Rússia (com vídeos)
22 março 2024 às 17h53
Atualizado em 22 março 2024 às 20h00
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"Mais de 60" mortos e "número pode aumentar" em tiroteio numa sala de espetáculos perto de Moscovo. EUA confirmam que EI é responsável pelo ataque

O incidente foi registado no Crocus City Hall na cidade de Krasnogorsk. Embaixada dos EUA tinha alertado há duas semanas para a possibilidade de um atentado terrorista em Moscovo. Estado Islâmico reivindicou o ataque.

Um tiroteio, seguido de uma explosão, foi registado esta sexta-feira numa sala de espetáculos da cidade de Krasnogorsk, nos arredores de Moscovo, de acordo com a agência de notícias russa RIA.

Pelo menos cinco indivíduos camuflados dispararam indiscriminadamente, sendo que o último balanço provisório aponta para "mais de 60 mortos", indicou o Comité de Investigação da Rússia, segundo a AFP.

"Os corpos dos mortos estão atualmente a ser examinados. Está provisoriamente estabelecido que mais de 60 pessoas morreram no ataque terrorista. Infelizmente, o número de vítimas pode aumentar", declararou o organismo russo.   

Anteriormente, as autoridades russas referiam 40 mortos e mais de 100 feridos, entre os quais crianças. Terá sido detido um dos suspeitos, refere o Russia Today. De acordo com a mesma publicação, as autoridades de Moscovo apelaram à população para doar sangue para as vítimas do tiroteio, dando conta na rede social Telegram que se trata de "uma questão de vida ou de morte para dezenas de pessoas".    

O autodenominado Estado Islâmico (EI) reivindicou, entretanto, o ataque, avançaram a AFP e EFE. Combatentes do grupo terrorista indicaram que "atacaram um grande agrupamento de cristãos na cidade de Krasnogorsk, nos arredores da capital russa, Moscovo, matando e ferindo centenas de pessoas e provocando uma destruição generalizada no local, antes de se retirarem para as suas bases em segurança", informou a Amaq, agência de propaganda da organização, no seu canal Telegram. 

A agência AP adiantou que o grupo jihadista EI afirmou que o seu grupo de comandos "regressou depois em segurança à sua base".

Os serviços secretos dos EUA confirmam que a responsabilidade pelo ataque é do Estado Islâmico, segundo a Reuters, que cita um responsável norte-americano. “Avisámos os russos de forma adequada”, disse a mesma fonte, sem fornecer detalhes adicionais.

A AP indica ainda que as forças da seguranças russas afirmaram estar a "procurar" os atacantes, não revelando se algum suspeito ainda se encontrava no edifício às 20:00 TMG. Em curso está uma investigação sobre o "ato terrorista". 

A reivindicação deste ato sangrento contraria a tese dos serviços secretos ucranianos, que tinham acusado o Kremlin e os seus serviços secretos de orquestrarem o ataque mortal de hoje à noite, perto de Moscovo, para culpar a Ucrânia e justificar uma "escalada" da guerra, conforme noticiou a AFP.

O portal Nexta relatou uma segunda explosão quando o edifício já estava em chamas, sendo que o teto da sala de espetáculos já entrou em colapso, por causa das chamas.

De acordo com meios russos, estavam várias centenas de pessoas na sala e há mais de 70 ambulâncias no local. O fogo está já a ser extinto com o auxílio de helicópteros, tendo sido evacuadas pelo menos 100 pessoas que se encontravam dentro da sala de concertos. É ainda avançado que algumas pessoas fugiram para o telhado quando procuravam fugir dos disparos.

A imprensa russa garante que os atacantes ainda estarão no local, tendo inclusive feito reféns. Para já pouco se sabe sobre este facto, embora seja certo que as Forças Especiais já entraram no edifício, tendo encontrado o carro dos atacantes no parque de estacionamento, tendo já sido isolado por suspeita de estar armadilhado.

Os Serviços Federais de Segurança (FSB) da Rússia garantem ter sido tomadas todas "as medidas necessárias" para controlar aquilo que já é considerado um "ataque terrorista". Uma dessas medidas foi a instalação de vários pontos de controlo de trânsito e o bloqueio das saídas do perímetro.

A diplomacia russa já veio classificar o ataque como "um atentado terrorista sangrento". "Toda a comunidade internacional deve condenar este crime odioso!", acrescentou, na plataforma digital Telegram, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova.

O presidente da Câmara de Moscovo, Sergei Sobyanin, anunciou que estão cancelados este fim de semana todos eventos desportivos e culturais que envolvam grande concentração de pessoas.

Quem já se pronunciou foi o antigo presidente russo Dmitry Medvedev através de uma publicação na rede social Instagram, no qual lançou uma ameaça no caso de os autores do atentado serem ucranianos: "Todos os atacantes e organizadores devem ser encontrados e impiedosamente eliminados como terroristas. Incluindo oficiais representantes do Estado."

Só que a presidência ucraniana, através do conselheiro de Volodymyr Zelensky, Mikhailo Podoliak, já veio garantir que "a Ucrânia não tem absolutamente nada que ver com esses acontecimentos", que classificou como "ato terrorista".

Também a Legião Liberdade da Rússia, um grupo de combatentes russos anti-Kremlin sediado na Ucrânia, negou igualmente qualquer envolvimento. "Sublinhamos que a Legião não combate os civis russos", declarou o grupo, que responsabilizou "o regime terrorista de Putin".

A Casa Branca já veio lamentar aquilo que define, em comunicado, como um tiroteio "horrível e muito difícil de assistir", acrescentando que "não há indícios" que os autores do ataque sejam ucranianos.

Refira-se que no dia 8, a embaixada dos Estados Unidos na Rússia tinha alertado que “extremistas” tinham planos iminentes para um ataque em Moscovo, horas depois de os serviços de segurança russos (FSB) terem anunciado ter frustrado um tiroteio planeado numa sinagoga por parte de uma célula do Estado Islâmico.

Na altura, a embaixada apelou a todos os cidadãos norte-americanos para deixarem a Rússia imediatamente e, embora não tivesse dado mais detalhes sobre a natureza da ameaça, disse que as pessoas deveriam evitar concertos e multidões e estar atentas ao que as rodeia.

O Secretário-Geral das Nações Unidas condenou "com a maior veemência possível o ataque terrorista", declarou o porta-voz Farhan Haq, em comunicado. António Guterres expressou "as suas profundas condolências às famílias enlutadas, ao povo e ao Governo da Federação Russa", acrescentou.

O Conselho de Segurança também apresentou condolências e instou todos os Estados "a cooperar ativamente" com a Rússia, "bem como com todas as outras autoridades competentes" para responsabilizar e levar à justiça os autores e apoiantes "destes atos condenáveis de terrorismo". "Os membros do Conselho de Segurança condenaram com a maior veemência o hediondo e cobarde ataque terrorista", lê-se na declaração.

A viúva de Alexei Navalny, um dos principais opositores ao regime de Vladimir Putin, expressou condolências aos familiares das vítimas do ataque numa mensagem publicada nas redes sociais. 

“Que pesadelo em Crocus”, escreveu Yulia Navalnaya. “Condolências às famílias das vítimas e rápida recuperação aos feridos", declarou na rede social X.

Tópicos: Rússia, Moscovo, Tiroteio