08 maio 2016 às 00h51

Sampaio "perplexo" só foi avisado dois dias antes da cimeira

Ex-presidente ficou surpreendido quando soube da cimeira apenas dois dias antes. Na reunião semanal nada lhe tinha sido dito

Rui Pedro Antunes

Já passaram 13 anos, mas a Cimeira das Lajes - que marcou o arranque da Guerra do Iraque - continua a gerar conflitos. Desta vez, opõe Durão Barroso a Jorge Sampaio: o primeiro disse que o então presidente concordou "expressamente" com a realização da cimeira, enquanto o segundo diz ter ficado "perplexo" quando soube em cima da hora da cimeira.

Foi o antigo primeiro-ministro a desenterrar o machado de guerra. Em entrevista ao Expresso, Durão Barroso disse que o então presidente da República Jorge Sampaio concordou com a realização da cimeira. "Foi a única pessoa que eu consultei antes de tomar a decisão final. Depois de me ter sido proposto isso pelos outros países", começou por dizer Barroso.

O ex-presidente da Comissão Europeia foi, no entanto, mais longe e disse que tomou a decisão de avançar para a cimeira "na altura (...) com o apoio do presidente da República de Portugal, o Dr. Jorge Sampaio, que expressamente disse que sim, que concordava. Foi a única pessoa que eu ouvi antes".

Mas a versão do ex-presidente ao DN é diferente (ver entrevista ao lado). Jorge Sampaio explica, no entanto, que sempre pensou que se tratava de uma cimeira de paz e não de uma cimeira de guerra. Segundo o antigo chefe de Estado, o então primeiro-ministro informou-o de "que se tratava da derradeira tentativa para a paz e para evitar a guerra no Iraque, respondi-lhe que, sendo assim, nada havia a opor".

O ex-presidente diz ainda ter ficado "naturalmente perplexo com a súbita emergência daquela questão [realização da cimeira], tanto mais que mantínhamos contactos regulares, se não diários, e que a mesma nunca tinha aflorado, nem sequer na véspera, aquando da nossa habitual reunião de quinta-feira".

Ou seja: o chefe de Estado só foi informado da reunião "dois dias antes de ocorrer". As respostas de Barroso ontem ao Expresso sugeriam, no entanto, uma anuência mais maturada.

Sampaio considera que este até seria "um episódio relativamente secundário, não fora o ter atirado Portugal para uma posição acidentalmente mais em destaque e mais diretamente associada ao apoio à intervenção no Iraque".