/CDS liderado por Pedro Passos Coelho deixou esta mensagem num vídeo exibido perante os congressistas da 31.ª reunião magna dos centristas, que arrancou hoje e termina no domingo, em Viseu.

Portas começou por salientar que o congresso se reúne semanas depois de os portugueses "terem dito que querem alternância e mudança", alegando que "não há democracia sem alternância".

"Todos sabemos que quando as democracias deixam de ter alternância se transformam numa ficção", sustentou.

Por outro lado, continuou, "pelo voto dos portugueses no quadro da Aliança Democrática [coligação que juntou PSD, CDS-PP e PPM] também foi expressa a vontade de que a voz da democracia cristã, aberta a liberais e conservadores, como sempre aconteceu nesta instituição, voltasse ao parlamento e voltasse ao governo".

"Esta evolução, boa, positiva, encerra uma lição sobre a nossa história contemporânea. Há quase 50 anos durante o PREC [Processo Revolucionário Em Curso], um extremo à esquerda julgou que eliminava o CDS politicamente, intelectualmente e até fisicamente enganaram-se redondamente. Há dois anos, um outro extremo, desta vez à direita, pensou que tinha chegado o fim do CDS. Voltaram a precipitar-se e a enganar-se", afirmou.

Portas salientou que o CDS "é um dos partidos resistentes e persistentes e por isso fundadores da democracia portuguesa e haverá sempre eleitores para o defender e militantes para o proteger".

"A oportunidade que nos é dada agora é a de provar bem, com competência no serviço, que o partido é necessário, que o partido contribui para a competência e é útil aos portugueses. Na era dos extremos nada é mais necessário do que convicção com moderação. Na era da demagogia nada é mais útil do que o serviço aos outros com competência", avisou.

Centristas vão pedir audição de Medina na AR sobre "redução artificial" da dívida

O líder parlamentar do CDS-PP anunciou hoje que o partido vai pedir a audição do ex-ministro das Finanças Fernando Medina na Assembleia da República, acusando o Governo anterior de ter feito uma "redução artificial" da dívida com "dinheiro das pensões".

"Gostaria de anunciar que esta segunda-feira o CDS vai pedir a audição do ex-ministro das Finanças Fernando Medina na Comissão de Orçamento e Finanças para dar explicações sobre a redução artificial da dívida com dinheiro das pensões dos portugueses", afirmou Paulo Núncio.

O deputado fez este anúncio numa intervenção perante o 31.º Congresso do CDS-PP, que decorre entre hoje e domingo em Viseu.

O líder parlamentar do CDS-PP afirmou que a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) "alertou que a redução da dívida realizada pelo governo socialista em 2023 foi meramente artificial".

"Mas pior, a UTAO denunciou que esta redução artificial só foi feita à conta do dinheiro do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações", disse, considerando que esta situação "é de enorme gravidade".

Paulo Núncio considerou que "o CDS não pode deixar passar isto em claro", defendendo que "em Portugal não pode valer tudo e o dinheiro das pensões dos portugueses não pode servir para truques políticos dos socialistas".

"O ex-ministro foi o autor desta estratégia, o ex-ministro tem que responder perante o parlamento", salientou.

Na semana passada, a UTAO alertou que a redução da dívida pública em 2023 foi "artificial" e que há casos em que as opções de gestão financeira foram condicionadas por orientações do Governo passado.

Na sua intervenção, o líder parlamentar do CDS-PP destacou as "três bandeiras principais" do partido no parlamento, entre as quais um "combate sem tréguas à corrupção" e a "dignificação e valorização das forças armadas e forças de segurança".

"Para o CDS, este combate é absolutamente prioritário para criarmos uma sociedade mais transparente e para reforçar a credibilidade das instituições democráticas", indicou.

Apontando que o CDS "sempre foi a voz dos polícias e dos militares", o deputado referiu que agora que o partido tem responsabilidades governamentais nas áreas da Defesa e da Administração Interna "será uma prioridade do CDS defender os homens e mulheres que zelam pela defesa e segurança de Portugal".

"A terceira bandeira será a redução dos impostos e crescimento económico. Continuaremos a lutar sem descanso para aliviar ainda mais os impostos sobre as famílias, para beneficiar os jovens com o IRS jovem e para dar competitividade às empresas através da redução do IRC", indicou.

O líder parlamentar afirmou que este é "um momento decisivo da história do partido" e fez questão de responder às "forças de esquerda" que anunciaram "o fim do CDS": "Enganaram-se, enganaram-se redondamente".

"Não, o CDS não acabou, o CDS voltou a eleger deputados, o CDS regressou ao parlamento, o CDS está novamente no Governo de Portugal e não parece que a esquerda algum dia se veja livre do nosso CDS", defendeu, afirmando que o parlamento agora "não estava completo, mas agora está".

O centrista salientou que "o CDS voltou, e com o CDS a AD ganhou as últimas eleições, e com o CDS a coligação vai ganhar as próximas eleições europeias".

O vice-presidente do partido saudou também o líder, apontando que a "recuperação do CDS tem um nome e tem um responsável, o presidente Nuno Melo", que "nunca desistiu, nunca baixou os braços, nunca cedeu perante as dificuldades".

"Por tudo o que fez nestes últimos dois anos, é já hoje um dos presidentes mais importantes da história do nosso CDS. Muito obrigado, Nuno Melo", salientou.

Paulo Núncio salientou ainda que defender a "vida humana quer no início da gestação, quer no final do seu período, continua a ser uma causa do CDS", rejeitando a interrupção voluntária da gravidez e a eutanásia.