21 setembro 2017 às 00h29

Independentes ganham terreno na campanha eleitoral

Maioria é dissidente dos partidos. Há uma pequena percentagem que experimentou a política num movimento de cidadãos

Paula Sofia Luz

"Diziam-me "Volta Narciso, que estás perdoado", e eu voltei." Sentado à mesa do debate que juntou os oito candidatos à Câmara Municipal de Pombal, na terça-feira, no Teatro-Cine da cidade, Narciso Mota justificava assim à plateia o regresso às lides políticas, que culminou com a sua desfiliação do PSD e uma fratura exposta no partido, pelo menos até às eleições.

"A campanha está a correr bem, mas para mim foi muito mais difícil chegar aqui do que em cinco mandatos consecutivos. Os partidos têm a vida facilitada, mas também estão condenados", acredita Narciso Mota, histórico autarca do distrito de Leiria, que à beira dos 70 anos avança como candidato à câmara liderando o Movimento Narciso Mota - Pombal Humano. Leva com ele alguns antigos militantes do mesmo partido, gente que trabalhou com ele no executivo ou nas juntas de freguesia, mas também descontentes de outros partidos.

Nas freguesias, muitas listas contam também com gente que habitualmente integrava as equipas do PS, do CDS e até da CDU. "O partido a que eu pertenci, e onde nunca mais volto, pressionou e ameaçou as pessoas para não aceitarem ir na minha candidatura, mas nós conseguimos", diz ao DN poucos dias depois do jantar em que reuniu cerca de 800 pessoas, no mesmo dia e à mesma hora em que o PSD realizava o mesmo tipo de evento.

Nesse duelo que se trava entre Narciso Mota e Diogo Mateus (seu delfim na câmara, vereador social--democrata durante quatro dos cinco mandatos e agora recandidato) contam-se espingardas. O clima de crispação é notório. Agora que está de outro lado da barricada, o candidato Narciso queixa-se das "exigências que a democracia faz aos independentes, muito mais que aos partidos". Não foi só o processo buro- crático para a apresentação das listas, é também a questão financeira que aponta como discriminatória: "É muito curioso: os partidos aprovaram a limitação de mandatos para os autarcas, mas os dirigentes vão-se perpetuando no poder."

Não muito longe de Pombal, na Marinha Grande, o candidato Aurélio Ferreira tenta a sorte pela segunda vez enquanto candidato à câmara, ao leme do MpM - Movimento pela Marinha. Empresário da terra, fez um mandato bastante ativo na vereação, criou exército, e é apontado como um dos favoritos à vitória. "Está a correr muito melhor do que eu poderia supor. Tem--se juntado muita gente a nós, gente que normalmente não se envolvia na política e se aproximou", garantiu ao DN dias depois de ter reunido "mais de 700 pessoas" num jantar de campanha.

Uma semana antes, o PS (que detém a câmara) juntara no mesmo local "menos gente, tendo em conta que além dos candidatos também lá foi o primeiro-ministro, António Costa. E com jantares a cinco euros, enquanto o nosso custava 10", sublinha Aurélio Ferreira. É nesta altura que o candidato passa a falar também enquanto presidente da Associação dos Movimentos Autárquicos Independentes (AMAI) e põe o dedo numa ferida que, para os movimentos de cidadãos, se chama "IVA a 23%". Ou seja, enquanto os partidos estão isentos, os independentes são "sobrecarregados também com isso". A este propósito, vale a pena destacar o que diz José Manuel Silva, candidato pelo movimento Somos Coimbra: "É uma injustiça tremenda. E é uma prova de como não vivemos em democracia."

Aurélio Ferreira conta como não tem tido mãos a medir entre a sua campanha eleitoral e o apoio aos movimentos associados da AMAI. Muitos não conseguiram chegar às eleições, à conta de divergência de interpretação da lei, nos tribunais. Foi o caso de um movimento em Albufeira, "em que a senhora que o lidera fez tudo da mesma maneira como há quatro anos, e desta vez não foi aceite", relata Aurélio.

Nas campanhas independentes há de tudo. Os candidatos que conseguem sedes de candidatura, material diverso de propaganda, brindes para oferecer, até aos que vão a votos praticamente só por si, quase sem meios. Isso nota-se sobretudo nas candidaturas para as juntas de freguesia. O presidente da AMAI realça, no entanto, como - também no domínio da gestão e organização de meios - os movimentos têm a sua vantagem. "Toda a gente colabora, sem custos, e é mais fácil gerir." No caso do seu MpM, Aurélio Ferreira fez um orçamento que ronda os 50 mil euros para toda a campanha, reportando-se a todas as candidaturas que envergam o símbolo do movimento.

A única sondagem conhecida até ao momento no concelho de Coimbra dá a vitória ao socialista Manuel Machado, mas o antigo bastonário da Ordem dos Médicos acredita, no entanto, estar a encarnar em Coimbra o fenómeno Rui Moreira no Porto, há quatro anos. "Se bem se lembra, as sondagens davam-lhe 11% inicialmente. E ele ganhou as eleições. Nós também vamos ganhar", afirma ao DN, ele que é um estreante nestas andanças e está embalado pelo apoio popular que garante ter. Fala de um cansaço do eleitorado com os partidos.