25 novembro 2015 às 00h14

Kim manda número 3 do regime para campo de trabalho

Desde que sucedeu ao pai, por morte deste em 2011, o líder norte-coreano baniu uma centena de altos responsáveis políticos e militares. Uns voltaram, outros foram executados

Helena Tecedeiro

Uns dizem que foram as divergências políticas que levaram Kim Jong-un a expulsar o número três do regime norte-coreano e enviá-lo para um campo de trabalho. Outros dizem que foi para castigar Choe Ryong-hae, que considera responsável pelo deslizamento de terras que causou danos na central hidroelétrica de Paekdu. A verdade é que um relatório dos serviços secretos sul-coreanos, ontem apresentado no Parlamento em Seul, garante que o secretário do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte foi mesmo levado para uma quinta onde deverá passar uns tempos em reabilitação.

Segundo os deputados sul-coreanos, as maiores divergências entre Kim, de 32 anos, e Choe, de 65, estavam ligadas às políticas de Pyongyang em relação aos jovens. Mas a gota de água que terá levado Kim Jong-un a banir um dos mais alto quadros do Partido dos Trabalhadores e figura do regime terá sido a fuga de água provocada pelo deslizamento de terras que atingiu a central hidroelétrica do monte Paekdu (aquele onde, reza a lenda, terá nascido Kim Jong-il, pai de Kim Jong-un, ao qual este sucedeu em 2011). Lançado em 2002, o projeto para uma barragem e central em Paekdu levou as autoridades norte-coreanas a mobilizar milhares de jovens para ajudar nos trabalhos, que estavam sob responsabilidade de Choe Ryong-hae. Estes ficaram terminados em outubro passado, a tempo das celebrações dos 70 anos do Partido dos Trabalhadores.

Filho do histórico guerrilheiro e antigo ministro da Defesa Choe Hyon, Choe Ryong-hae entrou para o Partido dos Trabalhadores em 1967, tendo mantido um percurso discreto até à morte de Kim Jong-il, quando foi apontado como peça-chave para a ascensão de Kim Jong- -un ao poder. Promovido a vice-marechal, em 2013 foi o enviado de Pyongyang à China, maior aliado do regime norte-coreano. E no mês passado Choe esteve presente na cerimónia de encerramento dos Jogos Asiáticos na Coreia do Sul.

A especulação sobre o afastamento do cargo de Choe subiu de tom depois de este ter faltado ao funeral, no início deste mês, de Ri Ul-sol, um histórico político e marechal norte-coreano. O governo anunciara a presença de 170 altos responsáveis do regime nas cerimónias e Choe não estava entre eles.

Castigo temporário

Os analistas estão convencidos de que este desaparecimento de Choe pode ser apenas temporário. "Não é assim tão grave. Se fosse a sério, ele teria sido morto", explicou à CNN Andrei Lankov, da universidade Kookmin, em Seul. Afinal já houve casos que confirmam esta teoria. Como o de Jang Song Taek, tio de Kim Jong-un que caiu em desgraça várias vezes, tendo voltado ao cargo depois. Até ser executado, em dezembro de 2013, por ter "agido contra o Estado".

Segundo a televisão sul-coreana KBS World, nos quatro anos desde que chegou ao poder, Kim Jong-un já terá banido uma centena de altos responsáveis do partido, do governo ou do exército norte-coreanos. Um número que multiplica por dez as purgas realizadas pelo seu pai no mesmo período de tempo, revelou uma fonte do canal.