Deva dizer-se que nós, algarvios, raramente jantávamos fora. Mas já havia restaurantes com muita e merecida fama. A Casa Velha na Quinta do Lago, frequentada sobretudo por clientes que vinham do Hotel da Penha e do Hotel Alvor. A Ruína e o António Catuna, em Albufeira, casas igualmente muito procuradas pelos turistas com maior poder de compra.
A noite era já animada, com muitas discotecas e noites temáticas. Por exemplo, com a participação de ranchos folclóricos, predileção dos turistas. E, claro, muito uísque à mistura, que naqueles anos pedir uma taça de vinho numa discoteca causaria enorme estranheza. Aliás, nem se servia por não ser chique.
Faro e Albufeira eram as grandes ‘movidas’ do Algarve (a zona de Tavira era simpática, mas com turismo residual). Os locais mais chiques eram a Balaia, Vale do Lobo, Albufeira e Praia da Rocha. Recordo com saudade as discotecas KONTIKI, Sherazade, Gemini, Farra. Em Albufeira havia o Sete e Meio, o Pescador e o Silvia’s. A noite começava no Sir Harris Bar.
Era o tempo das loiras suecas e inglesas e eu, jovem e solteiro, não me fazia rogado. A tripulação da companhia aérea sueca costumava ficar no Hotel Faro, onde o meu pai era diretor. Portanto, não era complicado para mim frequentar o bar.
O contraste com as raparigas portuguesas era enorme. Ao recato das nacionais, mesmo das mais rebeldes, correspondia já então uma enorme liberdade sexual, sobretudo das nórdicas.
Naquele tempo, comprava a roupa numa loja simpática e personalizada em Faro. Ou mandava fazer por medida. Raramente ia a Lisboa e quando acontecia não passava dos cafés Suíça, Mexicana, Vavá ou da galeria RITZ, onde se podia comer um snack.
Em março de 1974, já conhecia a Guerra Colonial. Estive 24 meses em Dembos, norte de Angola, uma área altamente militarizada, membro de uma companhia de intervenção que prestava auxílio a companhias em perigo e vigiava a estrada que ia de Carmona a Luanda, a chamada rota do café, para proteção das viaturas. Dois anos de isolamento, no morro, à espera de um ataque ou de irmos para a batalha. Comunicava com a família apenas por aerograma, que chegavam quando chegavam.
Parti de Lisboa no paquete Vera Cruz, às seis da manhã. Os meus pais foram despedir-se de mim. Em Luanda, fui surpreendido pelo desenvolvimento da cidade. Moderna, mais desenvolvida do que algumas capitais de distrito portuguesas. O clima ajudava as pessoas a serem mais abertas.
Desses anos recordo-me de ser um jovem atlético - graças à boa formação física que tive nos anos de Colégio La Salle que tanto me tem ajudado até hoje -, de temperamento muito tranquilo.
Depoimento recolhido por Alexandra Tavares-Teles