Sondagem
25 abril 2024 às 09h00
Atualizado em 24 abril 2024 às 22h44
Leitura: 7 min

25 de Abril está no topo, mas 25 de Novembro também foi importante

Revolução foi o acontecimento mais relevante dos últimos 50 anos (61%). Escolha é consensual, mas os que mostram mais divisão são os eleitores da AD

O 25 de Abril foi o acontecimento mais relevante dos últimos 50 anos para 61% dos portugueses, de acordo com uma sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF. Num patamar já distante surgem a adesão à CEE (17%), a aprovação da Constituição (14%) e o 25 de Novembro (4%). Note-se, no entanto, que a crise de 1975, que ditaria o fim do PREC (Processo Revolucionário em Curso), é considerada, de forma bastante consensual, um momento importante para a democracia (86%), quase tanto como a Revolução dos Cravos (94%).

Nas palavras recentes de Ramalho Eanes, o primeiro Presidente da República eleito depois da Revolução (cumpriu dois mandatos, entre 1976 e 1986), “há uma data fundadora da democracia: o 25 de Abril”. A maioria dos portugueses (61%) concorda, mesmo que o acontecimento seja posto a “concurso” com outros momentos, como a viagem em direção à União Europeia, a entrada em vigor de uma Constituição ou as tensões políticas que desaguaram no 25 de Novembro.

Chega com o 25 de Abril

O 25 de Abril constitui a escolha maioritária em todos os segmentos da amostra, incluindo no cruzamento com o voto partidário. Os que se revelam mais divididos são os eleitores da AD: 51% optam pela Revolução dos Cravos  e 46% por um dos três outros momentos. Ainda à Direita, é a data-chave escolhida pelos que votam no Chega (58%), embora os verdadeiros “campeões” de Abril sejam os comunistas (96%).

Quando o critério de análise muda para a faixa etária, deteta-se uma curiosidade talvez surpreendente: quanto mais novos os inquiridos, maior a percentagem dos que escolhem o 25 de Abril (70% entre os que têm 18 a 34 anos, face a 55% entre os que têm 65 ou mais anos).

Um outro tipo de oscilação é igualmente visível quando se detalha as respostas por classe social: os inquiridos dos dois escalões com rendimentos mais baixos sentem um apelo bem maior pelo “dia inicial inteiro e limpo” do que os dos dois escalões com melhor nível de vida.

25 de Novembro

“A democracia foi prometida no 25 de Abril, com Estado de Direito e eleições livres, mas o 25 de Novembro foi a continuação do 25 de Abril. Não percebo que estigmatizem essa data.” As palavras de Ramalho Eanes são de novo confirmadas pelos resultados da sondagem.

Se há um relativo consenso sobre a data mais relevante para a democracia portuguesa, e se a isso se acrescenta a quase unanimidade dos que reconhecem a importância da Revolução dos Cravos (94%), há igualmente uma maioria robusta (86%) que reconhece no 25 de Novembro um outro acontecimento decisivo (48% dizem que é muito importante) para a democracia representativa.

A análise das respostas sobrevive até à segmentação da amostra de acordo com o voto partidário. A importância do 25 de Novembro é consensual mesmo entre os eleitores dos quatro partidos mais à Esquerda. É entre os eleitores comunistas que se encontra a maior fatia dos que desvalorizam a crise que marcou o final do PREC, mas mesmo entre estes há dois terços que reconhecem o seu significado (quase metade diz que foi “muito importante”). Caso para concluir que a polarização que tantas vezes se testemunha na vida política sobre esta temática talvez não seja acompanhada pelos cidadãos.

Soares, Marcelo e Salgueiro Maia são as figuras maiores da Revolução e da política

O militar de Abril
O homem que liderou uma coluna da Cavalaria, a partir de Santarém, e obteve a rendição de Marcello Caetano, continua a ser a figura de referência desse “dia inicial inteiro e limpo”, e dos que se seguiram, para 31% dos portugueses. Salgueiro Maia venceu quase todos os segmentos da amostra, com duas exceções: os mais velhos preferiram Ramalho Eanes e os que votaram no PAN escolheram António Spínola. O Capitão de Abril foi o mais votado entre os eleitores de todos os outros partidos, incluindo os do Chega (37%), que admiram mais Salgueiro Maia dos que os da AD e PS (34%). Em segundo lugar, ficou Ramalho Eanes (18%), cujo papel foi central no 25 de Novembro, e depois Otelo Saraiva de Carvalho (12%), António Spínola (6%) e Ernesto Melo Antunes (5%).

O político da Revolução
Aos militares juntou-se uma nova classe política, que protagonizou a transição para a democracia. Vários se destacaram, mas antes de todos Mário Soares, que foi considerado o político mais importante desses primeiros anos (33%), logo seguido de Francisco Sá Carneiro, o fundador do PPD/PSD (27%). Quando se analisam os resultados por faixas etárias, o social-democrata conquista os dois primeiros escalões (até aos 49 anos), enquanto o socialista recebe a preferência dos mais velhos. Nos segmentos de voto, há um empate entre os eleitores do BE, Sá Carneiro vence na AD e no Chega, e Soares nos restantes. Note-se que Álvaro Cunhal (10%) ficou em terceiro, mas em primeiro nos que votam CDU. E que 14% dos eleitores do Chega também escolheram o comunista.

O político da democracia
Quem fica com o título de político mais importante das últimas décadas é Marcelo Rebelo de Sousa (19%), pouco acima de António Costa (16%) e de Cavaco Silva (14%). Logo depois ficaram António Guterres (13%) e Jorge Sampaio (12%). O atual Presidente foi o preferido entre as mulheres (23%) e os mais jovens (22%), mas entre os homens (21%) e os mais velhos (22%) venceu Costa. Nos segmentos de voto, Marcelo não venceu entre o eleitorado da AD (23%), que preferiu Cavaco (33%). O atual inquilino de Belém ficou em primeiro, isso sim, entre os eleitores do Chega (21%), que se distribuíram ainda por Cavaco (18%), Sampaio (15%), Guterres (11%) e até Costa (8%). Este último venceu entre os socialistas (29%), que também não esqueceram Sampaio (22%) e Guterres (18%).

rafael@jn.pt

FICHA TÉCNICA DA SONDAGEM
Sondagem de opinião realizada pela Aximage para JN/DN/TSF. Universo: indivíduos maiores de 18 anos residentes em Portugal. Amostragem por quotas, obtida a partir de uma matriz cruzando sexo, idade e região. A amostra teve 811 entrevistas efetivas: 711 entrevistas online e 100 entrevistas telefónicas; 391 homens e 420 mulheres; 183 entre os 18 e os 34 anos, 218 entre os 35 e os 49 anos, 228 entre os 50 e os 64 anos e 182 para os 65 e mais anos; Norte 281, Centro 173, Sul e Ilhas 133, A. M. Lisboa 224. Técnica: aplicação online (CAWI) de um questionário estruturado a um painel de indivíduos que preenchem as quotas pré-determinadas para pessoas com 18 ou mais anos; entrevistas telefónicas (CATI) do mesmo questionário ao subuniverso utilizado pela Aximage, com preenchimento das mesmas quotas para os indivíduos com 50 e mais anos e outros. O trabalho de campo decorreu entre 29 de março e 3 de abril de 2024. Taxa de resposta: 70,42%. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de +/- 3,4%. Responsabilidade do estudo: Aximage, sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.