20 maio 2017 às 00h22

Portugal ataca Campeonato do Mundo. É possível chegar ao terceiro título?

O grupo é aparentemente acessível. Apesar de ser uma equipa muito jovem, não falta qualidade para tentar repetir êxitos de 1989 e 1991

André Cruz Martins

Venezuela e Alemanha dão hoje, às seis da manhã portuguesas, o pontapé de saída em mais uma edição do Campeonato do Mundo de sub--20, que pela quarta vez consecutiva conta com a presença de Portugal. Para a equipa das quinas, a ação começa amanhã, às 06.00, frente à Zâmbia, o primeiro de três rivais no grupo C: os outros são a Costa Rica (quarta-feira) e o Irão, no dia 27.

Desde os títulos da famosa geração de ouro comandada por Carlos Queiroz, em 1989 e 1991, Portugal chega sempre com um estatuto a defender a esta competição - reforçado mais recentemente com nova presença na final, em 2011, na Colômbia (dessa vez perdida). Além disso, depois de alguns anos com resultados aquém das expectativas por parte das nossas seleções jovens, os últimos tempos ficaram marcados pelo ressurgimento de excelentes gerações, como ficou por exemplo demonstrado pelo título de campeão da Europa de sub-17, alcançado no ano passado.

De resto, esta é das seleções mais jovens de sempre de Portugal em fases finais no escalão de sub-20, pois são seis os jogadores campeões da Europa de sub-17 (hoje com 18 anos) que fazem parte das escolhas do selecionador Emílio Peixe, ele próprio um ex-campeão do mundo de sub-20, em 1991: Diogo Dalot, Diogo Costa, Gedson Fernandes, Miguel Luís, Luís Maximiano e José Gomes, com este último a ser eleito o melhor jogador e marcador da competição, com sete golos apontados.

Poderiam fazer parte dos convocados os consagrados Rúben Neves e Renato Sanches, bem como João Carvalho e Rui Pedro, ambos com experiência de I Liga, mas os quatro já alcançaram outros patamares competitivos e aproxima-se o Campeonato da Europa de sub-21... Nos eleitos de Emílio Peixe, só três contam já com minutos de jogo na I Liga: o benfiquista José Gomes (21 minutos), o vimaranense Xande Silva (109) e o bracarense Xadas (93).

Carlos Dinis, antigo selecionador nacional nos escalões jovens, tem a "convicção profunda de que Portugal pode ter uma excelente participação neste Mundial", elogiando "o crescimento do futebol jovem no país, tendo como base uma organização cada vez mais profissional e de excelência da FPF".

Sobre o grupo às ordens de Emílio Peixe, cuja esmagadora maioria esteve no último Europeu de sub--19, caindo aos pés da França nas meias-finais, aponta "a experiência de boa parte dos atletas na II Liga, competição de grande competitividade e com equipas matreiras, isto além dos jogadores do Benfica que alinharam na Youth League". No entanto, reconhece que seria preferível "ter um ou outro jogador mais com experiência de I Liga, competição que dá sempre outro grau de maturidade".

Elogiando as capacidades do selecionador nacional, Carlos Dinis não se furtou a fazer alguns destaques individuais na nossa equipa. "Penso que o Diogo Gonçalves pode explodir nesta prova. Trata-se de um extremo de grande capacidade, que pode provocar desequilíbrios, e acho que vai aproveitar esta competição para mostrar toda a sua qualidade. Temos duas excelentes opções para as laterais da defesa, o Diogo Dalot, do lado direito, e o Pedro Empis, do lado esquerdo. Por outro lado, o Rúben Dias é um excelente central, que transmite grande segurança e, claro, não nos podemos esquecer do José Gomes, avançado de grande qualidade", aponta. Lamenta, no entanto, a ausência de Buta, ponta-de-lança do Benfica que foi substituído por Hélder Ferreira (V. Guimarães), devido a lesão.

Apesar de reconhecer que "a grande diferença horária [mais oito horas na Coreia do Sul em relação a Portugal Continental] poderá trazer alguns problemas, bem como o clima, que favorece as equipas asiáticas", afiança que "tal será ultrapassado, até porque a equipa viajou atempadamente para o Oriente [estagiou no Japão desde 10 de maio] de modo a prevenir essas questões".

Numa competição curta como o Mundial, costuma-se dizer que o primeiro jogo é decisivo, mas Carlos Dinis não concorda totalmente. "É importante, mas ainda há hipóteses de reversão em caso de um mau resultado, pois passam os dois primeiros classificados de cada grupo e os quatro melhores terceiros. Os jogadores necessitam, no entanto, de apresentar um grande rigor tático em todos os momentos, sob pena de serem surpreendidos pelos adversários, que têm qualidade".

Ao contrário do habitual, este Mundial não conta com a participação do Brasil, sempre tido como um grande candidato à vitória. Também a campeã Sérvia não logrou a qualificação, sendo a quinta vez consecutiva que o detentor do título não consegue apresentar-se para defender o cetro.

A França, com a base da equipa campeão europeia de sub-19, a Alemanha e a Argentina são as grandes favoritas à vitória, com Portugal a integrar um segundo lote de candidatos, juntamente com a Itália e o Uruguai. Mas isto, já se sabe, é a teoria e muitas vezes surgem grandes surpresas nas fases finais dos escalões jovens.

TESTEMUNHOS

O DN contactou um jogador de cada uma das três gerações anteriores de sub-20 portugueses que chegaram à final do campeonato do mundo (em 1989, 1991 e 2011) e eles contam como olham para esta seleção atual.

Paulo Alves: "Só podemos pensar em atingir a final"

Paulo Alves, campeão em Riade, acredita numa boa prestação portuguesa na Coreia do Sul. "Conheço boa parte dos atletas, pois foram meus adversários nesta temporada na II Liga. Têm muita qualidade e um futuro brilhante pela frente", sustenta. Alerta, no entanto, para "a necessidade de os jogadores terem um espírito muito solidário, envolvendo-se num objetivo comum com a equipa técnica". Mas aponta alto: "Dado o estatuto que Portugal já atingiu, só podemos pensar em atingir a final e tentar ganhá-la." O atual treinador do Penafiel aponta Diogo Gonçalves, o extremo do Benfica, como um nome a destacar. "Tem muita qualidade e pode sobressair. Mas também gosto muito do Yuri Ribeiro e do Pedro Rodrigues. Mas mais importante do que as individualidades, será uma boa organização coletiva", realça. Paulo Alves concorda com o discurso cauteloso de Emílio Peixe, que assegura pensar apenas jogo a jogo e, antes de mais, passar o grupo. "Não é uma situação comparável com o que sucedeu com Fernando Santos na seleção A, que prometeu a chegada à final. No caso dos sub-20, estamos a falar de jovens jogadores, e tudo o que seja retirar-lhes alguma pressão dos ombros é positivo", refere.

Rui Bento: "Jogadores preparados para dar uma boa resposta"

Rui Bento, campeão do mundo em Lisboa, destaca a qualidade da equipa portuguesa que vai disputar a competição deste ano. "É um grupo que tem construído o seu trajeto desde os sub-15, tendo tendo estado presente em todas as fases finais. Estes futebolistas já perceberam claramente o que é a exigência de representar a seleção nacional e estão preparados para dar uma boa resposta na Coreia do Sul, em termos táticos, mas também a nível de comportamentos e de postura", refere. O atual selecionador nacional de sub-16 lembra que o mais importante nas seleções jovens "é fornecer jogadores à equipa principal ao mesmo tempo que se vai ganhando, o que felizmente tem acontecido com esta geração, como se viu nos bons resultados alcançados e nas promoções de Renato Sanches e Rúben Neves", sublinha. Rui Bento elogia a postura cautelosa de Emílio Peixe. "Concordo em absoluto com ele. Temos de pensar jogo a jogo e não vale a pena fazer grande futurologia. Não se pense, no entanto, que isto traduz uma equipa sem ambição. Traduz, sim, um grupo muito realista, que sabe da necessidade de passar sucessivas etapas até se deparar com a possibilidade de ganhar alguma coisa",diz.

Luís Ribeiro: "Essencial é ter um grupo unido e coeso"

Luís Ribeiro foi um dos convocados portugueses para o Mundial de sub-20 de 2011, no qual a equipa nacional foi finalista vencida, perdendo para o Brasil no prolongamento, por 3-2. O guarda-redes do Estoril sublinha que "ter um grupo unido e coeso é essencial nestas grandes competições", garantindo que foi essa qualidade que permitiu que Portugal chegasse longe na prova realizada na Colômbia, há seis anos. Luís Ribeiro realça que os jogadores "estão pelo menos um mês longe de Portugal e das suas famílias, o que não é fácil, e por isso é necessário construir o tal espírito de grupo, pois vão ver as mesmas caras todos os dias". Assumindo não ter um grande conhecimento sobre a atual seleção nacional, não duvida "da grande qualidade dos jogadores, a avaliar pelos resultados que têm sido alcançados". De resto, em face do passado recente das seleções jovens, Luís Ribeiro sentiu uma mudança na abordagem dos nossos adversários. "Anteriormente, as outras seleções não viam Portugal como uma equipa capaz de chegar à final e vencer os Campeonatos da Europa e do Mundo. Isso mudou e atualmente qualquer equipa olha para nós como um dos favoritos", destaca.