Guerra na Ucrânia
22 março 2024 às 09h00
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Rússia sobe o tom e já diz que está em “estado de guerra” na Ucrânia

"Começou uma operação militar especial, mas assim que este grupo se formou lá, quando o Ocidente coletivo se tornou um participante do lado da Ucrânia, para nós já se tornou uma guerra”, disse porta-voz do Kremlin.

O Kremlin disse esta sexta-feira que a Rússia está em “estado de guerra” na Ucrânia, o que representa uma grande escalada na linguagem oficial utilizada para descrever o conflito.

“Estamos em estado de guerra. Sim, começou uma operação militar especial, mas assim que este grupo se formou lá, quando o Ocidente coletivo se tornou um participante do lado da Ucrânia, para nós já se tornou uma guerra”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, numa entrevista a um jornal russo pró-Putin. 

Recorde-se que a Rússia sempre apresentou a sua ofensiva contra a Ucrânia como uma “operação militar especial” e proibiu os meios de comunicação social de utilizar a palavra “guerra”, tendo até processo ativistas que usaram a palavra para descrever as ações militares.

Peskov diz que o contexto em que utilizou a palavra “guerra” é diferente do dos casos dos ativistas.

O presidente Vladimir Putin havia afirmado anteriormente que o Ocidente desencadeou uma “guerra híbrida” contra a Rússia, mas limitou-se a chamar o conflito na Ucrânia de uma “operação militar especial”.

A Rússia aprovou leis abrangentes de censura nos dias a seguir ao envio de tropas para a Ucrânia, que lhe permitem enviar os críticos da ofensiva na Ucrânia para a prisão durante vários anos, caso se descubra que espalharam “informações falsas” ou “desacreditaram” as forças armadas.

Mais de 900 processos criminais foram iniciados nos últimos dois anos por oposição ao conflito, de acordo com o grupo de direitos humanos OVD-Info. 

Ataque russo causa pelo menos dois mortos e 14 feridos

As declarações de Peskov acontecem numa altura em que a Rússia lançou um dos maiores ataques aéreos contra o território ucraniano desde o início da guerra, causando pelo menos dois mortos e 14 feridos, segundo as autoridades da Ucrânia.

Num comunicado, o Ministério do Interior ucraniano disse que duas pessoas morreram e oito ficaram feridas num ataque contra a província de Khmelnitsky, no oeste do país, durante a última madrugada.

Numa mensagem publicada na plataforma Telegram, o gabinete do governador da província disse que o ataque causou danos em "infraestruturas críticas" e que as equipas de socorro ainda estão à procura de mais vítimas sob os escombros de edifícios residenciais.

O Ministério do Interior disse que há também seis feridos em Zaporijia, no sudeste da Ucrânia, onde três pessoas estão desaparecidas.

A força aérea ucraniana disse que as defesas antiaéreas foram capazes de abater 55 dos 63 aparelhos aéreos não tripulados (drones) explosivos Shahed, fabricados pelo Irão, e 37 dos 88 mísseis lançados pela Rússia.

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse no Telegram que o ataque teve como alvo principal centrais elétricas, linhas de transmissão de energia e uma central hidroelétrica.

Zelensky disse que as autoridades estão a tentar restabelecer o fornecimento de eletricidade nas regiões afetadas pelo ataque, incluindo Kharkiv e Sumi (nordeste), Odessa (sul), Poltava e Dnipropetrovsk (centro) e Vinitsia e Ivano Frankivsk (oeste).

O governador da região de Kharkiv, Oleg Syniegoubov, afirmou que cerca de 700 mil habitações ficaram sem eletricidade.

O ministro ucraniano da Energia classificou o bombardeamento desta madrugada como "o maior ataque à indústria energética da Ucrânia nos últimos tempos".

O ataque causou o corte de uma das duas linhas de energia que abastecem a central nuclear em Zaporijia, ocupada por Moscovo, anunciou também German Galushchenko.

"Esta situação é extremamente perigosa e ameaça desencadear uma situação de emergência, porque em caso de corte da última linha de comunicação com a rede elétrica nacional, a central nuclear de Zaporijia estará à beira de um novo apagão", alertou a Energoatom, a operadora da central.

O Presidente ucraniano declarou que a Ucrânia precisa de mais sistemas de defesa aérea para "proteger pessoas, infraestruturas, casas e barragens".

"É importante compreender o custo dos atrasos e das decisões adiadas", acrescentou Zelensky, que na quarta-feira tinha pedido ao Conselho Europeu mais sistemas de defesa aérea.

"Os aliados sabem exatamente o que é necessário. E eles podem dar-nos. Estas soluções são necessárias. A vida deve ser protegida", defendeu Zelensky.

O ataque desta madrugada ocorre um dia depois de a Rússia ter lançado mais de 30 mísseis contra a capital ucraniana, Kiev, todos abatidos pelas defesas aéreas.

A maior parte da Ucrânia está menos protegida do que a capital e, como tal, mais vulnerável ao arsenal de mísseis russos.