Espanha
26 abril 2024 às 22h55
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PSOE faz ato de apoio a Sánchez e Feijóo prepara-se para ser alternativa

Reunião do Comité Federal vai ser transmitida em ecrãs gigantes na rua frente à sede dos socialistas, sendo o encontro uma oportunidade de enviar “energia positiva” para o líder.

Os socialistas tinham previsto para este sábado uma reunião do Comité Federal do partido para discutir a lista de candidatos às eleições europeias. Mas diante da surpresa de quarta-feira, quando Pedro Sánchez anunciou que poderá deixar a chefia do Governo, o PSOE transformou esse encontro num grande ato de apoio ao primeiro-ministro. Na sede na Rua Ferraz, em Madrid, haverá ecrãs gigantes para se seguirem os trabalhos, que normalmente decorrem à porta fechada, sendo esperados autocarros com militantes vindos de todo o país.

À espera do que Sánchez possa anunciar na segunda-feira, depois de uma pausa de cinco dias a refletir sobre o futuro, o Partido Popular (PP) prepara-se para ser alternativa. “Estamos preparados para devolver a Espanha o que precisa, uma política à altura dos espanhóis e do grande país que é Espanha. Temos um projeto e além disso temos um presidente [Alberto Núñez Feijóo] que pode ser presidente de Espanha se todos os espanhóis quiserem”, disse a secretária-geral do PP, Cuca Gamarra, num pequeno-almoço organizado pelo jornal ABC. 

O primeiro-ministro surpreendeu na quarta-feira ao suspender a agenda para pensar, depois de o tribunal abrir uma investigação à sua mulher, Begoña Gómez, por suspeita de tráfico de influência e corrupção. Isto na sequência de uma queixa apresentada por um coletivo com ligações à extrema-direita, o Manos Limpias, sendo que ontem outros dois grupos radicais - Hazte Oír  e Liberum - se juntaram ao processo. O primeiro-ministro acusa o PP e o Vox de o quererem destruir pessoal e politicamente. O Ministério Público pediu o arquivamento da queixa inicial, considerando não haver fundamento.

O líder socialista vai anunciar a sua decisão na segunda-feira, sendo que poderá optar por continuar à frente do Governo, submeter-se a uma moção de confiança no Congresso ou decidir simplesmente demitir-se. Neste último caso, o rei Felipe VI pode optar por, após uma ronda de consultas aos partidos, convidar outro socialista a formar Governo, sendo que este tem de passar depois pelo processo de investidura no Congresso. A hipótese de eleições antecipadas está, no imediato, fora dos cenários, já que segundo a Constituição só podem ser convocadas um ano depois da última dissolução das cortes, que foi a 29 de maio do ano passado.

No PSOE, não se coloca outra opção que não seja a continuação de Sánchez à frente do Governo, razão pela qual transformaram a reunião do Comité Federal (órgão máximo do partido entre congressos) num ato de apoio massivo ao primeiro-ministro. Deixaram para terça-feira a decisão sobre as listas de candidatos às europeias de 9 de maio, sendo este sábado apenas confirmada a cabeça de lista Teresa Ribera (atual terceira vice-presidente do Governo e titular da pasta da Transição Ecológica e do Desafio Demográfico).

A ideia do evento do Comité Federal, que vai decorrer em simultâneo com o que esperam ser uma grande manifestação de apoio às portas da sede do partido, será enviar “energia positiva” para Sánchez - que não estará presente. O mote desta campanha, que inundou as redes sociais socialistas, é “Claro que vale a pena” - o primeiro-ministro disse, na “carta à cidadania” que publicou no X que precisava de tempo para “responder à pergunta se vale a pena”. E o hashtag  “Pedro não te rendas”.

Os discursos dos socialistas que vão intervir no Comité Federal, que normalmente decorre à porta fechada, vão ser transmitidos em ecrãs gigantes instalados na rua. E as federações regionais socialistas de todo o país puseram à disposição dos militantes autocarros gratuitos para quem quiser ir até ao ato de apoio a Sánchez em Madrid.

Não são só os socialistas que apoiam o primeiro-ministro. O Sumar, seu aliado no Governo, defendeu que é preciso “travar a deriva antidemocrática” que resulta do assédio de que são alvo os Governos progressistas em todo o mundo. “Um Governo eleito democraticamente deve cumprir o seu mandato”, indicou o partido em comunicado, após um encontro liderado pela segunda vice-presidente do Governo, Yolanda Díaz.

Entretanto, o principal partido da oposição mantém os ataques ao primeiro-ministro. Depois de Feijóo o acusar de “montar um espetáculo de adolescente para que venham atrás dele a dizer para que não se vá e que fique”, ontem foi a vez de o secretário-geral do PP de Madrid passar ao ataque. “Não se pode ter mão de ferro com uma mulher que não pode derrotar eleitoralmente”, disse Alfonso Serrano, referindo-se às inúmeras polémicas em torno da presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso. E, pelo contrário, “tratar com luvas de pelica” o caso que envolve a própria mulher. Serrano disse ainda ironicamente que se Ayuso tivesse tirado cinco dias sempre que foi acusada de alguma coisa, “teria tido um ano sabático”.

Apoio da esquerda mundial a Sánchez

As mensagens de apoio a Pedro Sánchez não chegam apenas de dentro, com vários líderes da esquerda mundial a pedirem também que não renuncie. O presidente brasileiro, Lula da Silva, por exemplo, falou ao telefone com o primeiro-ministro, reiterando que “a sua força e o seu papel são importantes para o seu país, para Europa e para o mundo”. A Internacional Socialista, a que Sánchez preside desde novembro de 2022, também emitiu um comunicado a alegar que os “ataques maliciosos” da direita e da extrema-direita contra ele são “uma estratégia para debilitar a democracia e o Estado de Direito” e instando a não permitir que a difamação prevaleça. Em Portugal, o líder socialista, Pedro Nuno Santos, escreveu no X que teve oportunidade de “transmitir pessoalmente” a Sánchez a sua solidariedade: “A sua liderança contribui ativamente para as ótimas relações entre os nossos países e para uma Europa mais livre, mais justa e democrática.”

susana.f.salvador@dn.pt