03 fevereiro 2016 às 00h16

Cruz e Sanders têm 7 dias para convencer no New Hampshire

Senador republicano do Texas bateu Donald Trump no Iowa. Do lado democrata, senador do Vermont perdeu por pouco para Hillary.

Helena Tecedeiro

Eram 05.00 da manhã de ontem quando Bernie Sanders embarcou num avião para o New Hampshire. No Iowa ainda se contavam os votos que acabariam por dar uma curtíssima vitória a Hillary Clinton nos caucus democratas da véspera, mas o senador do Vermont já estava com os olhos postos no estado onde no dia 9 se realizam umas primárias agora ainda mais decisivas. É que o autoproclamado socialista democrático aposta no fator casa - representa o vizinho Vermont - para desta vez ganhar e acabar com a inevitabilidade da candidatura da ex-primeira-dama às presidenciais de 8 de novembro.

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Tarefa mais difícil tem Ted Cruz. O senador do Texas foi o homem da noite no Iowa ao vencer os caucus republicanos e contrariar todas as sondagens que o colocavam atrás de Donald Trump na corrida à nomeação do partido para a Casa Branca. Mas no New Hampshire o evangélico Cruz tem sete dias para convencer um eleitorado mais urbano, mais moderado e bem menos religioso do que o do Iowa.

Rodeado da mulher e das duas filhas pequenas, Cruz saudou uma "vitória dos conservadores corajosos". Filho de um cubano e de uma americana, o senador do Texas viu o nascimento no Canadá ser usado contra ele por Trump na campanha. Mas no momento de votar, os eleitores do Iowa parecem ter castigado o milionário e estrela do reality show The Apprentice que se notabilizou na campanha pelas declarações polémicas - seja sobre os imigrantes mexicanos, as mulheres ou os muçulmanos. No final da noite, Trump comentou o resultado com um contido: "Acabámos em segundo lugar e devo dizer que me sinto honrado."

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Considerado como o grande derrotado da noite, é verdade que Trump quebrou o feitiço que parecia ter lançado sobre o eleitorado. Resta saber como se vai agora portar no New Hampshire. Para muitos analistas, o Iowa foi um deslize na corrida de Trump para a nomeação republicana, mas não foi o fim do sonho presidencial do magnata. A revista Slate garantia em título: "Trump ainda não está morto". E explicava que o Iowa "nunca foi terreno favorável para o populismo" do milionário, acrescentando que este "tem mais apelo junto das classes trabalhadoras das áreas rurais do Sul profundo e no Nordeste, mais secular". Segundo a revista, o New Hampshire é mais propício a uma vitória do magnata. As sondagens confirmam-no, com a última da CNN a dar-lhe 30% das intenções de voto, contra 12% para Cruz.

Mas as sondagens por vezes enganam-se. Como se viu no Iowa. Além disso, a escolha dos nomeados de cada partido às presidenciais americanas é um processo longo, que passa por todos os estados organizarem primárias. Cada candidato vai acumulando delegados que depois se juntam nas convenções dos partidos, marcadas para julho. Dali sai o nomeado (geralmente o vencedor é conhecido bem mais cedo, com um dos candidatos a ter tamanha vantagem em termos de delegados que já garantiu a nomeação) que depois vai disputar com o nomeado do partido adversário as eleições de novembro.

Num país com mais de 320 milhões de habitantes e estados tão diversos como Nova Iorque, Texas ou Minnesota, prever o vencedor quando apenas um votou é claramente prematuro. Mas o Iowa e o New Hampshire, por serem os primeiros, não só atraem todas as atenções como ajudam a definir tendências. E causam baixas. Foi o caso de Martin O"Malley. O ex-governador do Maryland não chegou a 1% dos votos no Iowa e suspendeu a candidatura, deixando os democratas numa corrida a dois. Do lado republicano, o ex-governador do Arkansas Mike Huckabee foi nono nos caucus e também desistiu.

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Surpresa Rubio e desilusão Bush

O primeiro a cantar vitória no Iowa foi Marco Rubio. O senador da Florida foi terceiro, mas pisou os calcanhares a Trump, ficando a apenas um ponto do milionário. Em palco, entre música e abraços da família, não faltou quem visse na celebração de Rubio semelhanças com o democrata Bill Clinton, que, em 1992, tendo ficado em segundo no New Hampshire, se definiu ali como o comeback kid, relançando uma campanha que o levaria à Casa Branca. Perante dois adversários sem medo das palavras e conhecidos por não temerem desafiar o partido, o jovem senador espera agora conquistar o voto do establishment e dos republicanos mais moderados.

A tarefa de Rubio pode ficar mais fácil se se confirmar o descalabro de Jeb Bush. O antigo governador da Florida, que entrou na corrida à nomeação republicana como um dos favoritos, ficou em sexto nos caucus do Iowa, confirmando mau momento da sua candidatura. Filho e irmão de presidentes, Bush não se dá, no entanto, por vencido e ontem no New Hampshire recordou a sua experiência como governador, sublinhando o sucesso dos cortes nos impostos que criou na Florida. Se vai chegar para recuperar, ninguém sabe, mas não seria o primeiro a perder no Iowa e conseguir a nomeação, basta pensar em John McCain, que em 2008 não passou no quarto lugar nos caucus.