26 agosto 2015 às 08h37

Montijo apoia aeroporto na base aérea com nova ligação à ponte Vasco da Gama

Adaptar a base aérea do Montijo a aeroporto civil obrigaria a melhorar as ligações rodoviárias e intensificar rede de transportes públicos, defende presidente da câmara da cidade.

Lusa

O presidente da Câmara do Montijo, que apoia as negociações da ANA com a Força Aérea para abrir a base n.º 6 à aviação civil, defende uma nova ligação da Ponte Vasco da Gama para servir a infraestrutura.

Segundo Nuno Canta (PS), para adaptar a base aérea do Montijo a aeroporto civil, em alternativa a Sintra e a Alverca, será importante a articulação com a ponte através de uma nova ligação direta ao Montijo, há muito reivindicada, mas nunca concretizada.

Fonte do Ministério da Economia revelou que "só no início de setembro" deve existir um acordo entre a ANA - Aeroportos de Portugal e a Força Aérea Portuguesa (FAP), que deve ser indemnizada pela empresa controlada pelos franceses da Vinci Airports.

"Já não é a Portela+1, mas uma extensão do aeroporto da Portela", afirmou o presidente da Câmara do Montijo, em declarações à agência Lusa, acrescentando que o aeroporto de Lisboa passa "a funcionar com duas pistas, uma na margem norte e outra na margem sul" do Tejo.

Além da conclusão da circular externa da cidade, com uma "ligação franca ao aeroporto", o autarca defendeu uma nova avenida com ciclovia ao cais fluvial do Seixalinho, para "utilização dos catamarãs da Transtejo como elemento de transporte público da nova infraestrutura aeroportuária até Lisboa".

Num "caderno de encargos" entregue à ANA, para viabilizar a adaptação da base, consta ainda o abastecimento de água e tratamento de esgotos pelos serviços municipais.

O presidente da autarquia admitiu que os impactos na região seriam maiores com a construção de um novo aeroporto em Canha, no Campo de Tiro de Alcochete, com grande parte do território no município do Montijo, confiando numa "gestão eficaz dos danos colaterais no ambiente".

"Neste momento estamos a falar de uma coisa mais reduzida, mas com impacto, na cidade do Montijo e nesta parte do arco ribeirinho sul, muito superior", do ponto de vista económico, frisou, apontando benefícios no turismo também para os municípios da Moita, Barreiro e Alcochete.

O autarca espera que apareçam projetos para "alguns hotéis", fazendo 'regressar' ao século XVIII, quando o Montijo (então Aldeia Galega) era sede do serviço postal da Mala Posta, e também para o desenvolvimento da logística e da indústria na região.

O secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro, já anunciou que o Governo quer assinar, antes do fim da legislatura, um memorando com a ANA, a FAP e as autarquias para o novo aeroporto.

O ministro da Economia, António Pires de Lima, em declarações aos jornalistas a 5 de agosto, esclareceu que o acordo visa aproveitar "ao máximo" a capacidade da Portela, "desenvolvendo em complementaridade a disponibilidade que existe na base aérea do Montijo".

"Acho que todos vamos ficar a ganhar com uma decisão que vai poupar centenas de milhões de euros de investimento, que no final iria sempre recair nos contribuintes e em mais taxas aeroportuárias", vincou Pires de Lima, em comparação com um novo aeroporto para substituir a Portela.

Na base aérea n.º 6 operam aeronaves de transporte, vigilância, busca e salvamento, como o Hércules C-130 e os helicópteros EH-101 "Merlin", prestando também apoio aos helicópteros Lynx MK95 da Marinha.

Numa área com 1.000 hectares existem duas pistas, com cerca de 2.440 metros de comprimento e 45 metros de largura, admitindo-se que, para o uso civil, seja prolongada e repavimentada uma das pistas e construídas instalações aeroportuárias.

No Samouco, às portas da base, já no concelho de Alcochete, a utilização civil da infraestrutura militar colhe opiniões favoráveis, pela promessa de "mais postos de trabalho", disse à Lusa Rute Marques, 35 anos, empregada numa pastelaria da vila.

"Os impactes em si, se formos a ver pelo lado da criação de emprego, vão ser muito bons", reconheceu Miguel Santos, 37 anos, técnico de informática, que apontou, no entanto, a desvantagem constante "do barulho dos aviões", como "já se vê com os testes que andam a fazer".

Na padaria do mercado, Maria Dolorosa, 69 anos, referiu a vantagem "nos lugares de trabalho" e em "mais freguesia" no comércio e no imobiliário.

"É capaz de ser um bocadinho de barulho a mais, acho que sim. Mas não é nada que não se passe, não é? Porque em Lisboa também têm lá [o aeroporto] e vivem lá há tantos anos", notou a comerciante.

Para Guilherme Barbosa, 76 anos, morador na vila, existem vantagens no desenvolvimento do Samouco e desvantagens do ruído, mas como "em todo o lado há barulho" prefere os benefícios da instalação do aeroporto.

A Câmara de Lisboa não respondeu aos contatos da Lusa para esclarecer o processo de expansão do aeroporto da Portela.