Com que idade foram presos? Sofreu maus-tratos? Como eram as condições nas prisões? O que sentiram os seus pais quando foi preso? Se soubesse que ia ser preso, teria continuado? Houve um momento pior do que outros? Como era o tribunal em que foi julgado? As mulheres também eram presas? Aperceberam-se de que ia acontecer uma revolta? No 25 de Abril, qual foi a primeira coisa que fizeram? E o que sentiram? Soltaram os presos todos ou só os políticos? Salazar fez alguma coisa boa pelo país?
Os alunos do 9.º e do 12.º anos da Escola Secundária da Ramada quiseram saber como era viver há meio século. Ao longo de três horas, divididas em duas sessões, ouviram, atentos, testemunhos da resistência na voz de quem a viveu: Eduardo Brissos, Humberto Moreira, José Tavares Marcelino e Manuel Glória, da União de Resistentes Antifascistas Portugueses.
“Acabou? Estava a gostar tanto”, dizia-se no final. Já em tempo de descontos, ainda dois braços no ar: “Havia tráfico de droga nas prisões?”, quis saber um aluno. “É verdade que Salazar punha o Benfica a ganhar campeonatos?”, questionou outro. A pergunta agitaria a sala e teria resposta imediata: “Não acreditem nisso. Pensem só que era um regime que proibia o Eusébio de deixar o país.”
Alheia à rivalidade futebolista, uma aluna insistia na descrição das celas da prisão de Peniche. “Depois do que acabei de ouvir, acho que não tinha coragem de lutar contra a ditadura. Se vivesse naquele tempo, tinha tanto medo de viver”, desabafa Vera Almendra, 18 anos.