01 dezembro 2016 às 11h44

Sampaoli traçou caminho de sucesso em cima de uma árvore

Há 20 anos trabalhava como caixa de um banco e orientava um clube da IV Divisão. A conquista da Copa América deu-lhe notoriedade e hoje dá cartas na Liga espanhola pelo Sevilha.

Gonçalo Lopes

Jorge Sampaoli, 56 anos, é um dos treinadores da moda. Depois de ter conquistado a Copa América pelo Chile, em 2015, o técnico argentino está agora a mostrar serviço em Espanha, no Sevilha, atual segundo classificado da Liga espanhola com os mesmos pontos do poderoso Barcelona, e a seis do líder Real Madrid. Uma história de sucesso que começou em 1996... em cima de uma árvore a dar indicações.

Da IV divisão argentina à I Liga espanhola foram 20 anos. Sampaoli chegou esta temporada ao país vizinho quando era cobiçado por meio mundo. O primeiro teste de fogo foi logo diante do Real Madrid, na Supertaça Europeia. Sampaoli começou logo por apostar no modelo que mais gosta, o 3x3x1x3. E esteve quase a enganar Zidane e Ronaldo, mas um golo de Sergio Ramos, aos 90+3", levou o jogo para prolongamento, quando o Sevilha vencia por 2-1. No tempo extra, o Real acabaria por vencer por 3-2.

Os métodos e as ideias estavam lá, mas faltava, entendia o argentino, jogadores para interpretarem o seu modelo de jogo. A direção do Sevilha acedeu ao pedido e chegaram Ganso, Vietto, Mercado, Nasrim, entre outros. Depois de um arranque em falso, com mais duas derrotas com o Barcelona, agora para a Supertaça de Espanha, e com uma aposta entre o sistema que mais gosta e um 4x3x3, Sampaoli estabilizou a equipa e chegou ao segundo lugar da Liga espanhola, ao mesmo tempo que o seu nome vai sendo frequentemente apontado a grandes emblemas europeus.

Mas o trajeto até aqui não foi fácil. Em 1996, Sampaoli dirigia o clube do seu coração, o Atlético Alumni, da região de Santa Fé, da IV Divisão argentina. Num momento acalorado da partida, o treinador foi expulso e acabou por subir a uma árvore, ao lado do relvado, mas fora do estádio, de onde conseguia ver o jogo e dar indicações aos seus futebolistas. A história correu por toda a Argentina e o Newell"s Old Boys decidiu contratá-lo para a sua equipa filial, o Belgrano Arequito. E foi definitivamente aqui que arrancou a sua carreira de treinador, pois até então conciliava o futebol com o trabalho de caixa num banco. No Belgrano decidiu apostar definitivamente no sonho que sempre teve: ser treinador a tempo inteiro.

O seu grande mentor era o compatriota Marcelo Bielsa, um dos grandes defensores do sistema tático 3x3x1x3. E foi também com este método que começou a dar nas vistas no Peru, para onde rumou no início do novo milénio. Não ganhou títulos nos sete anos em que ficou neste país da América do Sul, mas fez o suficiente para receber convites do Chile, o país, segundo o próprio, pelo qual se "perdeu de amores". Primeiro aceitou o desafio de orientar o O"Higgins, mas foi no Universidade do Chile, entre 2010 e 2012, que colocou definitivamente o seu nome na história do futebol chileno, e mundial, vencendo três campeonatos e uma Taça Sul-Americana.

Os seus feitos não passaram despercebidos à Federação chilena, que em 2012 lhe ofereceu o cargo de selecionador. O desafio era claro: levar a seleção ao Mundial do Brasil, em 2014, e vencer uma Copa América. Alcançou ambos, sendo que no Brasil não passou dos oitavos-de-final da prova, vencendo posteriormente a Copa América em 2015. Os alicerces que deixou na equipa levaram ainda o Chile a repetir o feito em 2016, pela mão do selecionador Juan Antonio Pizzi.

O divórcio entre Sampaoli e a federação chilena ocorreu em janeiro deste ano. Tudo porque alguns detalhes do seu contrato foram tornados públicos, alguns deles pouco claros, como a tributação dos seus vencimentos e prémios pagos nas Ilhas Virgens Britânicas. O treinador pagou a multa de rescisão, de dois milhões de euros, e ficou livre. Livre mas com muitos interessados. Primeiro bateu-lhe à porta a federação argentina, a quem ele tinha vencido a final da Copa América de 2015, mas o acordo não foi possível. Optou pelo Sevilha, para substituir no cargo Unai Emery. Além do segundo lugar na Liga espanhola, está a um pequeno passo de apurar a equipa para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões.