Entrevista
26 abril 2024 às 09h44
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Zendaya: “Tive de olhar para o ténis como uma coreografia”

Challengers, de Luca Guadagnino, é o filme mais sexy de Hollywood em muitos anos. Estreou-se esta semana e coloca Zendaya em definitivo como novo ídolo do cinema americano. O DN, via videochamada, teve acesso à nova diva. Josh O’Connor e Mike Faist também estavam com a estrela de Euphoria.

A Zendaya que esteve com os jornalistas dos Golden Globes  virtualmente a partir de Los Angeles já nada tem a ver com a Zendaya dos produtos audiovisuais Disney do início da sua carreira ou mesmo com a Zendaya de duas idades que é brilhante em Challengers, de Luca Guadagnino. Neste encontro com a imprensa ao qual o DN teve acesso mostra uma diva, uma mulher feita. E ela sabe disso, não só na maneira como fala eloquentemente mas, sobretudo, por uma pose trabalhada, mesmo que inata. Uma pose que inclui um jogo de poder e de estatuto. Zendaya é hoje o mais aproximado àquilo que Hollywood pode chamar de estrela de cinema. 

A vibe positiva

Em Challengers interpreta uma jovem tenista no começo da carreira que se envolve romanticamente com dois amigos, também eles tenistas profissionais. A vida passa, tempo idem aspas e acaba por se casar com um deles.

Luca Guadagnino não fez um mero “filme de desporto” com a cena da cenoura da praxe, neste caso uma sugestão de ménage a trois, fez sim uma sofisticada história de amor sobre os destinos de quem ama e aposta no romance.

Além de Zendaya, neste encontro também os seus interesses amorosos apareceram, ou seja, os atores que são também fulgurantes a segurar a raquete, Mike Faist e Josh O’Connor, por sinal, bem sorridentes, talvez a aproveitar a boa embalagem deste lançamento global com críticas maioritariamente positivas. 

O risco de Zendaya

Z, a alcunha da atriz, começa por dizer que estava muito nervosa com o projeto: “Não consegui definir que tipo de filme Challengers seria. Achei-o divertido, muito divertido, mas não era uma comédia... Havia também drama, mas, ao mesmo tempo, não era um drama puro. E, apesar de ter ténis, não é um filme de desporto. Tive essa sensação de que era um pouco disso tudo e deixou-me com muito medo, ainda que simultaneamente bastante entusiasmada e excitada.”

Ao seu lado, a revelação Mike Faist (descoberto por Spielberg em West Side Story) não para de sorrir, mas garante que também entrou para o projeto desconfiado. A única certeza que tinha é que ia fazer um filme de arte - tinha razão: “A minha personagem é uma espécie de artesão que se apaixona pela sua arte, o ténis. É alguém que, num certo momento da sua vida, quer voltar a esse momento de pureza. Quer voltar a sentir esse embalo que permite uma espécie de transcendência. Alguém que faz do seu trabalho uma paixão e que ama todo esse processo.”

E é sobre ténis que Zendaya fala a seguir: “Vou ser franca: não tinha ideia absolutamente nenhuma sobre este desporto. Não sabia patavina! O que sabia era apenas sobre a Venus e a Serena Williams. Só isso ainda aumentou mais o desafio. Nem de propósito, a minha personagem é suposto ser uma grande jogadora, logo eu que nunca joguei bem. Creio que no começo aparecia muito nervosa. Aliás, no primeiro dia estávamos todos incrivelmente nervosos! Quer eu, quer aqui os meus colegas, treinámos lado a lado. E fizemos juntos muito trabalho de ginásio. A dada altura percebi que para isto resultar tive de olhar para o ténis como uma coreografia. Pensei: já que sou dançarina, deixa-me dançar isto...”.

Logo a seguir, avisa que dá graças a Deus ter feito uma personagem que a assustou: “Cada vez que vejo e revejo o filme bate-me algo na cabeça e faz-me mudar de opinião sobre as personagens. Challengers deixa-me sempre surpreendida. Umas vezes estou a torcer pela personagem do Mike, noutra pela do Josh... É um filme que nos faz ficar perto daquelas pessoas e aprender com elas. O público vai ter uma reação inicial que depois se arrependerá. É essa a beleza do grande cinema, não é?!” 

Atração homoerótica

Sobre a sugestão gay entre as duas personagens masculinas, Josh O’Connor, conhecido como Príncipe Carlos de The Crown e O Domingo das Mães, conta uma partida: “Eu e o Mike Faist, sobre essa questão, costumamos dizer que essa sugestão é só a brincar, que somos só amigos. O problema é que no outro dia numa entrevista ele pregou-me uma partida e deu a entender que parecia que eu tinha sido algo bully para com ele. Ele foi extraordinário com essa brincadeira. Enfim, para mim, foi uma honra ter estado a trabalhar com toda esta gente, em especial com o Luca, um cineasta que já conhecia há anos - tínhamos logo falado em fazer um filme juntos”.

Curiosamente, Josh vai estar em breve nos ecrãs portugueses com um filme também dirigido por uma italiana, Alice Rohrwacher, esse desafiante A Quimera

Emma Stone e o tal cameo

O que ninguém neste encontro por zoom fala é da aparição especial de Emma Stone, não creditada nos genéricos, finais ou inicias. Um trunfo-surpresa que é sem dúvida um dos momentos fortes do filme. Sem ser spoiler, apenas se pode dizer que a atriz duplamente oscarizada está algo irreconhecível numa sequência de engate Tinder...

Por fim, é Zendaya que nos diz algo que ainda dá mais crédito ao resultado final: “Todas as jogadas de ténis que vemos no filme foram imaginadas pelo Luca Guadagnino no storyboard. Enfim, tudo foi meticuloso e pensado ao pormenor.”

Tópicos: Entrevista, Cinema