Salvador Sobral põe Portugal na final do Festival da Eurovisão

O tema Amar pelos Dois, interpretado por Salvador Sobral, vai levar Portugal à final da Eurovisão no próximo sábado
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Portugal está na final do Festival Eurovisão da canção. A final decorre no próximo sábado em Kiev, na Ucrânia. Portugal passa à final com mais nove países. Esta noite atuaram representantes de 18 países. Salvador Sobral interpretou o tema Amar pelos Dois perante uma sala em silêncio.

Hoje foram apurados os seguintes países: Azerbaijão, Moldávia, Grécia, Suécia, Polónia, Arménia, Austrália, Chipre e Bélgica, para além de Portugal.

A final é disputada no sábado por representantes de 26 territórios: os 20 qualificados nas semifinais, os denominados 'Cinco Grandes' (França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido) e o país anfitrião (Ucrânia). A segunda semi-final decorre na quinta-feira.

O tema Amar pelos Dois, composta por Luísa Sobral, venceu a 06 de março a final do Festival da Canção, que decorreu no Coliseu dos Recreios em Lisboa e foi disputada por oito canções.

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Com a canção Amar pelos Dois, Portugal regressa à Eurovisão, após um ano de ausência, onde se estreou em 1964. A melhor classificação portuguesa no concurso foi um sexto lugar em 1996, com a canção O meu coração não tem cor, interpretada por Lúcia Moniz. A última vez que Portugal competiu numa final do Festival Eurovisão da Canção foi em 2010.

Nunca viu um festival da canção

Aos 27 anos, Salvador Sobral está onde nunca julgou estar. Ele que nunca viu nenhuma edição do festival da canção - "Sabia que existia mas estava muito longe" - e que admite que não tem qualquer empatia com aquilo a que se costuma chamar "música festivaleira", é apontado pelos especialistas como um dos favoritos à vitória. Com uma canção que foge a todos os estereótipos, escrita pela irmã, a também cantautora Luísa Sobral.

Salvador Sobral canta desde pequeno, em casa, incentivado pela família. A primeira vez que atuou em público foi aos 8 anos, numa festa da escola. Não se lembra o que cantou mas é provável que tenha sido um fado. Aos 10 anos, poucos se lembram, mas participou no concurso da SIC Bravo, Bravíssimo onde interpretou O Negro do Rádio de Pilhas, de Rui Veloso. Estudou no colégio dos Salesianos e depois no liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, em Lisboa. "Sou um beto que saí da caixa", explicou em entrevista à Notícias Magazine. "Não gostava de discotecas, não acompanhava os meus amigos - eles queriam beber e andar à porrada e eu não gostava disso. Com as miúdas, também não tinha muito jeito nem sorte."

Foi uma namorada que o inscreveu no Ídolos, o concurso da SIC. Salvador tinha 18 anos e jogou-se de cabeça. Apresentou-se ao público cantando For Once in My Life, de Stevie Wonder, e depois I Got a Woman, de Ray Charles - dois dos seus músicos preferidos. Chegou aos oito finalistas mas acabou por ser eliminado. O stress causado pela televisão e pelo reconhecimento público acabou por ser demais para o jovem. "O objetivo daqueles programas é entreter as pessoas, a música não é importante", explicou mais tarde. Isolou-se. A relação que tinha na altura não sobreviveu. Parou de cantar. "Fiquei maluco e tive de ir para Espanha."

Voltou à música em 2011 quando estava em Maiorca, onde fazia Erasmus em Psicologia. Na altura os seus planos eram especializar--se em Psicologia do Desporto. Mas começou a atuar em bares e hotéis e percebeu que podia ganhar dinheiro a fazer algo que lhe dava prazer. "Era duro cantar das 8 da noite à meia-noite e meia mas compensava. A ilha é linda, todas as noites tocava (cantava) em hotéis e só pensava "vou ficar aqui o resto da minha vida". Mas depois veio o inverno maiorquino e foi duro porque não se passava nada. Achei que tinha de fazer alguma coisa." Mudou-se para Barcelona e foi estudar jazz na Taller de Musics. Foi lá que descobriu Chet Baker e que aprendeu muito do que hoje sabe sobre música e que considera essencial. Frequentador do Hot Club, é um apaixonado pelo jazz: "É uma conversa entre os instrumentos, temos de ouvir os outros e tem uma grande componente de improvisação. Como na vida."

No ano passado, Salvador lançou o seu primeiro disco, intitulado Excuse Me, em que quase todas as composições são suas e do venezuelano Leonardo Aldrey. Um dos temas, I Might Just Stay away, é da irmã. Tencionava continuar a digressão e depois começar a pensar num outro disco. Mas os planos acabaram por ser alterados pela participação no Festival RTP da Canção.

Ele não queria voltar a participar em concursos na televisão. Tinha ficado traumatizado com o Ídolos. Foi a irmã, Luísa Sobral, quem lhe telefonou a dizer que tinha feito uma música e queria que ele cantasse. Salvador percebeu que este ano o festival teria músicos como Samuel Úria, Márcia ou Pedro Silva Martins e ficou a pensar no assunto. "Ela mandou-me a música. Achei-a lindíssima, não dava para dizer não."

Acabou por ganhar. "Ao princípio foi um bocadinho caótico, não só lá fora como interiormente", contou à Grande Entrevista, da RTP, referindo-se às reações à sua vitória, mas também às questões que se colocou: "O que é isto que eu estou a fazer?"

A debater-se com graves problemas cardíacos, Salvador não gosta de falar sobre a doença. "Tenho muito mais coisas boas do que más. Esta doença que tenho é um problema pequenino na minha vida, na verdade será o único problema que tenho. Mesmo se não resolúvel totalmente é possível lidar com ela", disse a Daniel Oliveira no programa Alta Definição. Para se defender, saiu do Facebook e do Twitter, não lê os comentários aos seus vídeos no YouTube. "Isto passa. Daqui a uns tempos as pessoas vão-se esquecer e vão ficar os fãs da minha música, que são os me interessam."

Também por causa da doença, aprendeu a viver um dia de cada vez. Hoje está feliz. Se conseguir passar esta meia-final, irá estar sábado na final da Eurovisão. Gostava de viajar pela América do Sul, de viver em Paris. "Lançar discos e ser feliz, é o que quero. E ter saúde."

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