50 anos do 25 de Abril
25 abril 2024 às 09h29
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O país “estrangeiro” que não podia “estar sempre em revolução”

Tinha o 25 de Abril dois anos quando se fez a primeira sessão solene no Parlamento, e só em quatro anos não se realizaram. Ao DN, dois dos primeiros a intervir (Manuel Alegre e Helena Roseta) recordam a experiência e quais as grandes lições que se devem retirar da história.

Um “país estrangeiro”, que foi vivido, mas de que Irene Pimentel, historiadora, não se recorda “muito bem”. Depois foi “uma nova vida”, pela qual só pode “agradecer”.

Ainda assim, não se podia “estar eternamente num processo revolucionário”. Muito menos “estar sempre em revolução”. Para isso contribuiu uma outra data: o 25 de novembro, que marcou o princípio do fim do Processo Revolucionário em Curso (PREC), e cujos 50 anos se assinalam no próximo ano. O Governo já anunciou ter intenção de criar uma comissão para organizar celebrações. “É uma sequência do 25 de Abril e a data não deve ser esquecida. Pelo contrário. Deve continuar a ser aprofundada”, diz Irene Pimentel, apesar de recordar que “depois houve bombas do MDLP e foi um período conturbado”.

É por isso “importante assumir a história com todos os contornos que ela teve e recordá-la”, acrescenta Paula do Espírito Santo, investigadora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. “Os 50 anos de democracia já nos deram algum distanciamento e uma tranquilidade diferente para olharmos aos vários marcos históricos que estão ligados à prolongada do 25 de Abril. Os dois primeiros anos, além de recordados, devem ser celebrados”, diz. Afinal, “permitiram que depois se fizesse essa superação revolucionária e se entrasse verdadeiramente em democracia”. Além disso, acrescenta, “também se podiam celebrar as primeiras eleições verdadeiramente livres ou a aprovação da Constituição”, ambas em 1976.

No ano a seguir, realizou-se a primeira sessão solene do 25 de Abril no Parlamento (desde então, só não se fizeram em quatro anos). E desde então há um alguns elementos comuns em discursos presidenciais: “Normalmente, existe sempre uma procura por contextualizar o momento”, que inclui “uma apresentação, uma sequência narrativa” dos acontecimentos de 25 de abril de 1974. Depois, há avisos. Uma discussão “sempre relacionada com a situação económica e política do momento”. A análise é feita por Sara Pita, professora na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e autora do artigo científico Discursos do 25 de Abril: percurso histórico de um género político, que estuda as intervenções de cada Presidente da República desde a primeira sessão solene.

Olhando para os discursos de Marcelo Rebelo de Sousa (que fará a sua nona e penúltima intervenção deste género), a investigadora identifica alguns traços: há sempre uma “parte mais didática”, que inclui “as lições que se devem tirar da história”. No discurso de 2022, “salvo erro, o Presidente fez uma grande dissertação sobre o papel de Portugal no passado e sobre como se devia atuar”. Isto antes de se focar nas Forças Armadas e na sua importância para o país. Algo que deverá voltar a acontecer no discurso desta quinta-feira.

Helena Roseta, uma das primeiras mulheres a discursar numa sessão solene do 25 de Abril, fê-lo por duas vezes. Primeiro, em 1980 (pelo PSD) e, depois, em 2000, pelo PS. Ainda “há poucas semanas” releu as intervenções. A primeira “era muito marcada pelo fim do pacto MFA-Partidos”, a segunda já “completamente diferente”, mais “virada para o início do milénio”. Em 80, “havia uma discordância de fundo em relação ao regime” entre várias fações. Foi, nas palavras da própria Helena Roseta, “um discurso de luta”.

Outro dos primeiros intervenientes foi Manuel Alegre (que falou logo na segunda sessão solene, em 1978). Fez “um discurso que foi aplaudido de pé” por várias bancadas, como recorda ao DN. Com um tema principal, “construir a democracia”, a intervenção foi colhendo aplausos de todos, desde a extinta UDP ao CDS-PP. Em retrospetiva, o histórico socialista considera que “a maior vitória saída do 25 de Abril” é o facto do “período de democracia ultrapassar o de ditadura”. “Não podemos comparar o país de hoje com o de 1974, houve profundas transformações económicas, sociais, políticas e culturais”, reiterou.

O horário das principais comemorações