AD. Assinado acordo de coligação
07 janeiro 2024 às 18h39
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Montenegro apela ao voto dos desiludidos com PS e diz que AD não é "movimento político ressabiado"

PSD, CDS-PP e PPM assinaram este domingo o acordo de coligação Aliança Democrática (AD) perante uma sala lotada na Alfândega do Porto e com Portugal como palavra de fundo.

O presidente do PSD apelou este domingo ao voto dos desiludidos com o PS e defendeu que a Aliança Democrática (AD) não é "um movimento político ressabiado", ao contrário do que acusa os socialistas.

Na assinatura da coligação Aliança Democrática, que reúne PSD, CDS-PP, PPM e independentes em listas conjuntas para as legislativas e europeias, Luís Montenegro defendeu que este é "um projeto político de esperança e confiança".

"O projeto político da AD não se alimenta nem pela ameaça nem pela hostilidade e não se move, ao contrário dos nossos adversários, pelo passa-culpas, pelo ressentimento ou pela instigação infantil do medo. Ao contrário do PS, não é um movimento político ressabiado", afirmou.

Na sua intervenção, o líder do PSD fez mesmo um apelo ao voto dos que, nas últimas eleições, deram maioria absoluta ao PS.

"Àqueles que acreditaram no PS há dois anos, quero dizer que este projeto da AD é também para vós, para os que se desiludiram. Que bela oportunidade deram ao PS e que o PS desperdiçou completamente", considerou.

Tal como tinha feito antes o líder do CDS-PP, Nuno Melo, o presidente do PSD defendeu que o Governo liderado por António Costa "não acabou por causa do Presidente da República ou qualquer outra instituição".

"Faltou competência ao Governo, a todos os membros que por lá passaram, faltou capacidade de transformação e vontade política, porque instrumentos para mudar ninguém teve como agora", considerou.

Na única referência direta que fez ao Congresso do PS, que hoje terminou, Montenegro disse ter ficado chocado "que o grande ausente tenha sido o Serviço Nacional de Saúde" (SNS).

"Neste congresso, o novo líder e o antigo líder -- os dois com responsabilidade, porque os dois se sentavam no Conselho de Ministros - tudo fizeram para desviar a atenção, para ignorar e desprezar o que é hoje para muitos portugueses a primeira preocupação que têm: a saúde", criticou.

O líder do PSD elegeu esta área como "a grande prioridade social do Governo da AD" e apelou a uma reflexão sobre o estado do SNS nas legislativas antecipadas de 10 de março.

"Há muitas razões para mudar de Governo, mas a degradação do SNS por si já era suficiente para pôr o Governo socialista na rua e para pôr um novo governo a cuidar da saúde dos portugueses", considerou.

Montenegro prometeu que um Governo da AD não se irá "conformar, resignar ou render", num discurso em que reiterou compromissos do PSD como o de fazer um programa de emergência na saúde com recurso também aos setores privado e social ou de dar um rendimento mínimo a todos os pensionistas até final da legislatura equivalente a 820 euros.

O líder social-democrata comparou a situação atual do país à de 1979 - quando foi criada a primeira Aliança Democrática com CDS-PP e PPM - considerando que, então como agora, o país está "numa encruzilhada, num impasse", e vive-se "um tempo de ressaca de todas as experiências de governação socialistas", quer com maioria absoluta, quer com apoio formal ou informal dos partidos à sua esquerda.

"Todas redundaram no mesmo resultado: um falhanço clamoroso dos objetivos a que se propuseram. Diante deste impasse, desta incapacidade, impõe-se mesmo criar uma nova esperança, um novo projeto de confiança", disse, assegurando que não quer uma imitação da primeira AD, mas que esta sirva como inspiração.

Num discurso de meia hora em que apontou também falhas ao Governo nas áreas da educação, habitação ou na redução da pobreza, Montenegro acabou a parafrasear o histórico dirigente e antigo primeiro-ministro Carlos Mota Pinto.

"Nós hoje somos muitos nesta sala - esta sala que está a ferver e fervilhar de entusiasmo - amanhã seremos mais, vamos ser milhões, vamos ganhar as eleições e transformar Portugal", apelou.

Nuno Melo diz que crise nasceu em São Bento e não em Belém e é culpa do PS

O presidente do CDS-PP afirmou este domingo que a atual crise em Portugal não nasceu em Belém, mas em São Bento e tem como responsáveis o PS, o primeiro-ministro, António Costa, e o secretário-geral socialista, Pedro Nuno Santos.

"A crise que temos não nasceu em Belém [residência oficial do Presidente da República], nasceu em São Bento [residência oficial do primeiro-ministro], é grave e tem como responsáveis o doutor António Costa e o secretário-geral o PS, Pedro Nuno Santos", disse Nuno Melo, após a assinatura do acordo de coligação Aliança Democrática (AD) que integra PSD, CDS-PP e PPM.

Perante uma sala lotada, o centrista lembrou que o Governo PS lidera o país há oito anos, não há um, dois, três ou quatro, mas sim há oito, portanto, a culpa da atual crise não é do PSD, nem do CDS-PP, mas sim do PS.

Direcionando as críticas a Pedro Nuno Santos, Nuno Melo questionou: "Faz algum sentido que alguém que foi substituído por incompetência agora ascenda a primeiro-ministro?".

Dizendo não haver tempo para experimentalismos, o presidente do CDS-PP apelou ao voto na Aliança Democrática por ser uma "aposta segura", ter sido criada para fazer crescer a economia, devolver eficácia ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e dar esperança aos portugueses.

Miguel Guimarães pede acordo de regime para a saúde

PSD, CDS-PP e PPM assinaram este domingo o acordo de coligação Aliança Democrática (AD) perante uma sala lotada na Alfândega do Porto e com Portugal como palavra de fundo.

O acordo, assinado pelos presidentes do PSD, Luís Montenegro, do CDS-PP, Nuno Melo, e do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, aponta como prioridades da AD alcançar níveis elevados de crescimento, reforçar rendimentos e salvar e reabilitar o Estado Social do definhamento em curso.

Em representação do movimento de independentes, o ex-bastonário da Ordem dos Médicos Miguel Guimarães foi o primeiro a discursar e justificou a sua presença nesta coligação para "exercer um direito de cidadania".

"Senti que não posso continuar calado no que diz respeito ao que está a acontecer no nosso país, tenho obrigação de defender os direitos, liberdades e garantias das pessoas", disse, considerando que a AD tem "todas as condições para poder governar Portugal e fazer mais e melhor" do que o executivo socialista nos últimos oito anos.

Miguel Guimarães fez duras críticas ao funcionamento da saúde em Portugal - que classificou como "o calcanhar de Aquiles" da governação do PS, dizendo que se o SNS fosse uma empresa estaria falido, uma falência que atribuiu aos principais responsáveis, como o ministro Manuel Pizarro e o diretor-executivo do SNS.

O antigo bastonário questionou se, sendo o orçamento da saúde o maior de sempre, como diz o Governo socialista, e existindo mais profissionais de saúde, "o que é que está a falhar", respondendo que é "falta de competência para gerir corretamente" o SNS.

"O Governo socialista diz sempre que foi ele quem criou o SNS, mas a verdade é que se criou o SNS, neste momento está a destruir o SNS", acusou, apelando a um pacto de regime entre os partidos sobre o futuro deste setor.

Já o presidente do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, considerou que a AD "representa a única esperança de derrotar o PS e os seus aliados da geringonça" e lembrou que o partido também não tinha deputados quando foi convidado pelo fundador do PSD Francisco Sá Carneiro a integrar a AD original.

"No PPM sabemos bem o que significa derrotar a hegemonia da esquerda no nosso país", afirmou, dizendo que foi assim em Portugal em 1979, nos Açores em 2020 e também nas últimas eleições autárquicas em Lisboa.

O líder dos monárquicos disse estar nesta coligação para defender os ideais ecológicos, os valores da família, "a mais velha instituição portuguesa", mas também pelos "ideais nacionalistas de um Portugal diverso" - salientando que Portugal "não tem uma só cor" - e por uma sociedade "livre, próspera e solidária".

Na sala, completamente lotada e com muitas pessoas de pé e à porta que não conseguiram entrar, destaque para a presença de alguns notáveis como, por exemplo, dos ex-ministros Leonor Beleza e José Pedro Aguiar-Branco e o presidente da Câmara Municipal do Porto, o independente Rui Moreira.

Dirigentes e antigos dirigentes do PSD como Hugo Soares, Paulo Rangel, Pedro Duarte ou Teresa Morais e do CDS-PP como Pedro Morais Soares, João Almeida ou Hélder Amara foram outras das presenças na Alfândega do Porto.

No texto, reitera-se que este acordo de coligação entre os três partidos incluirá as legislativas de 10 de março e as eleições europeias de 09 de junho, uma aliança "com o propósito de oferecer a Portugal a mudança política necessária e um Governo ambicioso, reformista, moderado estável e maioritário".

O acordo de coligação prevê que o programa eleitoral da Aliança Democrática - que promete uma campanha "pela positiva" - tenha contributos dos três partidos e de personalidades independentes e, sobre lugares, refere apenas que as listas para as legislativas e europeias "serão baseadas na ponderação global dos resultados que os três partidos obtiveram" em anteriores sufrágios, cumprindo a lei da paridade e incluindo independentes.