28 outubro 2016 às 00h19

Campanha de Trump é a maior inimiga dos seus negócios

Afluência nos hotéis e campos de golfe do republicano está a diminuir desde junho de 2015, principalmente em estados democratas

Ana Meireles

Donald Trump empresário e Donald Trump candidato presidencial juntaram-se esta quarta-feira quando o primeiro esteve em Washington para inaugurar o seu mais novo hotel. Esta não é a primeira vez que o republicano alia negócios e campanha, mas a verdade é que a saúde das empresas do adversário de Hillary Clinton está a sofrer com a sua aposta na carreira política, apesar de a família Trump dizer o contrário.

"Na realidade acho que a marca está mais apelativa do que nunca. Vemos isso em todo o lado. Estamos a construir hotéis em todo o país, em todo o mundo. Estamos a fazer coisas boas", disse à Fox News Eric Trump, um dos filhos do empresário, durante a inauguração do Trump International Hotel. Segundo a Forbes, Donald Trump terá uma fortuna que ronda os 3,7 mil milhões de dólares (cerca de 3,3 mil milhões de euros).

Mas mesmo este hotel de luxo de 263 quartos que Trump inaugurou agora em Washington, mas a funcionar desde setembro, já teve melhores dias. Segundo um artigo publicado há duas semanas pela New York Magazine, os preços dos quartos têm sido gradualmente reduzidos para menos de 500 dólares (cerca de 458 euros), quando na verdade a tarifa de precisa de ser de pelo menos 750 dólares para o hotel ser um negócio rentável. E todos os hotéis à volta, refere a mesma publicação, estão esgotados com semanas de antecedência.

Durante o verão, antes de entrar em funcionamento, o Trump International Hotel já tinha sofrido o seu primeiro revés, quando os famosos chefs José Andrés e Geoffrey Zakarian abandonaram o projeto por causa dos comentários racistas contra os imigrantes mexicanos feitos por Donald Trump em julho.

Estas desistências foram uma dor de cabeça para a família Trump, que viu uma sucessão de conhecidos chefs se recusarem a dar o seu nome ao restaurante do hotel. O negócio acabou por ser entregue à cadeia de restaurantes BLT, solução longe do prestígio que daria um chef.

Pelo meio, realizaram-se vários protestos contra Trump à porta do hotel e, já este mês, a fachada do edifício foi vandalizada com graffitis.

Prejuízos na Escócia

Trump já realizou vários eventos de campanha aliados aos seus negócios desde que anunciou a candidatura a nomeado dos republicanos, em junho do ano passado. Na terça-feira, parou no seu clube de golfe Trump National Doral, na Florida, aproveitando para mostrar que dá emprego a muita gente. Em julho deste ano, viajou até à Escócia para inaugurar um resort de golfe.

Aliás a aposta de Donald Trump na Escócia é mais um negócio que não está a correr bem. O The Guardian noticiou há duas semanas, baseado nas contas da empresa, que o republicano já perdeu 26 milhões de libras (cerca de 29 milhões de euros) na construção do seu império do golfe em terras escocesas.

Segundo informações recolhidas pelo The Guardian, Trump investiu mais de 102 milhões de libras (cerca de 113 milhões de euros) do seu dinheiro em Aberdeenshire e Turnberry e as previsões apontam que nunca conseguirá obter lucro em nenhum dos dois. Facto que a família desmente, dizendo que Turnberry dará lucro a curto ou médio prazo.

Marca sem nome próprio

No geral, de acordo com dados recolhidos pela Bloomberg, vários empreendimentos de Donald Trump, incluindo os seus hotéis e campos de golfe, perderam no último ano 14% dos seus clientes. Um dos problemas, vários peritos disseram ao mesmo site, é que o seu eleitorado está longe de ter o poder de compra do cliente típico dos negócios do republicano.

Em 2010, apenas 5% das marcas eram vistas como mais "glamorosas" que os negócios de Trump pelas pessoas com rendimentos anuais superiores a 150 mil dólares (cerca de 137 mil euros). No ano passado, a marca Trump tinha caído um terço.

Uma sondagem da BAV Consulting mostrava em janeiro que o valor da marca Trump estava a "colapsar" aos olhos das pessoas com rendimentos anuais superiores a 100 mil dólares. Um maio, um outro estudo de opinião feito pela Skift, mostrava que 57% dos entrevistados se sentiam menos propensos a ficar num dos hotéis do republicanos por causa da sua campanha.

E com o passar do tempo, os dados pioram para os negócios de Trump. Em agosto, o site Foursquare concluiu que a afluência nos hotéis, casinos e campos de golfe do candidato republicano tinha diminuído em valores que rondam os 17-20% desde o início da campanha, em junho de 2015. Especialmente nos Estados democratas e entre as mulheres desses Estados.

Também em agosto, dados divulgados pelo site de viagens Hipmunk mostravam que as reservas nos hotéis Trump tinham caído 59% no primeiro semestre deste ano quando comparado com o mesmo período de 2015.

Já este mês, a empresa de estudos de mercado Morning Consult fez uma pesquisa nacional e concluiu que quatro em cada dez eleitores norte-americanos disse que a campanha de Trump tornava "menos provável" comprarem bens da sua marca. Apenas 17% disseram ser "mais provável". De referir também que 46% garantiu que não ficaria num hotel Trump e 63% afirmou que não frequentaria um campo de golfe do republicano.

A marca de roupa de Ivanka, a filha mais velha do candidato, que tem sido alvo de um boicote online com a hashtag #GrabYourWallet, também recebeu nota negativa nesta sondagem: seis em cada dez mulheres responderam que não comprariam.

Talvez ciente do quanto a campanha está a ser prejudicial para os negócios (apesar de toda a família o negar), Trump anunciou em setembro que a sua próxima marca hoteleira se chamará Scion. Uma estratégia inédita para o homem que nas últimas décadas batizou todos os seus empreendimentos com o seu nome.

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