02 dezembro 2016 às 00h05

Campeãocoense vai mesmo receber a Taça depois do luto

Clube vai cumprir o sonho das vítimas de ir à Libertadores. Casagrande pede a reformados para ajudarem e Ronaldinho está recetivo

Isaura Almeida

A Chapecoense vai ser declarada campeã da Taça Sul-Americana. A Conmebol já tomou a decisão, mas o anúncio só será feito daqui a uns dias, depois das cerimónias fúnebres dos jogadores que morreram na queda do avião na Colômbia, prevista para amanhã, e de estarem resolvidos alguns problemas burocráticos.

Como ter o OK da FIFA, da Federação de Futebol da Colômbia e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Mas, de acordo com fontes citadas pelo GloboEsporte.com, ninguém acredita que a decisão possa sofrer alterações junto de qualquer entidade. Isso mesmo deve ser dito por Infantino, líder da FIFA, que vai estar nas cerimónias fúnebres, em Chapecó.

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O que significa que a equipa fica assim automaticamente apurada para a fase de grupos da Taça Libertadores de 2017. Falta ainda saber como fica a situação do Atlético Nacional, o adversário dos brasileiros na final e os primeiros a pedir que o título fosse entregue à Chape.

Os atos de solidariedade e compreensão para com o drama chapecoense sucedem-se. O Santa Fé, detentor da Taça Sul-Americana, decidiu doar o troféu ganho ao clube que viu o sonho de a conquistar interrompido na terça-feira, a caminho da final, na Colômbia.

E, no Brasil, o Atlético Mineiro decidiu faltar ao jogo da última jornada do Brasileirão, com a Chapecoense, "em respeito pela dor". Isto depois de se saber que o líder da confederação brasileira tinha ligado a Ivan Tozzo, o presidente em exercício da Chape, a pedir para irem a jogo e que fosse "uma grande festa" de homenagem. Mesmo que jogassem os juniores...

Mas o Atlético, adversário, resolveu o assunto ao decidir falhar o jogo. "Nós acreditamos no desporto, respeitamos a dor, e não é o momento de jogar. O Atlético não irá. A a perda dos três pontos é o mínimo que podemos fazer pelos familiares, pela cidade e pelo país que está a sofrer", defendeu Daniel Nepomuceno, presidente do clube mineiro. Pouco depois, também a equipa de Chapecó anunciou que não iria marcar presença.

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A polémica tragédia do Inter

Após o acidente, a CBF decretou luto oficial de sete dias e adiou a última ronda do Brasileirão - os jogos de domingo passaram para dia 11. A alteração não agradou a Fernando Carvalho, do Internacional, clube que luta para não descer de divisão: "Temos a nossa tragédia particular, que é fugir do rebaixamento. Adiamento vai ser prejudicial."

Uma declaração que irritou o Brasil, ao comparar a tragédia que vitimou 71 pessoas com o drama do Inter. Depois fez o mea culpa e viu horas mais tarde todo o plantel do Internacional pedir à CBF que anule por completo a última ronda - o Palmeiras já foi campeão no domingo. "Gostaria de deixar bem claro, por uma questão de respeito, que não teríamos condições de jogar", desabafou o médio Alex, passando depois a palavra ao presidente: "Não pode mais ter futebol em 2016. A perda é muito grande, mas ficamos sujeitos às ordens da CBF."

Jogadores reformados no Chape?

Casagrande, internacional brasileiro que jogou no FC Porto, lançou ontem um apelo a ex-jogadores, na tentativa de ajudarem na reconstrução da equipa: "Era legal se os jogadores que se aposentaram recentemente e estão em forma assumissem o compromisso de jogar pela Chapecoense, sem ganhar nada. É uma ideia."

Ainda antes deste apelo, Roberto Assis tinha aberto a porta à possibilidade de Ronaldinho Gaúcho integrar o novo projeto do Chapecoense. "No que depender de nós, vamos ajudar. Não sei se se com um jogo ou um vínculo. Emociona ter o nome lembrado para ajudar e faz-nos pensar. Estamos aqui e queremos ajudar", disse o irmão e agente do ex-Barcelona, amigo de Biteco, um dos 19 jogadores que morreram no acidente.

Avião sem combustível na queda

Já havia suspeitas, mas, ontem, as autoridades de aviação da Colômbia confirmaram que o avião que transportava a equipa brasileira, e que caiu perto do aeroporto em Medellín, não tinha combustível. "Podemos garantir com toda a certeza que a aeronave não tinha combustível no momento do impacto e, por isso, foi aberto um processo de inquérito para determinar o motivo", disse o secretário da Aviação Civil da Colômbia, Fredy Bonilla.

A falta de combustível já tinha sido referida na conversa do piloto com a torre de controlo, momentos antes da queda, e é a hipótese que ganha consistência para explicar um dos maiores acidentes da história do futebol mundial.