19 setembro 2009 às 01h00

A minha mãe é campeã

Nem ela estava à espera disto: no primeiro torneio de 'grand slam' em que competiu, 18 meses após ser mãe, a tenista  belga jogou melhor do que nunca e venceu com naturalidade

MARIA JOÃO CAETANO

Domingo, 13 de Setembro, 23.00. Já passava da sua hora de dormir, mas Jada aguentou-se sem birras para ver a mãe vencer o Open dos Estados Unidos. No final, a felicidade de Kim Clijsters rivalizava com a expressão deliciosa da filha de 18 meses, surpreendida por ver-se nos ecrãs gigantes do Arthur Ashe Stadium e rodeada pelos flashes dos fotógrafos. Aos 26 anos, 27 meses depois de ter abandonado a competição para se dedicar à família, a tenista belga tornou-se a primeira mãe a vencer um torneio do grand slam desde que em 1980 Evonne Goolagong Cawley foi campeã em Wimbledon. A vitória foi ainda mais surpreendente se pensarmos que este foi apenas o terceiro torneiro disputado por Clijsters desde que decidiu voltar aos courts.

Kim Clijsters nasceu em 1983, aos 14 anos tornou-se jogadora de ténis profissional e seis anos mais tarde chegou a número 1. Esteve vários anos entre as melhores tenistas mas, em 2006, começou a ser atormentada por várias lesões, até que, em 2007, anunciou que ia deixar o ténis para casar com o basquetebolista norte-americano Bryan Lynch. Em Fevereiro de 2008 tiveram a sua primeira filha, Jada.

Em Fevereiro deste ano, depois da morte do pai, que tinha sido também seu treinador, Clijsters voltou a treinar, apenas com o objectivo de participar numa exibição em Wimbledon mas, ao sentir a adrenalina do campo e da competição, ela decidiu regressar lentamente a jogar. "A ideia era fazer apenas alguns jogos este ano, para entrar no ritmo, e só no próximo ano regressar ao circuito", contou a tenista. Mas tudo se precipitou quando, aceitando o convite da organização do US Open, Clijsters foi passando, ronda após ronda, com uma naturalidade incrível, tendo chegado à final como grande favorita.

"Não acredito que aconteceu tudo tão depressa", comentava Clijsters após entrar no ranking directamente para um impressionante 19º lugar. "Claro que este é um objectivo quando se regressa. Eu não queria voltar apenas para jogar mas para voltar ao lugar onde estava e melhorar aquelas que eram as minhas maiores fraquezas. Mas nunca esperei que as coisas corressem tão bem e tão rapidamente. Foi arrasador."

É notório que Clijsters está em forma e continua uma excelente jogadora, em todos os aspectos técnicos e tácticos. Mas o que fez a diferença nos seis jogos que disputou em Nova Iorque foi acima de tudo a sua maturidade psicológica que lhe permitiu manter a calma e o discernimento mesmo nos pontos mais complicados - algo que foi particularmente visível no jogo com Serena Williams. Na sua carreira, Kim Clijsters perdeu muitos jogos devido à incapacidade para lidar com a pressão, daí o facto de, apesar de estar constantemente entre as melhores, apenas ter ganho um torneio de grand slam. Mas algo mudou. Como dizia, no final do torneio, a derrotada jogadora dinamarquesa Caroline Wozniacki: "Ela já conquistou aquilo que queria e agora está a jogar pelo prazer de jogar."

Clijsters reconheceu que, ao longo do torneio, foi percebendo que tinha mais controlo sobre o seu corpo, quer em termos físicos quer emocionais. Os nervos de antigamente desapareceram. No domingo, antes da final, em vez de rever os seus jogos, anotando erros e correcções, Kim Clijsters sentou-se com a família em frente da televisão para ver o filme de animação A Idade do Gelo. "Ser mãe é a melhor coisa do mundo", disse, após a vitória. Por agora, a tenista pretende continuar a jogar mas já avisou que este regresso tem um prazo de validade curto pois Jada precisa de um irmão para brincar.

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