Dois jovens estudantes universitários congeminaram uma canção de desamor, mas que tinha algo mais a dizer. Quando alguém diz que precisa de sair pelo mundo e voltará quando o vento mudar, afinal, de que estamos a falar? A emigração portuguesa era crescente e o regime reprimia (e pede-se às nuvens que tragam de volta quem partiu). Para a cantar, foi escolhido um cantor negro, oriundo de Os Rocks, conjunto nascido em Luanda e na época já a atuar em Lisboa. A canção participou na segunda semifinal do “IV Grande Prémio TV da Canção Portuguesa”, obtendo logo mais votos do que, designadamente, outras duas vozes negras (Duo Ouro Negro). Na falta de televisão em Angola, a emissão da rádio teve ouvintes que puderam partilhar com a Metrópole as suas preferências, que foram, naturalmente, os concorrentes angolanos. Em Viena, o enviado do “Diário de Notícias” deu conta das esperanças do nosso cantor e da opinião positiva da BBC. No dia do espetáculo, “O Século” noticiou que a cotação da canção portuguesa subira na bolsa das apostas, depois do ensaio geral, e que o cantor recebera propostas de trabalho de agentes musicais de diferentes países. Portugal somaria, apenas, três votos, recebidos de Espanha, Suíça e França. Eduardo Nascimento partilhou a tristeza: “Espero a compreensão de todo o público português” (“O Século”). O vento não agitou os pontos da Eurovisão a nosso favor, mas houve quem sentisse que cá dentro se agitavam cantorias, até porque houve uma versão em inglês (“Listen”) para se entender melhor lá fora.