20 agosto 2017 às 00h38

"Quero ser campeão da Europa e do mundo o maior número de vezes"

Tiago Ferreira festejou há uma semana mais um título de maratonas. O grande sonho é que esta vertente vire modalidade olímpica

André Cruz Martins

Era o título que faltava a Tiago Ferreira e para o qual se preparou afincadamente ao longo dos últimos meses. O ciclista português sagrou-se campeão europeu de maratonas BTT (XCM) no passado dia 13, numa prova disputada em Svit, na Eslováquia. Mais um feito numa brilhante carreira que fica marcada por primeiros e segundos lugares nas últimas quatro grandes provas internacionais, leia-se Campeonatos do Mundo e da Europa. Em 2016, foi campeão mundial e vice-campeão europeu, invertendo as conquistas em 2017: campeão europeu e medalha de prata mundial.

"Faltava-me ser campeão da Europa e felizmente consegui agora. Este título e o de campeão do mundo são sempre muito difíceis de alcançar, pois estou em competição com os melhores do mundo, mas sem dúvida que o circuito de Svit favorecia as minhas características. Em primeiro lugar, por ser muito longo, com um total de 134 km. Por outro lado, porque tinha 4206 metros de desnível acumulado, com subidas acentuadas contínuas", começa por referir ao DN.

O experiente ciclista de 28 anos é um poço de força e superação, para além de exímio trepador. Cumpriu esta prova superdesgastante em 5h40m12s, bem à frente do segundo classificado, que demorou mais 3.37 minutos a cortar a meta. E contou com a preciosa ajuda do compatriota Luís Leão Pinto. "Ele esteve no comando da corrida até ao início da subida maior. Fizemos grande parte do percurso juntos, mas por volta dos 90 km isolei-me e não mais larguei o comando", conta, destacando as adversas condições atmosféricas que encontraram, "com um frio de rachar e muito nevoeiro nas zonas mais altas".

Depois de alcançados os títulos de campeão do mundo e de campeão da Europa, a pergunta é lógica: o que lhe falta ainda conquistar? "É muito simples, obviamente continuar a lutar por estes grandes títulos. Se já os ganhei cada um por uma vez, agora tenho o objetivo de ser campeão da Europa e do Mundo o maior número de vezes possível", assume.

Um dos seus sonhos, mas de difícil concretização, é conquistar uma medalha olímpica, algo que não depende unicamente dos seus méritos, pelo simples facto de as maratonas BTT ainda não serem uma modalidade olímpica. "Não faço ideia se essa possibilidade existe para os próximos anos. Há inúmeros atletas que já manifestaram esse desejo, mas tudo depende da UCI (União de Ciclismo Internacional) e, claro, do Comité Olímpico Internacional", sublinha.

Tiago Ferreira esteve presente nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, no ano passado, mas na vertente de cross country (XCO). Ou seja, num circuito de terra que possui um alto nível de subidas e descidas técnicas, com os ciclistas a darem várias voltas, cumprindo, no máximo, entre 30 km e 40 km. Já as maratonas BTT realizam-se em estrada e têm percursos muito mais longos. "A minha experiência no Rio de Janeiro não correu nada bem, pois tive de abandonar com problemas técnicos, depois de ter pedalado cerca de 3 km com um furo na roda da frente. Obviamente que não me sinto tanto à vontade como nas maratonas, mas participar nuns Jogos Olímpicos é sempre marcante para qualquer atleta, e, por isso, se as maratonas BTT continuarem a não ser aceites, participarei com todo o gosto em cross country, caso consiga a qualificação e com o objetivo de alcançar um melhor resultado do que no ano passado", confessa.

A sua preferência pelas maratonas deve-se ao facto de "serem provas muito mais duras, que chegam a durar seis horas ou mais, enquanto em cross country nunca passam da hora e meia".

Críticas aos automobilistas

Para se apresentar em condições perfeitas na competição, o ciclista português segue um duríssimo esquema de treinos, "com sessões diárias que podem chegar às seis horas". O facto de viver em Viseu acaba por o beneficiar, pois está perto das serras da Estrela e do Caramulo, onde costuma pedalar. Tiago Ferreira só lamenta o desrespeito dos automobilistas. "É raro o dia em que não tenha alguma chatice. Infelizmente, em Portugal os condutores não respeitam os ciclistas e só pensam neles próprios. Nunca cheguei a ter um acidente, mas já lá estive perto", diz.

Tiago Ferreira destaca, no entanto, a evolução que o ciclismo tem tido no nosso país, com cada vez mais pessoas a pedalarem nas estradas, apesar desta convivência pouco amigável com os automobilistas. E saúda "o aparecimento de cada vez mais atletas federados de BTT".